'Atitude de Trump é ilegal e enfraquece OMC', diz Ricupero
Ao falar da divulgação de dados de inflação, ele disse que "o que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde." Hoje, Ricupero avalia que o sistema político está muito mais corrompido e em desintegração.
Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Estamos assistindo ao início de uma guerra comercial?
Não há dúvida de que o presidente Trump começou uma guerra comercial, baseada na ameaça. Mas é preciso separar as atitudes de Trump contra a China das que foram tomadas contra o Brasil.
Elas têm efeitos diferentes?
São de naturezas diferentes. No caso das tarifas que ele aumentou sobre o aço e o alumínio, alegando ser uma questão de segurança nacional, a intenção é forçar os países exportadores, como o Brasil, a negociar algum tipo de acordo, o que hoje em dia é ilegal, mas já se praticou muito nos anos 1980. Esses acertos são chamados de "acordos voluntários", de restrição de exportação. O país aceita restrições só para não ser retaliado.
E contra a China?
Ele quer diminuir o déficit comercial com a China. E há também uma disputa sobre propriedade intelectual. É uma tentativa de conter as exigências de investimentos e cessão de tecnologia, associação com empresas e mesmo cópia e roubo. Os chineses delinearam uma agenda para dez áreas de ponta - como robótica, supercomputadores, inteligência artificial - em que pretendem atingir a supremacia até 2025. Uma forma de adquirir tecnologia é comprar empresas ou obrigar quem se instala lá a ceder tecnologia. A própria Embraer teve problemas.
Essa postura surpreende?
Isso não tem nada de novo. Naquele livro que ele escreveu (ou que outros escreveram por ele), A Arte da Negociação, está dito que o que ele busca é ser imprevisível, criar um conflito e dizer ao adversário que o problema vai acabar assim que a outra parte oferecer alguma vantagem em troca. Mas esse tipo de atitude é ilegal e enfraquece as regras da Organização Mundial do Comércio.
A siderurgia brasileira deve perder muito?
Alguns grupos do Brasil nessa área há muito tempo investiram comprando usinas americanas. Quem tem mais a perder é quem não investiu nos Estados Unidos. O setor não é inteiramente unido. É claro que eles vão dizer o contrário, mas tem um grupo que não está se sentindo tão ameaçado.
Como o sr. avalia o primeiro ano do governo Trump?
A maior contribuição que ele deu até agora é a reforma tributária, que reduziu a incidência de imposto, sobretudo sobre grandes empresas. Por enquanto, está ajudando a acelerar o crescimento. Só que em um prazo maior, dificilmente compensará a perda de receita.
A relação entre Brasil e Estados Unidos deve mudar?
Hoje, a maior parte da agenda dos Estados Unidos tem pouca ligação com a do Brasil. A nossa é, em grande parte, voltada para o desenvolvimento, não tem muita ligação com questões geoestratégicas.
Seu livro mais recente, 'A Diplomacia na Construção do Brasil', relata grandes momentos do Brasil no exterior. A diplomacia brasileira se apequenou?
O Brasil ficou sem uma grande projeção, porque esse elemento do soft power, que vem do prestígio, sofre quando um país mergulha em uma crise - e o Brasil está longe de sair dela. Ainda que, em termos econômicos, haja sinais positivos, a crise do sistema político é preocupante. Basta ver as notícias recentes (da ação da Polícia Federal contra amigos do presidente Michel Temer). Como um País nessa situação vai ter grande projeção? Nem acho que a culpa seja do governo, mas é a situação histórica pela qual o Brasil passa.
Em 1994, o sr. deixou o Ministério da Fazenda após ter feito um comentário infeliz. Em períodos recentes, o alto escalão do governo vem sendo alvo de denúncias graves. O que mudou?
No meu caso, foi um deslize verbal. Esses outros casos são crimes. E eles se mantêm, porque o sistema está muito mais corrompido hoje. O sistema já dá sinais de esgotamento, na dimensão da corrupção, na repetição dos ilícitos com intervalos cada vez menores, no colapso da segurança pública e nas finanças de alguns Estados, no assassinato da vereadora Marielle Franco e no atentado contra a caravana do ex-presidente Lula. Não são fatos isolados. Há a possibilidade de uma reação, pelas eleições, se elas resultarem em um presidente e em um Congresso conscientes da necessidade de reformas. Isso pode ajudar o sistema a se regenerar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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