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Caminhoneiros começaram a reclamar em 2017, mas governo Temer ignorou

Fernando Nakagawa, Tânia Monteiro e Vera Rosa

Em Brasília

26/05/2018 08h08

Uma sequência de reclamações ignoradas pelo governo e um acordo costurado de última hora em meio a trapalhadas políticas pararam o Brasil. Desde outubro de 2017 os caminhoneiros têm se queixado ao Planalto, mas, sem dinheiro e com outras preocupações, o governo deixou o tema de lado até que a paralisação começou. Quando a negociação foi iniciada, nesta semana, o governo ofereceu parte dos pedidos, mas o movimento já era maior que os líderes, e o acordo foi ignorado pelas estradas.

Com os preços do combustível ajustados quase diariamente pela Petrobras, que segue a cotação do petróleo no mercado internacional (em alta constante), os mais de 1 milhão de autônomos começaram a sofrer achatamento da renda. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, recebeu a primeira reclamação formal de duas entidades em 5 de outubro. Caminhoneiros dizem que foram ignorados.

Para piorar, a desvalorização do real potencializou o fenômeno. Assim, em 14 de maio, Padilha e o presidente Michel Temer (MDB) receberam nova carta. Dessa vez, com ameaça: "Caso não tenhamos apoio deste governo federal, uma paralisação será inevitável". Sem resposta, caminhoneiros convocaram greve para a última segunda-feira.

O movimento começou forte e teve mais de 100 pontos de manifestação naquele dia. O governo reagiu e convocou uma reunião com as principais entidades um dia depois do início do movimento.

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No Planalto, a avaliação é que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) falhou ao não prever o alcance da greve, que instalou caos no país. Sob condição de anonimato, fontes criticaram o fato de a agência não ter informado Temer de que o movimento, ao contrário dos anteriores, vinha com tanta força.

A agência não alertou sobre a previsão de desabastecimento. O governo avaliou que o diferencial, neste caso, e que também não foi detectado pela inteligência, foi o apoio dos empresários do setor aos caminhoneiros.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, refuta que a Abin tenha falhado.

Os mais de dez grupos de caminhoneiros chegaram sem um discurso único. Havia a reclamação comum do diesel, mas muitos traziam pautas distintas. Para o governo, essa pauta sem foco era um sinal de alerta do problema da pulverização dos trabalhadores.

Para tentar mostrar protagonismo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pré-candidato à Presidência, correu e aprovou na Câmara, na quarta-feira, um projeto para zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel, com projeções erradas do custo aos cofres públicos. Maia contrariou Temer e irritou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).

"Infelizmente, as palavras do presidente Temer estão tendo pouca credibilidade com a sociedade", disse Maia na sexta-feira sobre o não cumprimento do acordo.

Apesar da dificuldade financeira, o governo conseguiu costurar um pacote de medidas. Não houve dinheiro para reduzir o preço do diesel em até R$ 0,80, como pedido. O governo acenou com a redução de alguns impostos para reduzir o preço, mas muitas das medidas ainda precisam de aprovação do Congresso.

A Petrobras concedeu um desconto de 10% no diesel por 15 dias. O governo ampliou esse prazo por mais 15 dias, e criou uma câmara de compensação para subsidiar o preço até o fim do ano.

Mesmo com governo, Petrobras e Câmara cedendo aos pedidos dos caminhoneiros, eles mantiveram a paralisação e coagiram o Planalto em busca de uma redução ainda maior no preço do diesel. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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