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Para empresariado, discurso de Guedes foi 'música para os ouvidos'

Adriana Fernandes, Idiana Tomazelli, Monica Scaramuzzo, Cleide Silva e Renée Pereira

Brasília e São Paulo

04/01/2019 09h55

O discurso de posse do novo ministro da Economia, Paulo Guedes, prometendo controle rígido das despesas e reforma da Previdência animou os investimentos, mas motivou aviso de uma das categorias de que entrar em confronto com o funcionalismo "não é uma boa estratégia" a ser adotada.

Além da promessa de acelerar o ajuste, o que mais empolgou na fala de Guedes foi a diretriz dada de reduzir o tamanho do Estado e o peso dos impostos. O que se espera agora é que o governo Bolsonaro e o Congresso apoiem as diretrizes de Guedes e aproveitem o capital político pós-eleição para avançar com o Plano Guedes.

"Guedes colocou as coisas que são as necessidades do Brasil. São fáceis de fazer? Não são. Se fossem, já teriam sido feitas", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. Segundo ele, Guedes tem de levar rapidamente as medidas adiante porque o capital político de início de mandato se esgota em pouco tempo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifar), Vicente Abate, disse que agradou a declaração de Guedes na direção de uma carga tributária de 20% do Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente do grupo Votorantim, João Miranda, afirmou que Guedes foi preciso no diagnóstico, assertivo nas soluções propostas e corajoso no chamamento à responsabilidade dos três Poderes com respeito às necessárias reformas. "No improvável cenário de não aprovação da reforma da Previdência, o ministro foi de uma clareza avassaladora: caberá ao Congresso avaliar esse dilema real em profundidade", disse.

Na avaliação de Eduardo Fischer, copresidente da construtora MRV, o discurso de Guedes atende aos anseios do empresariado. "Tudo o que ele falou era exatamente o que eu queria ouvir."

O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, avaliou que o discurso reflete os anseios da sociedade. "A população está preocupada com o desemprego, com a desigualdade social e com o fim da crise institucional." Para ele, as reformas anunciadas pelo ministro (administrativa, fiscal e tributária, previdenciária e patrimonial) são essenciais para devolver a competitividade da economia brasileira. "Precisamos de agilidade; ninguém aguenta mais seis anos de crise."

Redução de custos

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, vários pontos citados por Guedes soaram como "música para os ouvidos do empresariado". Ele cita, por exemplo, a proposta de simplificação da cobrança de tributos e medidas de redução de custos para dar maior competitividade às indústrias.

Apesar do entusiasmo do empresariado, o representante de uma das categorias que entraram na mira de Guedes por receber as "maiores aposentadorias", a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), afirmou que entrar em confronto com as categorias não é uma boa estratégia a ser adotada pelo ministro da Economia. "Todos sabemos que é necessário algum tipo de reforma da Previdência, não há por parte da Ajufe oposição à ideia de reforma. Mas é necessário que o debate seja feito de forma mais adequada e sem criar esse discurso dos privilegiados", disse o presidente da Ajufe, Fernando Mendes.

Guedes afirmou na posse que o sistema previdenciário no Brasil é uma "fábrica de desigualdades" e que "quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias, e a população, as menores". Para Mendes, esse discurso "não está totalmente correto" porque servidores que ingressaram a partir de 2013 estão sujeitos ao teto do INSS, assim como os trabalhadores do setor privado.