Tecnologia puxa para baixo a indústria, que já está em recessão
Na indústria de transformação, o mau desempenho foi puxado pelo parque fabril de alta intensidade tecnológica, que possui maior produtividade e elevado encadeamento com outros segmentos da economia. A produção desse segmento despencou 12,5% no primeiro trimestre de 2019 em relação a igual período do ano anterior, depois de já ter registrado uma queda de 1,5% no quarto trimestre de 2018.
"Parte do setor farmacêutico (queda de 10,6%) pode estar sendo puxado pela restrição do gasto público, pela redução nas compras para hospitais e serviços de saúde públicos. Mas o problema do complexo de eletroeletrônicos é demanda. O crédito não tem melhorado, o desemprego continua alto, e a renda não está conseguindo ganho substancial, o que explica também a redução no nível de confiança dos consumidores", justificou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi e responsável pelo estudo.
Risco. Nenhum ramo industrial da faixa de alta intensidade tecnológica conseguiu crescer em 2019. O segmento ainda convive com o avanço da penetração de insumos importados, com risco de desarticulação dessas cadeias produtivas.
"Essas atividades são a porta de entrada para as novas tecnologias, é importante que resistam, para assegurar o papel que o Brasil ainda desempenha no mundo. Esse setor de alta intensidade entrar em crise é fechar uma janela, significa que nossos problemas de competitividade e produtividade ficarão ainda maiores", alertou Cagnin.
Outros desafios à indústria de transformação brasileira no cenário atual são a desaceleração do comércio internacional, o acirramento da concorrência com países asiáticos, a crise na Argentina e a perda prolongada de produtividade, completou José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria subiu 0,8 ponto porcentual entre abril e maio, para 75,3%, mas o movimento foi acompanhado pelo acúmulo de estoques indesejados, segundo os dados da Sondagem da Indústria, apurados pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
"A confiança age de forma redutora do crescimento. Precisa de alguma notícia favorável, seja de reforma ou de outro campo, que possa mudar essa dinâmica", disse Aloisio Campelo Junior, superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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