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Bolsonaro desiste de afrouxar teto e equipe econômica tenta apressar ajustes

Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes durante a cerimônia de posse - Ueslei Marcelino/Reuters
Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes durante a cerimônia de posse Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Adriana Fernandes, Mateus Vargas e Idiana Tomazelli

Brasília e Fortaleza

06/09/2019 07h01

Um dia após ter defendido o afrouxamento na emenda do teto de gastos - instrumento de política orçamentária que proíbe que as despesas cresçam acima da inflação de um ano para o outro -, o presidente Jair Bolsonaro foi convencido pela equipe econômica a desistir da ideia. "Seria uma rachadura em um transatlântico", disse nesta quinta-feira, 5, o presidente. Na quarta-feira, 4, o porta-voz da Presidência havia afirmado que Bolsonaro defendia o abrandamento do teto.

Em conversa com o presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acertou que sua equipe vai negociar com o Congresso uma "calibragem" apenas nas normas para o acionamento dos chamados "gatilhos". Previstos na regra do teto, eles são mecanismos que permitem ao governo reduzir despesas obrigatórias, por meio de medidas como suspensão de aumentos salariais dos servidores, da concessão de benefícios e de reajustes de despesas acima da inflação, inclusive do salário mínimo.

Hoje, do jeito que a emenda do teto foi aprovada, o acionamento dos gatilhos não é tecnicamente viável. Isso porque há uma contradição nas regras vigentes: pela norma, um gatilho só pode ser acionado após estouro do teto. Ao mesmo tempo, a lei define que o presidente pode ser responsabilizado criminalmente caso o teto de gastos seja descumprido. Diante disso, a equipe de Guedes tentará garantir o acionamento antecipado das medidas de ajuste, sem que seja preciso estourar o limite de gastos.

Além de tentar destravar o uso dos gatilhos, a equipe econômica trabalha em outras medidas para reduzir, em pelo menos R$ 10 bilhões, as despesas obrigatórias, como pessoal e Previdência, e abrir espaço no teto de gastos. Essa abertura permite aumentar a margem para os chamados gastos discricionários (não obrigatórios, como despesas com o custeio da máquina e investimentos).

Em Fortaleza, o ministro Paulo Guedes garantiu que o governo e o Congresso estão prontos para "resolver o problema" fiscal do País. Para o ministro, os congressistas "entenderam a armadilha em que caíram" e estão com um diálogo maduro sobre a necessidade de reformas fiscais no País. "A armadilha do gasto obrigatório encurralou a classe política inteira", disse.

Ele criticou os altos salários de servidores e citou o gasto com pessoal como um dos que pressionam as despesas. "O teto de gastos é um aviso dizendo o seguinte: não pode furar o teto mais. Então nós preferimos propor no pacto federativo o controle das despesas em vez de simplesmente furar o teto. Porque furar o teto é o que fazemos há 40 anos, e não deu certo."

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, confirmou ao Estado que a área técnica do governo está preparando medidas para reduzir as despesas obrigatórias - que respondem por 96% do Orçamento - e garantir o acionamento antecipado das medidas de ajuste. "A causa do problema é o crescimento das despesas obrigatórias, que avançaram R$ 200 bilhões em três anos". Segundo ele, nesse ritmo, não vai haver "espaço para mais nada".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.