Fraca, indústria nem vai atrás de crédito
Para esse levantamento, a CNI ouviu 1.770 indústrias em todo o País. Por trás do alto índice de empresas que não buscaram crédito no começo de 2019 estão os custos elevados das operações e a própria fraqueza da economia brasileira, que inibe investimentos.
"Entendemos que as empresas foram desestimuladas. Elas não sentiram necessidade de pedir a renovação ou contratar um novo crédito, porque as condições não eram adequadas para o negócio", avalia o economista Flávio Castelo Branco, gerente executivo da unidade de Política Econômica da CNI.
Segundo ele, isso ocorreu porque o custo do empréstimo era alto ou porque os negócios na indústria não estavam em um ritmo mais intenso, que exigisse financiamentos.
O levantamento da CNI mostra que os juros elevados cobrados pelos bancos são o principal problema apontado pelas empresas. Em operações de curto prazo, 80% das indústrias citaram o juro como uma dificuldade. Em segundo lugar, aparece o prazo reduzido da operação de crédito, com 36% das citações.
Nas linhas de longo prazo, entre as dificuldades apontadas pelas indústrias para obtenção de crédito estão os juros elevados, com 76% de citações, e a exigência, pelos bancos, de garantias reais para fechar um empréstimo, com 46% das menções.
Para o economista da CNI, os números indicam que a queda da Selic (a taxa básica de juros) nos últimos anos ainda não chegou totalmente às empresas na ponta final do crédito.
A Selic vem recuando no Brasil desde outubro de 2016, quando estava em 14,25% ao ano. No mês passado, o Banco Central anunciou um novo corte da taxa, para 5,50% ao ano - o menor patamar da série histórica.
Os números do BC mostram que, de fato, desde outubro de 2016, quando começou a queda da Selic, as taxas cobradas de empresas também recuaram. Naquela época, a taxa média de juros em operações com pessoas jurídicas estava em 30,4% ao ano, considerando o chamado crédito livre - aquele que não utiliza recursos da poupança e do FGTS. Em agosto de 2019 - dado mais recente -, o juro médio já estava em 18,9%.
Ainda assim, o custo de financiamento para as empresas é considerado elevado. "Como o spread no Brasil é alto, essas taxas de juros ainda são muito superiores para as empresas ao que é verificado em outros países", pontuou Castelo Branco. O spread representa a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrado da empresa na ponta final.
Fraqueza econômica
Especialista no mercado de crédito, a economista Isabela Tavares, da Tendências Consultoria Integrada, avalia que os juros no País, apesar da queda recente, ainda estão em níveis altos na comparação com outros países. Além disso, o crescimento da economia segue fraco, o que limita a busca por crédito por parte das empresas, como sugere o levantamento da CNI. "E ainda temos a incerteza, que se relaciona muito com o ambiente político", afirma Isabela. "Isso limita o investimento por parte das empresas."
Após apresentar forte retração de 2014 a 2016, a produção industrial cresceu 2,5% em 2017 e 1,0% em 2018 no Brasil. Para 2019, porém, as estimativas do mercado financeiro já apontam para uma nova queda, de 0,65%.
Para Castelo Branco, as dificuldades da indústria passam pela baixa produtividade, em um ambiente de problemas tributários do País, dificuldades de logística, burocracia em excesso e alto custo para se financiar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.