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PIB deve contrair 6,5%, com queda expressiva de serviços, diz coordenadora da FGV

Vinicius Neder

Rio

18/06/2020 12h39

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encolher 6,5% em 2020 por conta dos efeitos da pandemia de covid-19 na atividade, segundo as projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Para além da retração recorde, a coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, chama atenção para o fato de a queda na atividade ser puxada pelo setor de serviços e pelo fato de que a redução do consumo das famílias poderá ser permanente, dificultando uma recuperação rápida mais à frente.

"Haverá uma queda muito expressiva em serviços. Historicamente, nunca vimos queda de serviços com essa magnitude", afirmou Silvia, em palestra durante o "II Seminário de Análise Conjuntural", que ocorre neste momento em transmissão ao vivo na internet, numa parceria com o Estadão.

Segundo a pesquisadora, as projeções do Ibre/FGV sugerem quedas de 10% no comércio e de 14% no segmento de "outros serviços" em 2020 - e essas atividades respondem por 50% da mão de obra empregada no País, ainda que com muitos trabalhadores informais.

Por isso, o impacto sobre o consumo das famílias tende a ser "perene", o que sugere que a recessão levará mais tempo. Ainda que a queda da massa total de rendimentos, isoladamente no segundo trimestre, seja atenuada pelos auxílios e antecipação de benefícios por parte do governo federal como forma de apoiar financeiramente as famílias, deverá ter "fortes" quedas no terceiro e no quarto trimestre, mesmo que os pagamentos sejam mantidos no segundo semestre. E haverá pressão política para postergar os benefícios, mas se eles forem postergados por muito tempo "vamos ter crise fiscal".

"Agora, temos que ressaltar que, além de pandemia, com efeitos no mercado de trabalho e na atividade econômica, temos uma crise política", afirmou Silvia, completando que, por causa de problemas internos, como a crise política e o desequilíbrio fiscal, a recuperação da economia brasileira poderá mais lenta do que em outros países.

Também palestrante do seminário online, o coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, Armando Castelar, lembrou que o elevado nível de incertezas em relação aos rumos da atividade econômica contribui para dificultar uma rápida recuperação. O pesquisador vê mais chances de a recuperação da economia ser "lenta" e "irregular", com idas e vindas. "É muita incerteza e incerteza não costuma ajudar", disse Castelar.

Inflação

A inflação baixa ficará no radar "por muito tempo", tanto nos mercados externos quanto no Brasil, embora, na economia brasileira, os desequilíbrios fiscais representem um risco mais à frente, afirmou o chefe do Centro de Política Monetária do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna. Para o especialista, que foi diretor do BC, com a economia em retração, a inflação deverá seguir baixa no Brasil "por muito tempo".

"Com desequilíbrio fiscal muito significativo, cedo ou tarde a inflação aparece, mas, no momento, a tibieza da atividade é muito forte e vai manter a inflação baixa por muito tempo", afirmou Senna, no seminário.

Segundo Senna, o impacto da "tibieza" da atividade econômica sobre uma inflação baixa é fenômeno global. Isso porque as medidas adotadas pelos governos mundo afora para mitigar os efeitos da crise provocada pela pandemia de covid-19 geram poucas pressões de demanda.

A maior parte das medidas focou em ampliação do crédito, mas com uma natureza diferente dos estímulos econômicos tradicionais, lembrou Senna. Nos estímulos tradicionais, mesmo quando adotados em momentos de crise, o objetivo da ampliação de crédito é estimular o aumento da demanda, tanto do consumo quanto dos investimentos. Só que a particularidade da atual crise global coloca a ampliação do crédito como uma saída para "suprir lacunas", compensar a queda de receita de famílias e empresas em meio ao isolamento social, enquanto seus gastos fixos foram mantidos.

"É diferente do crédito como estímulo, para ampliar gastos e investimentos", afirmou Senna, lembrando que o crédito como estímulo pode gerar inflação ou não, mas esse crédito "de compensação" não deverá ter esse efeito.