Cenário não é bom, mas não é o pior
Para o estrategista da instituição financeira, a atividade econômica do País já pode ter chegado ao fundo do poço e há chance de o Produto Interno Bruto (PIB) cair menos neste ano do que a retração de 7,7% atualmente projetada pelo banco americano.
Como o sr. avalia a decisão do Copom de cortar os juros para 2,25% ao ano?
O corte foi o que todo mundo projetava. Eu esperava que ele trouxesse uma linguagem mostrando dependência de dados, que o comunicado trouxe, ao deixar a porta entreaberta para novo corte. Mas o Banco Central disse que, se tiver uma redução residual, ela vai depender dos indicadores. Deixar a porta aberta é bom. Considerando os riscos, não vale a pena fechá-la. Ao mostrar dependência de dados, o BC está preservando o grau de liberdade. No limite, ele pode recalibrar a decisão.
Em termos de sinalização do BC, o que esperar para as próximas reuniões?
Em relação ao que o mercado discutiu como possibilidade para a reunião deste mês, tinha muita gente falando em mais um corte de 50 pontos, eventualmente podendo ir até além disso. Nesse sentido, o BC acabou dando uma mensagem um pouco mais conservadora, quando disse que o estímulo parece suficiente, compatível com os impactos econômicos e vai monitorar os dados. Ele talvez possa ter jogado um balde de água fria na expectativa de muito mais cortes.
É mais provável um novo corte de 0,25 ponto?
Tem de esperar como os dados vão evoluir, mas o BC fala em corte residual. Resíduo é uma coisa pequena. Meu cenário é que pararam os cortes, vamos reavaliar, dependendo dos indicadores e da ata na semana que vem. Mas se tiver mais um corte, está mais com cara de 0,25 ponto do que de 0,50. O BC não fechou a porta completamente, mas deu a entender que o risco é de corte pequeno.
Após os recentes indicadores de atividade, mudou sua visão para o PIB do Brasil este ano?
Prevemos queda de 7,7% este ano. Se me perguntassem há três semanas sobre os riscos, eu diria que seria para um número pior. Hoje acho que talvez seja para número levemente melhor. Ao olhar o mundo, a volta tem sido muito rápida nos EUA, na China. O mercado ficou um pouco mais animado com a velocidade da recuperação. No comunicado do BC tem um trecho interessante sobre monitorar todos os impactos do estímulo, dando a entender que talvez a queda da atividade não seja tão ruim quanto se imaginou em um primeiro momento. Nas conversas que temos tido com empresas, as pessoas com quem conversamos dizem que não é aquele pior cenário que tinham desenhado. Não é um bom cenário, mas não é o pior cenário.
O sr. acredita que a atividade econômica já atingiu o fundo do poço?
Parece que o pior mesmo foi o primeiro semestre. A discussão agora é sobre a velocidade da retomada e quais os riscos para ela, em particular a segunda onda de infecções em outros lugares. No Brasil, infelizmente, ainda não superamos a primeira onda.
A decisão do BC para os juros pode ter algum impacto no câmbio?
Como a discussão que havia é que o Brasil talvez pudesse chegar a níveis ainda mais baixos de juros, o tom do comunicado foi positivo (para o câmbio). Projetamos o dólar em R$ 5,40 no fim do ano.
A decisão do BC deve ter algum impacto no mercado de juros futuros?
Talvez nos contratos mais curtos tenha leve alta, mas, como o BC está falando que se tiver um novo corte será residual, pode ajudar a curva a aplanar um pouco.
Com o novo corte, a taxa de juros real do Brasil está muito baixa. Isso pode ter impacto negativo para investimentos estrangeiros?
Depende da classe de ativos, na renda fixa, sim. A discussão é como o juro baixo pode melhorar o crescimento e atrair recursos para outros ativos, principalmente em ações. O investidor estrangeiro está muito pouco alocado em Brasil em renda fixa e ainda tem muito espaço para alocação na renda variável. Mas também depende de crescimento, da lucratividade das empresas. Não necessariamente vem de imediato.
Qual sua expectativa de os juros voltarem a subir no Brasil?
É uma discussão para meados do ano que vem, dependendo da retomada da atividade. Em 2021, para todas as reuniões a curva precifica aumentos de 25 a 40 pontos-base (0,24 a 0,40 ponto porcentual). O mercado parece que está precificando o risco, não só da alta, mas do cenário, a incerteza fiscal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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