Questão ambiental se tornou risco para investimento, diz presidente da BlackRock
Ao dar exemplos da maior atenção dos mercados a questões ambientais, ele disse que, em meio a uma entrada recorde de investidores em fundos que investem em índices de ativos sustentáveis, quase 80% dos instrumentos financeiros considerados sustentáveis tiveram desempenho superior a índices tradicionais no primeiro semestre deste ano.
Na avaliação de Fink, o ESG (sigla em inglês do conceito de sustentabilidade ambiental e social) será cada vez mais "dominante" nos mercados. "A questão fundamental da mudança climática vai crescer muito e as pessoas vão reconhecer que há um risco de investimento."
Para o CEO da BlackRock, essa transformação acontece mais rápido na Europa. "Os europeus entenderam que as mudanças climáticas são um risco social. Os europeus já estão mudando a forma como investem. Isso está acelerando na Europa mais do que nunca."
Já nos Estados Unidos, na Ásia e na América Latina, existem governos mais atentos e outros que negam o aquecimento global. As políticas, disse, variam e dependem muito das forças econômicas de cada pais.
Brasileiros começam a diversificar portfólio de investimentos
Para Fink, os brasileiros, historicamente, gostam de investir dentro do próprio País, mas essa situação vem mudando com a rentabilidade decrescente dos títulos públicos, na esteira do ciclo de cortes na taxa básica de juros. Segundo ele, cada vez mais países e cidadãos, incluindo os brasileiros, estão se tornando "investidores do mundo".
"A razão histórica para os brasileiros terem mais investimentos dentro do próprio país é que a taxa de juros sempre foi tão alta que era possível obter um retorno maior com títulos do que com qualquer outro investimento", disse. "Obviamente, isso mudou muito agora, especialmente considerando a taxa que se consegue em relação à inflação."
Segundo Fink, movimentos de realocação de portfólio, com a entrada de ativos internacionais, aconteceram em todos os países onde houve encolhimento das taxas de juros e os investidores, com a migração para as bolsas, buscaram diversificar riscos em mercados internacionais.
"Acho que o Brasil está começando a ser um país com esse dinamismo de maior diversificação e visão mais ampla de portfólio global", disse o presidente da BlackRock.
Sobrevivência das médias e pequenas empresas
Larry Fink disse também que, embora a pior fase de contágios pela covid-19 ainda não tenha ficado para trás, a injeção de recursos sem precedentes dos bancos centrais nos mercados, em resposta ao choque da pandemia, impulsionou os ativos financeiros, abrindo a grandes empresas uma capacidade inédita de se financiar no mercado de capitais.
O executivo disse, porém, que a maior incerteza reside na sobrevivência das pequenas e médias empresas, especialmente em setores como serviços de alimentação e turismo, cuja viabilidade será testada por mudanças de comportamento do consumidor. "Muitas partes da economia não voltarão para o que conhecemos", afirmou Fink.
Ao tratar do rali visto nas bolsas num contexto de alta liquidez internacional e taxas de juros reduzidas, o presidente da BlackRock lembrou da situação da Boeing. Antes da pandemia, a expectativa era de que a fabricante de aviões precisaria ser socorrida pelo governo para não quebrar em meio à crise aberta pelos dois desastres aéreos com o modelo 737 MAX num intervalo de cinco meses.
Porém, como observou Fink, diante da liquidez provida pelo Fed, o banco central americano, e com a estabilização dos mercados a partir de abril, a Boeing conseguiu levantar US$ 25 bilhões em títulos emitidos no mercado de capitais, estabilizando seu futuro financeiro. "As empresas com acesso a mercado de capitais tiveram uma capacidade inédita de aumentar dívida ou patrimônio", comentou Fink.
"A pergunta para a qual não sabemos a resposta é sobre qual é a viabilidade de muitas pequenas e médias empresas", complementou o executivo. A resposta, disse Fink, deve ser conhecida nos próximos dois ou três meses.
Segundo ele, fundos de pensão estão sentados em cima de uma montanha de dinheiro e as empresas mostram em seus balanços uma liquidez sem precedentes, mas, ainda que exista um volume "imenso" de dinheiro a ser investido, a tendência de recuperação global pode sofrer uma reversão se o mundo não conseguir conter a pandemia.
"É difícil prever onde o mercado estará em um ou três meses. Porém, se os números da doença continuarem crescendo, com aumento de mortalidade, teremos outra reversão nas economias. Nesse cenário, as pequenas e médias empresas terão um grande problema", disse.
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