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Uma 'prata da casa' para guiar tempos de mudança no Itaú

Fernanda Guimarães

São Paulo

31/10/2020 07h07

Em quase duas décadas de Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho pode dizer que conhece a instituição como poucos. Ele ingressou no Itaú aos 26 anos e, desde então, trabalhou nas áreas de varejo, de banco de investimento, de cartões, de maquininhas de pagamento e comandou o CorpBanca, no Chile. Aos 35 anos, o executivo já era sócio do banco que passará a comandar a partir de 2 de fevereiro, aos 44 anos.

Casado, pai de três filhos e jogador de tênis, Maluhy Filho é um executivo que não tem medo de se posicionar, de acordo com pessoas que já trabalharam com ele. Nas reuniões, fala sem medo - e passa o recado. É uma qualidade que deverá ser útil agora, já que ele assume o comando do Itaú Unibanco em um momento desafiador: por um lado, há a pressão para cortar custos frente à concorrência cada vez mais acirrada de bancos digitais e corretoras; de outro, o gigante precisa investir para se digitalizar ainda mais, para seguir conectado aos novos tempos.

O executivo já dedicou quase a metade de sua vida ao Itaú Unibanco, galgando posições dentro da instituição. E assume o cargo mais alto do banco com a possibilidade de nele permanecer por um longo período. Maluhy Filho está a quase duas décadas dos 62 anos - idade máxima para permanência na presidência, de acordo com o estatuto do Itaú Unibanco.

Os acionistas do banco sabem que fazer o Itaú mudar não é fácil. Um deles recentemente disse ao Estadão que é muito mais difícil mudar o rumo de um transatlântico do que o de um barquinho. O meganavio chamado Itaú Unibanco é o maior banco privado do Brasil, com quase 100 mil funcionários e R$ 2 trilhões em ativos totais.

Ao chegar à presidência, Maluhy Filho substituirá Candido Bracher, executivo que ficou pouco menos de quatro anos no cargo e sucedeu Roberto Setubal, hoje copresidente do conselho de administração, ao lado de Pedro Moreira Salles. Bracher teve de ser substituído porque completa 62 anos em dezembro. Os dois trabalharão juntos, em uma fase de transição, até o fim de janeiro, quando Bracher irá para o conselho. A partir de fevereiro, o novo comandante terá de guiar o transatlântico sozinho.

Miríade de funções

Maluhy é formado em administração de empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). No banco, trabalhou como gerente de câmbio, atuou nas operações de atacado, foi diretor executivo da Rede e também esteve à frente da área de cartões. Foi presidente do Itaú Corpbanca, no Chile, tendo sido responsável pela fusão de dois bancos, Corpbanca e Banco Itaú Chile. Nos últimos anos, era vice-presidente da área de riscos e finanças e um dos membros do comitê executivo do banco.

A diversidade de posições foi um dos pontos que pode tê-lo colocado à frente dos demais executivos que estavam no páreo para a posição. Segundo relatório do Citi, Maluhy Filho conhece a fundo todas as complexidades do banco. "Acreditamos (...) que ele foi a pessoa mais indicada dentro da instituição para navegar o cenário desafiador dos próximos anos e, assim, vemos a indicação como positiva", disseram os analistas Jörg Friedemann e Gabriel Nóbrega.

No entanto, ambos ponderaram que seu legado como executivo não foi, pelo menos até o momento, muito marcante: áreas que ele comandou, como a Rede ou o Corpbanca, ainda apresentam dificuldades de encontrar um caminho para uma virada.

"Como novo presidente do Itaú Unibanco, acreditamos que o foco do sr. Maluhy será provavelmente a continuidade da jornada de transformação digital, centralização no cliente e um forte foco na eficiência para acomodar um cenário de receitas mais desafiador, enquanto continuará a ajudar o Itaú Unibanco e seus clientes a terem sucesso para lidar com os efeitos da pandemia", afirmaram os analistas do Credit Suisse Marcelo Telles, Otavio Tanganelli e Alonso Garcia, em relatório.

Ao contrário de Bracher - que chegou ao Itaú via a aquisição, em 2002, do BBA, fundado por seu pai, Fernão Bracher -, o novo presidente foi criado, pouco a pouco, dentro de casa. Há nove anos, foi incluído no programa de sócios do banco, que prevê a possibilidade de funcionários usarem sua remuneração variável para aquisição de ações. Essa chance, porém, só é aberta a pessoas que o comitê de pessoas considera de "desempenho diferenciado".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.