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Mesmo com ação do BC, dólar tem alta de 1,12%

Renée Pereira, colaborou Luís Eduardo Leal

São Paulo

29/12/2020 07h15

Depois de um período de trégua até a semana passada, o dólar retomou o movimento de alta frente o real. No pregão desta segunda, 28, a moeda americana subiu 1,12% e fechou cotada em R$ 5,23, na contramão do que aconteceu em outros mercados no mundo. Na máxima do dia, chegou a bater R$ 5,31, retomando o patamar do fim de novembro, quando o dólar começou a cair. No dia 10 de dezembro, a moeda americana estava em R$ 5,03.

Segundo analistas, no entanto, o movimento de ontem é resultado mais de questões técnicas do que de fundamentos econômicos. Os bancos, por exemplo, precisam fazer um ajuste de posições em dólar numa operação chamada de overhedge - uma proteção cambial que deixou de ser interessante após mudanças tributárias - que somam algo entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões. Também há as remessas internacionais que as multinacionais fazem para suas matrizes, o que também pressiona o câmbio.

O movimento ontem foi tão forte que o Banco Central (BC) teve de atuar no mercado para conter o avanço da moeda. No início da tarde, quando o dólar ultrapassou R$ 5,30, o BC anunciou um leilão de US$ 530 milhões no mercado à vista. O leilão teve taxa de corte de R$ 5,2620 e três propostas foram aceitas. Mais cedo, o BC havia vendido 16 mil contratos de swap (US$ 800 milhões). A atuação da autoridade monetária surtiu efeito e a moeda recuou.

Mas há uma expectativa de novas pressões até amanhã, quando os bancos precisam fechar suas posições. "O dia seria muito positivo se não fosse essa questão técnica", diz o estrategista da RB, Gustavo Cruz, referindo-se às notícias vindas do exterior. Uma delas é o pacote fiscal de US$ 900 bilhões dos Estados Unidos, que aumentou o apetite ao risco e fez as Bolsas americanas renovarem máximas históricas. O Dow Jones avançou 0,68%; o Standard & Poor's 500 subiu 0,87%; e o Nasdaq, 0,74%. Outra boa notícia foi acordo pós-Brexit entre o Reino Unido e a União Europeia.

Bolsa

Por aqui, o anúncio da Fiocruz, laboratório público ligado ao Ministério da Saúde, de que deve pedir até a próxima semana o registro da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e o grupo farmacêutico AstraZeneca deu força para sustentar a B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, em terreno positivo. O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 1,12%, para 119.124 pontos.

Assim como em novembro, a presença do investidor estrangeiro neste último mês do ano foi fundamental para o Ibovespa. Em dezembro, a primeira saída de recursos externos da B3 veio no último dia 22, quando foram sacados R$ 193,169 milhões, de acordo com dados divulgados ontem - no mês, o aporte líquido estrangeiro chega agora a R$ 16,525 bilhões, limitando a retirada no ano a R$ 35,038 bilhões.

Em novembro, o saldo estrangeiro foi recorde, a R$ 33,323 bilhões, o maior da série mensal iniciada em 1995. "Antes de o ano acabar, o Ibovespa pode ao menos testar os 120 mil pontos. Estamos bem perto disso", avalia Rodrigo Barreto, analista gráfico da Necton.

Dólar em 2021

No câmbio, apesar das pressões até amanhã, a expectativa também é positiva para 2021. Cruz, da RB, vê possibilidade de o dólar romper o patamar abaixo dos R$ 5,00. "Se sair a reforma tributária e o governo conseguir organizar a parte fiscal, podemos ter um recuo mais significativo. Mas, fazendo apenas o básico, já é possível ver uma queda, uma vez que o real foi uma das moedas mais afetadas."

Daniel Tatsumi, gestor de moedas da Ace Capital, tem o mesmo entendimento. Segundo ele, num cenário benigno e comparando com o movimento das principais moedas mundo afora, o dólar pode cair para R$ 4,60 no próximo ano, destacando que os resultados da balança comercial também devem dar grande contribuição para o câmbio em 2021.

Segundo analistas, o cenário também pode ser beneficiado com uma definição sobre o cronograma da vacinação contra covid-19 no Brasil - ontem, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar o atraso brasileiro. Para ele, os laboratórios deveriam se movimentar para buscar aprovação da Anvisa, e não o Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.