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Queda de preço de equipamentos faz país dobrar geração de energia solar

Estação de energia solar - Getty Images
Estação de energia solar Imagem: Getty Images

Denise Luna

Rio

18/01/2021 13h00

A geração de energia solar dobrou sua capacidade instalada no país em 2020, na esteira de R$ 13 bilhões em investimentos, e promete repetir o feito agora em 2021.

Segundo especialistas, por trás desse quadro está principalmente a redução de preços de equipamentos nos últimos anos, que têm atraído mais empresas e consumidores para esse mercado, aliada ao fato de o Brasil ter uma das melhores irradiações solares do mundo.

Segundo a Absoalr (Associação Brasileira de Energia Solar), em 2020 a capacidade instalada saltou de 4,6 GW (gigawatts) para 7,5 GW, puxada por um aumento de 2,2 GW só da chamada geração distribuída —a partir de sistemas instalados em telhados, fachadas de edifícios e pequenos terrenos, por exemplo.

Essa potência é suficiente para iluminar 3,7 milhões de domicílios. A previsão é que o número alcance 12,6 GW neste ano, também impulsionado pela autogeração.

Em termos de investimentos, o resultado também impressiona. Dos R$ 13 bilhões desembolsados no ano passado, quase 80% foram bancados por projetos de geração distribuída. O restante ficou por conta da chamada geração centralizada (projetos que são vendidos em leilões de energia do governo).

Para 2021, a projeção é que a autogeração atraia mais R$ 17,2 bilhões, o equivalente a 76% dos R$ 22,6 bilhões estimados para todo o setor pela Absolar.

Desde 2012, quando despontou comercialmente no país, a energia solar teve seu preço reduzido em 80% —de US$ 100 o megawatt-hora para cerca de US$ 20. O preço fica abaixo do custo de todas as outras fontes, com exceção da geração eólica.

"Isso está fazendo com que a classe média baixa também passe a enxergar a energia solar como um bom investimento, não apenas a classe alta, como era no começo", diz a diretora comercial da Win Energias Renováveis e coordenadora da Absolar no Rio de Janeiro, Camila Nascimento.

Segundo ela, o comércio também tem se voltado para a fonte solar para reduzir seus custos fixos, em meio à crise trazida pela pandemia.

No caso da Win, distribuidora de módulos criada em 2019, Camila viu o volume de negócios crescer 200% em plena pandemia. Equipamentos que há dez anos custavam R$ 30 mil, hoje são encontrados pela metade do preço.

Por R$ 15 mil, uma residência que tenha a conta de luz de R$ 350 por mês consegue instalar um sistema. Para negócios como um salão de beleza, que consome muita energia, o investimento na compra e instalação dos módulos pode sair R$ 45 mil.

Baterias

"Hoje em dia, deixou de ter só um apelo ambiental, como era anos atrás, e passa por uma questão financeira. As pessoas instalam realmente para reduzir a conta de luz", avalia o presidente do Portal Solar, Rodolfo Meyer, a primeira e maior plataforma de energia solar do país.

O Portal tem 20 mil empresas cadastradas e recebe a visita de cerca de 350 mil pessoas por mês, que acessam a plataforma em busca de financiamento, produtos e informação. Para 2021, espera-se que mais 5,4 mil empresas entrem no mercado.

Meyer prevê uma grande evolução do segmento nos próximos anos, principalmente com a chegada das baterias. Elas vão possibilitar independência do consumidor em relação às distribuidoras de energia. Ainda em fase de desenvolvimento, vão funcionar como pilhas para armazenar energia.

Estão seguindo a mesma trajetória de queda de preços dos equipamentos de energia solar. Em dois anos, segundo o presidente do Solar, devem ganhar espaço entre os consumidores para utilizar a energia solar à noite ou quando não houver sol.

Roberto Brandão, pesquisador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia que a energia solar tem potencial para liderar a matriz elétrica brasileira no longo prazo, se a questão das baterias for resolvida. Hoje, essa fatia ainda é de 1,6%.

Geração

Após dois anos de "namoro", o bancário aposentado Abel Fernandes Tavares, 71 anos, decidiu em 2017 instalar placas solares no telhado de sua casa, em São Paulo. O investimento rendeu frutos.

Hoje, ele paga metade do que gastava antes com a conta de energia e já planeja dobrar o número de painéis para obter créditos e gastar quando necessário. Pelas regras da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a energia excedente pode ser utilizada ao longo de cinco anos.

"Minha intenção é gerar de 130% a 150% da minha conta. Eu fico com crédito para usar no inverno o que eu gero no verão."

Quando Tavares instalou seus módulos, existiam no máximo 500 sistemas no país inteiro. Em um ano, já eram 5.000 e, hoje, a Associação Brasileira de Energia Solar contabiliza mais de 360 mil ligados à rede de distribuição.

De olho nas mudanças tecnológicas, ele já busca dados sobre baterias para armazenar a energia. "A Tesla já oferece um armário não muito grande com bateria de lítio, são muito mais fortes e carregam a energia por mais tempo, mas no Brasil ainda não tem, um dia chega."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.