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Presidente da Petrobras responde a Bolsonaro: 'ninguém fica sentado'

Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, foi criticado por Jair Bolsonaro - Amanda Perobelli/Reuters
Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, foi criticado por Jair Bolsonaro Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Denise Luna e Fernanda Nunes

Rio

25/02/2021 13h40

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, se pronunciou hoje, pela primeira vez, após a intervenção de Jair Bolsonaro (sem partido) na estatal. O presidente indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da empresa, em meio a críticas à política de preços de combustíveis da companhia, que seguem a cotação internacional do petróleo.

Ao apresentar a analistas do mercado o resultado da Petrobras no quarto trimestre de 2020, Castello Branco defendeu a política de preços de combustíveis da estatal, a PPI (Política de Paridade Internacional), e afirmou que as decisões sobre o assunto são reflexo do mercado de petróleo e levam em conta princípios da governança. "Ninguém fica sentado em casa aumentando preços, é um trabalho de equipe", explicou.

Ele disse ter sido acusado injustamente de falta de transparência e que "o preço dos combustíveis ainda é alvo de palpites de jogo de futebol".

Para o executivo, não há exagero nos preços no Brasil, embora os impostos sejam elevados. "Falo isso baseado em estatísticas com preços de 160 países. A média dos preços do País está abaixo da média global. Mesmo se corrigirmos pela renda per capita, o preços ficam ligeiramente abaixo da média global", afirmou, na teleconferência.

Castello Branco vestia uma camiseta com a frase "mind the gap", que significa "cuidado com o vão" e é usada em estações de metrô em cidades de língua inglesa para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma. "Gap" também pode se referir a intervalo ou à defasagem entre duas coisas.

"É surpreendente dedicarmos tanta atenção ao tema da PPI no século 21. Petróleo é commodity, cobrada em dólar, não há como fugir", disse ele. "A empresa ainda é muito endividada, em dólar; como conciliar com receita em real?", comentou executivo, acrescentando que, "se o Brasil quer ser uma economia de mercado, tem que ter economia de mercado". "Preços abaixo do mercado geram consequências negativas."

Este ano a Petrobras já reajustou os preços nas suas refinarias quatro vezes. Com isso, diesel e a gasolina acumulam alta de 27,5% e 34,8%, respectivamente, em 2021.

Os números de 2020, divulgados na quarta-feira, 24, mostram que a empresa teve lucro líquido de R$ 59,9 bilhões no últimos três meses do ano, um salto de 635% ante igual período de 2019, resultado muito acima do esperado por analistas e o maior para um trimestre, pelo menos, desde 2008. No acumulado do ano, a empresa conseguiu um resultado positivo, mas bem menor, de R$ 7,1 bilhões.

"A Petrobras de hoje é melhor do que era um ano atrás", afirmou Castello Branco. "Nosso compromisso foi terminar (a crise) melhor do que começamos." Com o resultado, a petroleira conseguiu reverter o prejuízo dos três primeiros trimestres do ano, apagando as perdas causadas pela pandemia de covid-19, que parou a economia e derrubou a demanda por petróleo.

O lucro, no entanto, foi puxado, principalmente, por reversões de baixas contábeis que foram feitas por causa da crise causada pela covid-19, mas puderam ser desfeitas na esteira da retomada da economia mundial.

Home office

O executivo destacou a adoção do home office por parte dos funcionários da companhia durante a pandemia. "O home office contribuiu não só para diminuir a contaminação pelo coronavírus, mas também contribuiu para reduzir custos e aumentar a produtividade", disse.

Segundo ele, o home office é uma inovação que o momento exige e "vitorioso é quem sabe mudar".

Na semana passada, Bolsonaro criticou o fato de Castello Branco estar trabalhando de casa por causa da covid-19 - o executivo tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco da doença. "O atual presidente da Petrobras está há 11 meses de casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso faz poucas semanas", afirmou o presidente.

Dividendos

Castello Branco citou ainda a distribuição de R$ 10,3 bilhões em dividendos, em abril. Segundo ele, o retorno aos acionistas "é muito pobre, mas é o que podemos fazer".

Mudança de comando na estatal

O executivo afirmou que a transição da sua saída da empresa para a entrada de Silva e Luna "deve ser suave" e que ele estará disponível a ajudar para que assim seja. Ele informou, porém, que não tem informação sobre o processo de transmissão de comando.

As consequências de sua saída da presidência da Petrobras, prevista para março, concentrou as perguntas dos analistas na teleconferência. Ele afirmou que continuará a torcer por uma trajetória virtuosa da Petrobras, mesmo fora da companhia, e se recusou a fazer comentários sobre o futuro da empresa. "Não devo nem posso opinar, cabe aos que me sucederem", frisou.

Perguntado, ele informou que a diretoria vai permanecer até o fim do mandato (20 de março) e que vai continuar trabalhando até lá com um forte compromisso com a companhia.

As ações da Petrobras subiram durante a manhã, mas passaram a cair no começo da tarde. Às 13h05, os papéis ON recuavam 0,63% e os PN, 0,49%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, tinha queda de 0,49%.