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Instituto: há risco de desabastecimento, mas é erro liberar venda direta a postos

Pontos da Via Dutra foram interditados por caminhoneiros apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), na altura do quilômetro 149, em São José dos Campos (SP), na manhã desta terça-feira (1) - LUCAS LACAZ RUIZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Pontos da Via Dutra foram interditados por caminhoneiros apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), na altura do quilômetro 149, em São José dos Campos (SP), na manhã desta terça-feira (1) Imagem: LUCAS LACAZ RUIZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Gabriel Vasconcelos

No Rio

02/11/2022 15h59Atualizada em 02/11/2022 16h34

O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que representa as três maiores distribuidoras de combustíveis do país — Vibra, Raizen e Ipiranga — disse ter "grande preocupação" diante do "risco real de desabastecimento de combustíveis em alguns polos em todo o país".

A entidade comentou as medidas tomadas pela Agência Nacional do Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (ANP) na noite desta terça, 1º. O IBP elogia a suspensão de estoques mínimos, mas critica pontos como a venda direta de combustível das refinarias aos postos, o que suprime o intermediário (distribuidores), mas teria como principal efeito a desorganização da cadeia.

O IBP cita a permanência de centenas de bloqueios totais e parciais nas estradas, que impedem o transporte de combustíveis como gasolina, diesel e GLP, das refinarias para postos ou unidades revendedoras, realizado majoritariamente por caminhões. O mesmo acontece com biocombustíveis, como etanol, que saem de usinas produtoras. Em nota, o IBP fala em "impacto inevitável na vida das pessoas e na atividade econômica".

Mais cedo, a Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Biocombustíveis e Gás Natural (Brasilcom), que representa os distribuidores regionais, já havia apontado, em nota, o risco de desabastecimento de combustíveis no País.

As regiões mais afetadas são o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Inicialmente, o maior foco de atenção era o Sul, em especial Santa Catarina, onde os bloqueios começaram antes e em maior intensidade. Mas, no terceiro dia de protestos bolsonaristas contra o resultado das eleições, as ações no Sudeste, com destaque para o interior de São Paulo, tomaram as atenções do setor.

Atuação da ANP

O instituto afirma que, em paralelo à atuação de forças policiais para o desbloqueio de estradas, vem subsidiando órgãos de governo e entidades do setor com informações de cada polo de abastecimento e sugestões de medidas mitigatórias.

Segundo o IBP, parte das medidas tomadas pela ANP é eficaz e outras têm o poder de desorganizar a cadeia em um momento crítico, sem trazer benefícios.

O IBP diz serem úteis a liberação dos estoques mínimos e a flexibilização de espaço entre distribuidores, de forma a agilizar e otimizar a gestão dos estoques, mas questiona a liberação de marcas no GLP e flexibilização de venda direta de gasolina e diesel aos postos revendedores.

Essas últimas medidas já teriam sido testadas e não funcionaram em situações anteriores. "Ao contrário, geram ineficiência operacional, insegurança nas relações entre os agentes da cadeia e criam espaço para eventuais abusos e distorções difíceis de fiscalizar", diz o IBP em nota.

O IBP ainda apontou a necessidade de se avaliar "com urgência e profundidade" a flexibilização do percentual de biodiesel no diesel a ser comercializado. Isso porque há dificuldade para fazer chegar esses produtos nas bases de mistura das distribuidoras, atrasando a comercialização de combustível, já em estágio crítico em partes do País, como São Paulo.