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Venezuela: apesar de nova licença, petróleo pode demorar para chegar aos mercados

Caracas

27/11/2022 21h50

O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, fez uma mudança significativa em sua política para a Venezuela quando permitiu que a Chevron bombeasse petróleo no país sul-americano novamente. A decisão, contudo, renderá pouco aumento à produção mundial da commodity no curto prazo.

A empresa terá de enfrentar uma miríade de problemas técnicos nos antigos campos de petróleo da Venezuela e uma complicada rede de reservas americanas remanescentes das sanções que devem ser alteradas para garantir que mais petróleo do país chegue ao mercado global.

Neste sábado, 26, o Departamento do Tesouro concedeu à Chevron uma nova licença para operar na Venezuela após reunião na Cidade do México entre o governo de Nicolás Maduro e grupos de oposição em que os participantes concordaram que a Venezuela gastaria bilhões de fundos congelados em ajuda humanitária e infraestrutura em um programa a ser administrado pelas Nações Unidas.

A mudança de política ocorre dois anos depois que o governo Donald Trump reprimiu as atividades da Chevron e de outras empresas de petróleo na Venezuela como parte de uma campanha de "pressão máxima" destinada a derrubar o regime liderado por Maduro. Essa política incluía retirar o reconhecimento de Maduro e apoiar o líder do Congresso, Juan Guaidó, como o presidente legítimo da Venezuela.

As autoridades apresentaram o retorno da Chevron à Venezuela como uma razão para as partes iniciarem negociações sobre um cronograma e estrutura para eleições livres. A mudança também pode abrir as portas para outras empresas de petróleo que já haviam operado na Venezuela, embora o Departamento do Tesouro não tenha delineado como elas podem voltar a se envolver com o país.

Entre as primeiras tarefas da Chevron estão consertar equipamentos quebrados, interromper quedas de energia e consertar problemas com oleodutos, recontratar centenas de trabalhadores apesar do êxodo de talentos da indústria petrolífera venezuelana e lidar com ameaças à segurança física, incluindo roubos de gasolina, disseram analistas.

"A quantidade de dinheiro necessária para investir na Venezuela para recuperar a produção perdida é enorme", disse José Chalhoub, analista de risco político e petróleo na Venezuela que trabalhou anteriormente na indústria petrolífera do país.

Chalhoub estimou que os investimentos necessários para restaurar a produção perdida de petróleo da Venezuela podem chegar a US$ 50 bilhões. Nos próximos seis meses, disse ele, a Chevron pode aumentar a produção em cerca de 20 mil a 30 mil barris por dia (boe), muito pouco para fazer qualquer diferença no mercado global.

Antes que a Chevron esteja disposta a fazer novos investimentos na Venezuela, como em novos campos, ela quer cobrar mais de US$ 4 bilhões em dívidas da petrolífera nacional da Venezuela, a PdVSA.

A cobrança dessa dívida pode levar de dois a três anos, já que a PdVSA deve à Chevron e a outros parceiros de joint venture mais de dois anos de receita com vendas de petróleo, após a crise dos EUA em 2020. As sanções impediram a empresa venezuelana de pagar seus sócios.

A licença permitiria à Chevron coletar sua parte dos dividendos de suas joint ventures, como a Petropiar, da qual a Chevron é sócia de 30%.

Nos primeiros 25 dias de setembro, a PdVSA, que opera as joint ventures com a Chevron, produziu cerca de 45 mil boe, segundo a consultoria IPD Latin America.

Expectativa e realidade

Embora a Venezuela possua as maiores reservas de petróleo do mundo, pode levar pelo menos um ano para a Chevron trazer a produção de petróleo de volta para 200 mil barris por dia em suas quatro joint ventures com a PdVSA, disseram analistas.

Isso é uma gota no balde em comparação com a quantidade de petróleo que poderia ser afetada pelas sanções ocidentais ao petróleo russo. Alguns analistas estimam que cerca de 1,5 milhão de barris por dia podem ser afetados por essas sanções no próximo ano. A produção de petróleo da Venezuela diminuiu em cerca de 700 mil barris por dia este ano, abaixo dos mais de três milhões de barris por dia na década de 1990.

É improvável que a investida inicial da Chevron na Venezuela ajude a reduzir os preços do petróleo em breve, disseram analistas. "Isso não é algo que vai acontecer da noite para o dia. Isso vai adicionar barris ao longo do tempo à oferta global, mas levará meses, se não mais de um ano", disse Robert Yawger, analista da Mizuho.

O desenvolvimento da Venezuela foi avaliado em apenas cerca de US$ 1 por barril de desconto no petróleo no curto prazo, disse Yawger. Muito também dependerá das próximas negociações entre o governo venezuelano e os partidos da oposição, que têm o potencial de atrapalhar a Chevron se os dois lados não chegarem a um acordo. Fonte: Dow Jones Newswires,