Campos Neto: cobrança de economistas de grande corte de gastos em arcabouço é um pouco injusta
"Tema fiscal é super difícil, porque o Brasil não tem um histórico de conseguir controlar gastos. Nem nesse governo, nem no outro governo, nem em nenhum governo. Tivemos fases melhores e piores, mas quando olhamos um intervalo de 30 anos, o Brasil teve dificuldade", disse Campos Neto, em entrevista à GloboNews. "Temos um plano fiscal, existe uma ansiedade de economistas de cobrar grande corte de despesas, que às vezes é um pouco injusto, porque isso nunca foi feito, ainda mais em um governo que tem opiniões diferentes", completou.
Campos Neto ainda afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é a sua principal interlocução com o governo, mas que também conversa com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e com Gabriel Galípolo, número 2 da Fazenda e indicado à Diretoria de Política Monetária do BC.
Sobre Haddad, disse que é uma pessoa fácil de conversar. "Temos bom relacionamento."
Harmonia entre políticas fiscal e monetária
Segundo o presidente do BC, há harmonia entre a política fiscal e a monetária, mas os tempos são diferentes e isso precisa ficar claro.
As medidas fiscais têm impacto mais rápido, enquanto a política monetária demora de 9 a 15 meses para fazer efeito, afirmou ele. "Existe harmonia, mas tempos são diferentes, precisamos conversar e consolidar isso."
Votação do arcabouço e reflexo nos juros longos
Ao reconhecer que a votação do arcabouço fiscal na Câmara foi "estrondosa", Campos Neto destacou que ao longo do "processo" os juros longos já caíram "bastante". Salientando o trabalho do Congresso e de Haddad, ressaltou que o placar "estrondoso" ocorreu em um tema muito importante. "Taxa de juros longas já caíram bastante, quase 2% nos últimos meses."
Questionado sobre se, então, a queda da taxa Selic era uma questão de quando, o presidente do BC desconversou e repetiu que é apenas um voto de nove no colegiado.
Campos Neto reforçou que o BC toma decisões observando a inflação corrente, a capacidade da economia crescer sem inflação e as expectativas inflacionárias.
Poder de influência nas expectativas de inflação
O presidente do Banco Central reiterou que não existe relação mecânica entre a apresentação do arcabouço e a política monetária, mas afirmou que a nova regra fiscal tem poder de influenciar a expectativa de inflação futura e, por isso, eliminou o medo dela sair de controle.
"O arcabouço deixa claro que esse medo não existe mais, eliminou os riscos de cauda e o mercado já está reconhecendo isso, as taxas de juros longas estão caindo", disse na entrevista à GloboNews. "Qualquer tipo de reforma ajuda."
Na sequência, Campos Neto declarou que o Congresso - em sua análise, super mobilizado e reformista - está passando a mensagem correta no sentido de ajudar o trabalho do Banco Central (BC).
O presidente do BC, porém, reiterou que a autarquia tem um timing e precisa esperar para ver como o arcabouço vai se transformar em melhora de expectativa.
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