BC também 'quer baixar os juros', afirma Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (29) que a autoridade monetária também "quer baixar os juros", assim como vem pedindo o governo e o setor produtivo, mas que não pode fazer nada que desestruture o processo econômico no futuro. "Entendemos a pressão, o juro sempre é um debate, não só no Brasil", disse.
E acrescentou: "A gente tem que pensar que o BC existe para fazer um trabalho técnico. Tem que manter um debate dentro do campo técnico e temos que explicar o que está fazendo. A gente também quer cair os juros, quer ter condição de gerar maior crescimento futuro, mas não podemos fazer coisas que desestruturem processo econômico no futuro."
Sobre as críticas do governo, como da ministra Simone Tebet (Planejamento), à comunicação do BC, Campos Neto disse que a autoridade monetária tenta antecipar a interpretação da comunicação, mas que nem sempre acerta, "até porque ninguém é infalível".
Ele repetiu que o comunicado não é lugar de dar muitas explicações, porque esse é o papel da ata.
Certeza sobre a decisão a ser tomada
O presidente do Banco Central disse ainda que o corte de juros ocorrer em um mês ou no seguinte "não faz muita diferença". "É preciso ter certeza do que se vai fazer", respondeu.
"Está se dando muita atenção a detalhes e esquecendo pano de fundo, que é que temos uma melhora na inflação em curso. Temos dito que a desinflação é um pouco lenta. Inclusive a mensagem passada no BIS por todos os BCs é que estamos na última milha e que é importante terminar o trabalho", acrescentou Campos Neto.
Sobre explicitar sinalização dos diretores
O presidente do Banco Central afirmou que a autoridade monetária não explicitou qual foi a divisão entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a sinalização dos próximos passos, que isso seria um grau de transparência a mais, mas que ficará claro nos votos da próxima reunião.
No comunicado, segundo as avaliações majoritárias, não houve uma indicação clara sobre os próximos passos da política monetária. Já, na ata, o BC expôs que a maioria dos membros dos oito membros que participaram da reunião já acredita que a porta estaria aberta para um corte de juros em agosto, caso a desinflação continue.
Segundo Campos Neto, as divergências não implicam enfraquecimento da institucionalidade. "Acho que vão entrar novos diretores que acho vão ter opiniões diferentes. Isso faz parte do jogo", disse. "As pessoas têm divergências e se transformam em debates. Não existe enfraquecimento da instituição. É importante que diretores tenham autonomia, além do presidente do BC", completou.
Ruídos no mercado
O presidente do Banco Central repetiu que o ruído sobre a comunicação do Copom de junho entre o comunicado e a ata teve efeito "irrelevante" sobre os preços de mercado.
"Em termos de preço de mercado, quase não teve efeito. Comunicações anteriores com menos ruído tiveram maior impacto", disse, acrescentando que o BC não se guia pelos preços de mercado.
O presidente do BC destacou que uma das melhorias da comunicação do BC é explicar a diferença de ata e comunicado.
Período de silêncio
O presidente do Banco Centra negou nesta quinta-feira ter conversado sobre política monetária com o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), que ligou para convidá-lo a explicar as decisões do Copom aos senadores.
"Nunca falei sobre política monetária em período de silêncio, nunca houve qualquer vazamento. A gente leva a regra muito a sério, eu evito até sair de casa", reforçou Campos Neto.
Coletiva de imprensa pós-Copom
O presidente do Banco Central afirmou que o órgão está sempre avaliando mudanças na comunicação e que tem debatido o assunto nas últimas semanas, após questionado se o BC pensaria em fazer ajustes na forma que se comunica após "ruídos" entre o tom do comunicado e da ata do Comitê de Política Monetária deste mês.
Uma das opções na mesa, segundo ele, seria realizar uma coletiva de imprensa após a decisão do Copom, como já ocorre em outros países, como nos EUA. "Será que melhoraria? Estamos estudando formas de melhorar a comunicação sempre. Não é de agora. Sempre entendemos que essa forma atual é eficiente. Temos debatido isso frequentemente e temos debatido isso nas últimas semanas, sim."
Elogios ao governo no trabalho sobre a área fiscal
O presidente do Banco Central disse também que a instituição entende as dificuldades de diversos governos em cortar gastos de maneira estrutural, mas tem elogiado o trabalho da equipe econômica na área fiscal.
"Todas as atas e comunicados do Copom nos últimos quatro anos sempre fizeram referência ao fiscal e isso sempre reverbera. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes me ligava reclamando", relatou Campos Neto. "Falamos sempre do fiscal porque é uma variável que a gente olha", respondeu.
Melhora econômica e atuação do BC
O presidente do Banco Central fez também uma defesa do trabalho do Banco Central nas melhorias econômicas que o País tem colhido após novas críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no período da manhã desta quinta-feira. Ele ainda reforçou que o BC segue firme no compromisso de trazer a inflação para meta. Lula disse que parece que Campos Neto "não entende nada de povo".
Segundo Campos Neto, o País está "comemorando" uma inflação mais baixa, que é, em parte, resultado do trabalho do BC.
Ele ainda destacou que esse processo tem acontecido com custo menor para o PIB. Da mesma forma, os juros futuros vêm caindo, como consequência dos avanços no campo fiscal e também da atuação da autarquia. Nesse momento, citou que o órgão tem feito elogios ao trabalho do governo nas contas públicas.
O presidente do BC também citou as avaliações recentes de rating da S&P e da Moody's, que tiveram referências elogiosas ao trabalho do BC. "Ficamos muito felizes de fazer parte desse processo em que o País está comemorando algumas melhorias."
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