Sem sinalização em contas públicas, juro deve ficar em torno de 13% em 2025, diz Mansueto
São Paulo
06/11/2024 12h42
O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirmou que um pacote tímido de corte de gastos por parte do governo federal poderia contribuir para manter a taxa Selic em 13% ao longo de todo o ano de 2025. Isso levaria a um crescimento menor, ainda que em patamar positivo.
"Se vier um pacote realmente tímido, podemos ter que consolidar um juro no ano que vem alto, de 12% a 13%, durante o ano todo, vai para 2026 com um juro em dois dígitos, o investimento vai cair e podemos ter, em 2025 e 2026, um crescimento menor", disse ele, em evento promovido em São Paulo pela empresa de pagamentos Adyen.
Ele destacou que no final deste ano, diante das incertezas, os juros serão de 11,75% ao ano, os mesmos do final de 2023.
De acordo com o economista, até aqui, apenas a equipe econômica do governo tem mostrado compromisso com as contas públicas, enquanto o resto do governo discursa contra cortes de gastos. "O que o mercado está colocando hoje no preço dos ativos domésticos é que vai ter uma mudança da regra fiscal, o governo vai gastar muito mais e isso vai pressionar a inflação", afirmou.
Diante disso, se o pacote que o governo está discutindo sinalizar de forma clara a estabilização da dívida pública em relação ao PIB, as expectativas do mercado para inflação e juros podem cair, disse Mansueto.
"Se o governo publicar medidas que o mercado olhe como fracas, difíceis de estimar, falando em pente-fino e combate a fraudes, só isso não é suficiente", afirmou ele.
Efeito das eleições nos EUA
O economista-chefe do BTG Pactual disse também que se na dimensão correta, as medidas fiscais do governo federal podem reduzir os impactos da eleição presidencial norte-americana no mercado brasileiro.
"Para sairmos desse efeito incerto da questão americana, se torna ainda mais importante o que o governo brasileiro vai anunciar nos próximos dias, dessas medidas de controle fiscal", afirmou ele.
Na manhã desta terça, com a vitória projetada do ex-presidente Donald Trump no pleito dos Estados Unidos, o dólar subiu e os juros futuros também tiveram alta, diante da percepção de que as políticas econômicas do republicano fortalecerão a moeda norte-americana, serão inflacionárias e portanto, obrigarão o Fed (o Banco Central norte-americano) a reduzir o ritmo de cortes nos juros.
Mansueto disse que é preciso entender o quanto das medidas de Trump será realmente implementado para dimensionar qual impacto o governo republicano terá sobre indicadores como inflação e juros.
Ele afirmou que o impacto sobre o mercado é intensificado pelo controle republicano no Senado americano e expectativa também na Câmara, após a eleição.
PIB brasileiro
O economista-chefe do BTG Pactual afirmou ainda nesta terça-feira que o PIB brasileiro deve crescer 0,7% no terceiro trimestre deste ano, o que deve fazer com que a economia do País tenha expansão superior a 3% em 2024.
"No terceiro trimestre, que ainda não saiu o dado, teremos possivelmente um crescimento de 0,7%, 0,8%, uma queda muito forte do desemprego", disse ele. "Íamos começar este ano com um consumo fraco, mas à medida que os juros fossem caindo, a economia ia crescer mais rápido. Não foi o que aconteceu."
O economista disse que a economia deve crescer o dobro do que se esperava no começo do ano pelo quarto ano seguido. Esses seguidos desvios das expectativas se devem, de acordo com ele, em parte, por uma mudança no crescimento estrutural do País, devido a reformas realizadas nos últimos 10 anos.
"Um país que fez muitas reformas, reforma trabalhista que teve um impacto muito positivo, mudança de marcos regulatórios", disse Mansueto.