Lucro dos três maiores bancos privados do Brasil sobe 22% e atinge R$ 74,8 bi em 2024

Os três maiores bancos privados do País encerraram 2024 com lucro líquido de R$ 74,8 bilhões, um crescimento de 22,1% em relação a 2023, de acordo com dados compilados pelo Estadão/Broadcast. Os resultados foram alavancados pelo crescimento do crédito, um cenário que deve mudar em 2025. Com a previsão de juros em alta e economia em desaceleração, os bancos esperam colocar o pé no freio.

A maior expansão de carteira foi a do Itaú, com crescimento de 15,5% em um ano. Houve influência do câmbio, que eleva o saldo de empréstimos a empresas denominados em dólar, mas o banco também cresceu entre micro, pequenas e médias empresas e na carteira de pessoas físicas. Em ambos os casos, o foco foi nos clientes com melhor capacidade de pagamento.

Em cartões de crédito, por exemplo, o banco teve crescimento de 4,9% em relação ao final de 2023. Essa expansão foi concentrada nos segmentos Uniclass e Personnalité, de média e alta renda, em que a alta da carteira no mesmo período foi de 17,5%.

No Santander, o foco foi em determinadas linhas de crédito. Na financeira, por exemplo, o banco teve crescimento de 20% na carteira de automóveis, em que aposta para ampliar as vendas cruzadas de produtos e serviços à base de clientes. Em cartões, 88% dos clientes são correntistas.

"Nós não fazemos a gestão do banco pela margem financeira bruta, mas sim pela margem líquida, ajustada pelo risco", afirmou o presidente do Itaú, Milton Maluhy. Com esse foco, entre 2022 e o ano passado, o banco reduziu de forma relevante a exposição a clientes de maior risco, como os de baixa renda.

O Bradesco também deu maior destaque à margem financeira líquida, que cresceu 32,7% no ano passado com a queda de 24,9% nas provisões contra a inadimplência. "Não estou trabalhando com a expectativa de que a gente tenha problema na inadimplência, estamos muito seguros com o que estamos originando", disse o presidente do banco, Marcelo Noronha, em entrevista à imprensa.

Cautela

O cenário neste ano deve ser diferente. Os bancos esperam um aumento da rentabilidade, mas a carteira de crédito deve crescer menos. O Itaú prevê alta de até 8,5%, por exemplo, e considera que a margem deve ter expansão maior, de até 11,5%.

O Santander não informa guidances (indicação dos próximos passos), mas também sinalizou que o ano será de desaceleração. "É provável crescer na mesma ordem de grandeza de 2024. É pouco provável nós crescermos mais", disse o presidente do banco, Mario Leão, à imprensa.

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No Bradesco, a expectativa é crescer de 4% a 8%. No ano passado, o banco expandiu a carteira de crédito em 11,9%, em uma retomada após dois anos de desaceleração para reverter o crescimento na inadimplência da carteira. "Tem uma regulagem do nosso apetite a risco, que se reflete no nosso guidance", afirmou Noronha.

O motivo para as projeções menos otimistas é o cenário mais difícil na economia, com a alta dos juros. Além de consumir uma fatia maior da renda das famílias, a Selic mais alta deve colocar um freio na atividade, aumentando o desemprego. Tudo para conter a inflação, que ainda deve fechar o ano acima do teto da meta oficial.

O Itaú, por exemplo, prevê que a Selic chegará a 15,75% ao ano no final de 2025, 2,5 pontos porcentuais acima do patamar atual. A equipe de análise econômica do Bradesco afirmou, em relatório divulgado na quarta-feira, que o cenário de uma recessão na segunda metade deste ano ficou mais provável.

Estes cenários se refletem em outros pontos das projeções dos bancos. O Itaú, por exemplo, espera que as provisões contra a inadimplência cresçam neste ano. "Vemos o patamar de provisionamento do banco como resultado da incorporação de um cenário muito desafiador, o que pode deixar espaço para reversão caso a economia mostre resiliência, ou formar um escudo caso o cenário ruim se confirme", afirmou o analista Gustavo Schroden, do Citi, em relatório.

A equipe do Safra considerou que embora apontem na mesma direção, os guidances de Itaú e Bradesco contam histórias diferentes. "Diferente do guidance do Itaú, que tem tom conservador e parece desenhado para ser superado, o do Bradesco parece ter um alvo que exige grande esforço, especialmente considerando a alta de 15% esperada para a margem líquida", escreveu o analista Daniel Vaz.

Maluhy, do Itaú, disse que o banco está preparado para crescer mais que o previsto se houver espaço. "A nossa velocidade de reação para qualquer cenário que venha à frente é muito rápida. Não são decisões que você toma em 30 ou 60 dias, são decisões que você toma todos os dias", afirmou em teleconferência com analistas.

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Noronha deu sinais na mesma direção. Segundo ele, o Bradesco começou a desacelerar o crédito já no quarto trimestre do ano passado, mas não descarta surpresa positiva caso o cenário-base do mercado não se confirme.

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