Incerteza na política econômica e, em especial, na política comercial tem crescido, diz Guillen

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, ressaltou nesta quinta-feira, 27, uma preocupação da autoridade monetária, que já vem sendo demonstrada nos documentos oficiais da instituição: o aumento das incertezas. "Torna-se relevante neste momento a discussão da incerteza. Como a gente colocou no comunicado, na ata, a discussão da incerteza de política econômica e, em particular, de política comercial", enfatizou durante entrevista coletiva para detalhar o Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado no período da manhã.

Guillen apresentou um gráfico que mostra o aumento das incertezas em comparação aos precedentes históricos e também da discussão de política comercial.

"Entra-se na discussão de como é que um choque de incerteza traz a atividade para baixo, ou pode trazer para cima. Então, acho que é um debate importante, que pode levar à mudança de política", ressaltou o diretor.

Parcimônia

Guillen destacou a cautela da autoridade monetária na leitura dos indicadores que sugerem desaceleração da atividade econômica. "Temos tentado falar sobre parcimônia no acompanhamento dos dados de atividade", comentou.

Ele ressaltou que o contexto externo tem gerado mais dúvidas sobre a atividade e o ritmo de desinflação nos Estados Unidos, exigindo cautela dos mercados emergentes por incerteza e volatilidade.

As expectativas para a inflação deste ano em economias emergentes, pontuou Guillen, tiveram piora, enquanto as projeções para 2026 variam entre prognósticos no centro e outros no intervalo da meta.

A avaliação é de que, no cenário externo, começa a ser observada alguma inflexão na resiliência da atividade, sendo que nos Estados Unidos o crescimento vem caindo trimestre a trimestre.

Em paralelo, Guillen mencionou o debate sobre como vai se dar rebalanceamento no mercado de trabalho americano entre, se o número de vagas por desempregado vai mudar ou não.

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Olhar para vários dados

O diretor de Política Econômica do Banco Central enfatizou que há uma moderação da atividade em linha com as projeções da autoridade monetária, em especial do consumo das famílias e que há um ajuste sazonal no Produto Interno Bruto (PIB), que mostra uma expansão maior do que o ajuste de seus componentes. Para ele, a discussão não deve ser sobre qual ajuste olhar, mas, sim, monitorar os diferentes dados, conforme avaliou.

Guillen ressaltou que os indicadores estão exibindo sinais compatíveis com a moderação do cenário básico do BC. Citou, por exemplo, que os indicadores de confiança, que costumam ser mais subjetivos, têm apresentado uma queda mais acentuada. Ele destacou que não é possível, porém, se ater a um dado específico, mas criar a construção dos cenários.

Ao comentar sobre um dos boxes que acompanham o RPM, o diretor salientou que a cúpula do BC já discute o ritmo do PIB, antes que ele passe a apresentar porcentuais menores. "Dependendo de como se faz o ajuste sazonal - se faz o ajuste sazonal em cima do PIB ou dentro dos componentes do PIB -, a interpretação vai ser diferente, vai ser de um pensamento muito mais forte se você faz o ajuste direto no PIB do que nos componentes", explicou.

Guillen disse que isso é necessário porque, primeiro: não se sabe qual será o resultado do PIB. E, depois, como vai se dar a sua composição. "Então passa por fazer várias simulações sobre quais são as possíveis composições de demanda e de oferta do PIB." Ele voltou a dizer, por exemplo, que a instituição tem olhado diferentes metodologias e observado os pós e contras de cada um dos seus ajustes.

Sobre os dados que já saíram, o diretor destacou que houve um esfriamento maior do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo. "No relatório de inflação a gente abre falando sobre os setores mais sensíveis ao ciclo para tentar entender o que está acontecendo com esses setores e fica mais claro que foram esses setores que tiveram uma desaceleração maior no primeiro ano", explicou ele, se referindo ao RPM, antigo relatório de inflação.

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Sobre os países emergentes de forma geral, Guillen destacou que o corte de juros prossegue, mas em menor margem do que o previsto anteriormente. Segundo ele, na maior parte dos países o ciclo corrente está próximo do que se espera para 2025 ou um pouco abaixo. E para 2026, segundo o diretor, prossegue esse processo de normalização da política monetária, indicando a continuidade dos ciclos de corte. "O Brasil está destoando do ciclo", voltou lembrar.

Foi esse o gancho usado por Guillen para tratar do PIB, citando que nos últimos anos as projeções para o crescimento do País foram sempre revisadas para cima. "Não só foi um crescimento forte, como foi um crescimento muito surpreendente", recordou, citando as mudanças feitas semana a semana no Focus. "Isso vale para o Focus e isso vale para nós."

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