Governo devolverá R$ 292,7 milhões a beneficiários do INSS a partir do dia 26

A partir da quarta-feira, 14, aproximadamente 9 milhões de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) receberão uma notificação sobre descontos associativos em seus pagamentos. Essa notificação é o primeiro passo para que aposentados e pensionistas possam verificar e contestar descontos indevidos. Os valores são referentes ao desconto do mês de abril. A previsão é a de que sejam devolvidos R$ 292,7 milhões.

Essa notificação estará disponível nos canais Meu INSS e na central de atendimento 135.

Segundo o Ministério da Previdência, será possível saber qual foi a associação que realizou o desconto, o valor cobrado e por qual período. Se o segurado reconhecer esses descontos, não precisará fazer nada. Se desconhecer, poderá contestar dentro dos próprios canais. Essa contestação será feita de forma automática, e o sistema irá acionar a associação para que justifique a cobrança.

"Ele simplesmente vai clicar e falar: esse desconto eu não reconheço, eu não autorizei, eu não dei autorização para aquela associação fazer", afirmou o presidente do INSS, Gilberto Waller, à imprensa em entrevista realizada no dia 8 deste mês. "Não autorizem ninguém a falar com o INSS. O contato é direto, não precisa se socorrer de intermediários. Ninguém fala no INSS a não ser você. Não caia em novos golpes", disse ainda o presidente do INSS.

'Defesa' e cronograma de devolução

As associações que tiverem os descontos contestados terão 15 dias úteis para apresentar uma espécie de "defesa". Para isso, devem apresentar documentos que comprovem a filiação, a autorização para o desconto e a identidade do segurado.

Se a entidade não conseguir comprovar a autorização para desconto, ela deve devolver os valores por meio de depósito ao INSS, que repassará a quantia ao beneficiário por meio de folha suplementar, creditada na conta onde o benefício é pago.

Esse pagamento será feito no calendário habitual de recebimento do benefício, e, assim como o benefício regular, obedecerá ao dígito final do número do NIS.

O que foi anunciado até agora?

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A atual crise no INSS é a mais recente no histórico do órgão, que convive com fraudes desde a sua criação, nos anos 1990. Apesar de ter sido deflagrada pela Polícia Federal (PF) e Controladoria Geral da União (CGU) em abril deste ano, os indícios de irregularidades já eram conhecidos desde o ano de 2018, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer.

A auditoria da CGU mostrou que o valor dos débitos saltou 34% em 2018, mas caiu nos dois anos seguintes, em 2019 e 2020. Depois disso, voltou a subir a partir de 2021, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2023, aumentou 84%, para disparar 119% em 2024, já no governo Lula.

Ainda em 2023, a CGU deu início a uma série de apurações sobre o aumento do número de entidades e dos valores descontados dos aposentados. Foram realizadas auditorias em 29 entidades que tinham Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. Também foram realizadas entrevistas com 1.300 aposentados que tinham descontos em folha de pagamento.

Foi então que a CGU descobriu que a entidades não tinham estrutura operacional para prestar os serviços que ofereciam aos beneficiários e que, dos entrevistados, a maioria não havia autorizado os descontos. A CGU também identificou que 70% das 29 entidades analisadas não tinham entregue a documentação completa ao INSS, segundo relatório da Controladoria.

Operação Sem Desconto

A operação Sem Desconto, de abril deste ano, cumpriu 211 mandados de busca e apreensão cumpridos e outros 6 mandados de prisão temporária, sendo 3 cumpridos e 3 alvos foragidos.

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No processo, 11 entidades associativas foram alvo de medidas judiciais. Em troca dos descontos mensais, elas afirmam que prestam serviços dos mais diversos tipos, como assistência funerária, consultas médicas e "maridos de aluguel" (reparos em residências).

Confira abaixo o nome das entidades e a data dos acordos firmados.

Contag (1994)

Sindnapi/FS (2014)

Ambec (2017)

Conafer (2017)

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AAPB (2021)

AAPPS Universo (2022)

Unaspub (2022)

APDAP Prev (anteriormente denominada Acolher) (2022)

ABCB/Amar Brasil (2022)

CAAP (2022)

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AAPEN (anteriormente denominada ABSP) (2023)

A operação abriu uma nova crise institucional e política no governo, que culminou com a demissão de Lupi do cargo. Antes dele, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, também havia sido afastado por decisão judicial. Porém, após pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo pediu demissão.

Plano de ressarcimento

O plano de ação do que seria feito para ressarcir os aposentados só foi anunciado no dia 8 de maio. Em coletiva de imprensa, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, afirmou que o ressarcimento primário virá dos valores a serem devolvidos pelas entidades que realizaram os descontos indevidos. O uso de recursos do Orçamento federal será uma alternativa secundária, segundo disse.

O novo presidente do INSS, Gilberto Waller, anunciou que os beneficiários seriam informados pelo aplicativo "Meu INSS", sobre a ausência de descontos de associações em seus benefícios.

Além disso, o governo apresentou uma ação pedindo o bloqueio de bens de associações suspeitas de fraude contra aposentados, com a Advocacia Geral da União (AGU) exigindo o bloqueio de R$ 2,56 bilhões dessas entidades.

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Messias explicou que o bloqueio de bens das entidades e seus dirigentes visava garantir o ressarcimento dos aposentados.

Segundo relatórios de inteligência, são identificados dois grupos de infrações à Lei Anticorrupção:

- Entidades associativas com indícios de pagamento de propina a agentes públicos para viabilizar o esquema criminoso;

- Entidades de fachada, criadas exclusivamente para fraudar aposentados e pensionistas, atuando como laranjas.

O ministro da AGU informou ainda que as entidades que não responderem ou derem respostas insuficientes às contestações dos beneficiários serão obrigadas a ressarcir os valores. Caso não cumpram, o ressarcimento será assumido pelo Tesouro Nacional.

O valor a ser ressarcido pelo Tesouro ainda será calculado e analisado pela Junta de Execução Orçamentária (JEO) para definição de como será acomodado no orçamento federal (remanejamento de despesas ou crédito extraordinário).

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Messias considerou "prematuro" o debate sobre a base legal para um possível crédito extraordinário para o ressarcimento.

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