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As 5 verdades incovenientes que a S&P nos revelou sobre o Brasil

18/02/2016 20h07

SÃO PAULO - O corte da nota do Brasil anunciado na quarta-feira (17) acabou pegando muita gente desprevenida, apesar da expectativa que já rondava o mercado sobre um rebaixamento. Porém, tanto o relatório apresentado junto à decisão, quanto a conferência realizada mostraram algumas verdades sobre como a S&P vê o país. E elas não são nada boas.

A reação do mercado não foi muito forte, mas a agência de classificação de risco deixou diversos alertas para o futuro, e alguns parece que as pessoas não estão querendo escutar.

Confira abaixo alguns pontos importantes que a S&P disse sobre o Brasil:

1) Corte reflete cenário doméstico, e não o exterior

A diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor's, Lisa Schineller, afirmou que o novo corte da nota brasileira é reflexo principalmente de fatores domésticos, e não de problemas externos.

O cenário externo mais desfavorável - com a China em desaceleração, queda das commodities,instabilidade do mercado financeiro mundial e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevando juros - traz desafios adicionais ao Brasil, mas são os problemas internos que têm pesado mais na economia e na avaliação do risco de crédito do país, disse Lisa em teleconferência para comentar o novo rebaixamento da nota do Brasil.

"O cenário externo não está guiando as ações no rating brasileiro. A trajetória de rebaixamento dos ratings está vindo mais dos resultados da ação ou da falta de ação da política econômica doméstica", afirmou a diretora da S&P. "O cenário externo torna as coisas mais difíceis, mas a história de crescimento, tão fraca como está, não é por conta dos preços das commodities", salientou Lisa.

2) Não há prazo para nova revisão

Segundo Lisa, uma revisão vai depender de mudanças que ocorram na dinâmica política e econômica do país. Questionada se a aprovação da CPMF no Congresso seria um fator capaz de levar a S&P a mudar ao menos a perspectiva do rating, que foi mantida em "negativa", Lisa evitou falar em fatores específicos.

A diretora ressaltou que a mudança da avaliação depende, por exemplo, que as trajetórias fiscal e do PIB sinalizem melhora, ao invés de sinalizarem piora, como vem ocorrendo nos últimos meses. As projeções para o PIB, por exemplo, vêm sendo constantemente revisadas para baixo.

Nesse cenário, Lisa disse que é preciso ver no Brasil condições "para execução mais consistentes de políticas econômicas". A melhora da situação política no Congresso seria um fator que contribuiria para mudar esse cenário, pois teria impacto positivo na confiança dos investidores e consumidores. Por enquanto, a S&P vê os riscos para as contas fiscais e o PIB pendendo mais para o lado negativo e não espera avanços no curto prazo.

3) Desafios do Brasil são consideráveis

Os desafios econômicos e políticos no Brasil em 2016 são consideráveis e o cenário continua a se deteriorar. Esse contexto aumenta os riscos para a execução da política econômica e pesa na avaliação de risco de crédito do país.

Lisa disse que é difícil ver neste momento sinais de melhora do cenário em meio às discussões de impeachment no Congresso e a ampliação das investigações de corrupção na Petrobras, que tem atingido políticos em Brasília. Nesse ambiente, a confiança dos investidores e consumidores segue baixa. "O Brasil terá em 2016 outro ano de significativa contração da economia", afirmou a diretora da S&P. Ela ressaltou que a tendência é que a trajetória fiscal continue se deteriorando.

Para a diretora da S&P, o andamento dos procedimentos de impeachment no Congresso deve fazer o ajuste fiscal demorar ainda mais. "Os riscos para a execução de política, sobretudo fiscal, permanecem muito altos", disse ela, destacando que os riscos tendem para o lado negativo, tanto nas perspectivas para o Produto Interno Bruto (PIB) como para as contas fiscais.

"Aprovar medidas para melhorar a trajetória fiscal será bastante desafiador", afirmou a diretora da S&P. "É muito difícil prever uma estabilização dessa dinâmica muito negativa até haver mais clareza do lado político."

4) Petrobras pode receber ajuda do governo

A revisão do rating do Brasil também levou em conta o enfraquecimento do perfil financeiro da Petrobras. Apesar da preocupação com a petroleira, a S&P vê "probabilidade muito alta" de o governo socorrer financeiramente a companhia no caso de necessidade de recursos.

"Esperamos que o governo esteja lá, forneça ajuda extraordinária caso a Petrobras precise", disse Lisa. A diretora da S&P ressaltou que a agência de classificação de risco mudou a avaliação que faz dos passivos contingentes do setor financeiro brasileiro e de todas as entidades públicas não financeiras brasileiras (incluindo a Petrobras) como "moderados". Essa mudança foi puxada pela piora da dívida da Petrobras, que equivale a 7% do PIB.

Lisa explicou que com essa revisão dos passivos contingentes, por causa da Petrobras, e com os deficits do governo e a dívida líquida na média de 7% e 60% do PIB, respectivamente, durante 2016/2018, a S&P acredita que não há mais flexibilidade de política suficiente para que a agência de classificação de risco possa distinguir os ratings em moeda local e os ratings em moeda estrangeira do País. Por isso, as duas notas foram rebaixadas ontem para o mesmo nível "BB".

5) Cenário dos bancos também não é bom

Questionada durante da teleconferência sobre a situação dos bancos brasileiros, Lisa frisou que os bancos pequenos e médios já têm ratings mais baixos e estão em situação mais vulnerável. Para o sistema como um todo, a previsão é que a desaceleração do crédito continue e que a inadimplência possa aumentar.

Sobre o crédito, Lisa ressaltou a intenção do governo de estimular os empréstimos, mas ela não acredita que há muito apetite do setor privado por recursos dos bancos neste momento. É uma questão, disse ela, de demanda.

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