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Após visita ao Brasil, banco Goldman Sachs traça cenário negativo para o país

23/02/2016 11h40

SÃO PAULO - Após uma visita de três dias ao Brasil, em que esteve com integrantes da Fazenda, do Banco Central, do BNDES e da Petrobras, o Goldman Sachs traçou um cenário nada favorável para o Brasil.

O sentimento local continua negativo dada a deterioração macroeconômica, política e do ambiente social, e da visão dominante de que a situação ainda terá que piorar antes de melhorar.

"Há uma percepção crescente entre os investidores e analistas locais de que o Brasil está em uma trajetória que pode eventualmente levar à insolvência financeira a médio prazo, e a principal preocupação é de que as autoridades ainda têm que mostrar vontade ou força política para lidar de forma bem-sucedida com relação a esses temas em meio aos desafios crescentes", afirma o diretor de pesquisa para mercados emergentes do banco, Alberto Ramos.

Crescente desequilíbrio

O economista ressalta que o tratamento do crescente desequilíbrio financeiro será muito difícil. Isso porque a economia dificilmente pode tolerar uma carga fiscal mais elevada e o corte de gastos é difícil dada a rigidez da despesa corrente e há a falta de vontade política para reduzir o tamanho do setor público. "As perspectivas para reformas fiscais de médio prazo significativas são sombrias", afirma Ramos.

Assim, os locais veem um risco maior de que, se não endereçadas, as preocupações com a sustentabilidade da dívida poderiam eventualmente se transformar em algo muito perturbador e desencadear uma evolução macroeconômica e financeira adversa, com um claro impacto negativo sobre a moeda e a inflação. "Além disso, considerando a recessão prolongada e profunda, os locais estão cada vez mais focados na evolução da inadimplência na economia", destaca.

"Com a recessão contínua e o contínuo aperto das condições de crédito, pode-se testemunhar uma deterioração mais visível na qualidade do crédito, com consequências potencialmente prejudiciais para o sistema financeiro e para a economia", afirma Ramos.

Crise política

Além dos riscos macroeconômicos, Ramos ressalta que há uma série de riscos e incertezas relacionadas com as implicações legais e políticas da Operação Lava Jato, o resultado do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso e a ação de cassação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra Dilma e seu vice, Michel Temer.

Por último, mas não menos importante, estão os desafios enfrentados pela Petrobras. 

Perspectivas ruins

Conforme destaca o Goldman, o quadro econômico global permanece fraco e a economia extremamente frágil: 2016 está se configurando como um outro ano extremamente difícil, com o PIB devendo contrair entre 3% e 4% (com alguns analistas locais agora flertando com queda de 5%), seguindo a contração estimada de 4% da atividade em 2015.

"As autoridades reconhecem os desafios à frente, mas são um pouco mais otimistas sobre o caminho a seguir para a economia, particularmente para o segundo semestre", afirma o banco. Contudo, o cenário segue incerto, uma vez que não está claro que tipo de recuperação haverá, dada a maior incerteza política e econômica. Consistentemente, é esperado que a taxa de desemprego continue a aumentar ao longo de 2016, atingindo dois dígitos, afirma. Soma-se a isso, a expectativa de alta inflação neste ano, com expectativa de alta de 7% em 2016. 

Sobre o câmbio, Ramos ressalta que a maioria dos analistas são da visão de que o real deve se depreciar mais em 2016, entre R$ 4,30 e R$ 4,40, em meio ao ambiente de inflação doméstica e falta de progresso na questão fiscal. Além disso, analistas locais não descartam um choque de depreciação maior da moeda maior, acima de R$ 4,50, dado o ambiente macro, a política doméstica volátil e a resposta política inadequada para os desafios futuros. 

Já o fiscal deve ficar "no vermelho" pelo terceiro ano seguido, com o país registrando um deficit primário de cerca de 1% do PIB este ano, dada a falta de vontade por parte do governo de cortar gastos correntes. Enquanto isso, o saldo de transações correntes mostram continuidade do ajuste das contas externas. 

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TV Folha