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E se o BC não intervir no câmbio? Veja até onde o dólar pode cair e os efeitos na economia

14/06/2016 08h01

SÃO PAULO - Ilan Goldfajn acabou de ser empossado oficialmente como presidente do Banco Central, mas o mercado já está mudando completamente suas projeções no câmbio por conta das declarações feitas pelo ex-economista-chefe do Itaú Unibanco em sua sabatina no Senado. Agora, a expectativa é que a autoridade monetária pare de intervir e que isso leve também a uma queda da taxa básica de juros. Mas será que isto realmente irá acontecer? Ou melhor, isto é positivo para o mercado?

Em discurso na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, onde foi sabatinado pelos parlamentares, Ilan disse que haverá "respeito ao regime de câmbio flutuante" e também defendeu a reconstituição do tripé macroeconômico,  formado por responsabilidade fiscal, controle da inflação e regime de câmbio flutuante, "o que permitiu ao Brasil ascender econômica e socialmente em passado não muito distante", diz o economista.

Com isso, o mercado entendeu que o novo chefe do BC não deverá intervir no mercado cambial, algo que ocorreu com frequência nos últimos anos com o comando de Alexandre Tombini. Talvez por isso os investidores resolveram "testar" o Banco Central antes mesmo de Ilan assumir: o resultado foi o dólar mergulhar de R$ 3,60 para R$ abaixo de R$ 3,40 do final de maio até o começo de junho. Mas como fica a perspectiva para a moeda com esse novo cenário de atuação do Banco Central?

R$ 3,30? R$ 3,00?
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, no curto prazo devemos continuar vendo uma forte pressão, o que pode levar a moeda a se aproximar de R$ 3,30 ou mesmo abaixo disso. Mas o mercado em geral agora deve entrar em um "compasso de espera", ou seja, a ideia é ver não só como será a atuação do BaCen, mas como andará a economia daqui para frente. "O mercado continuará testando a autoridade, mas se a economia começar a dar sinais de melhora, o ajuste virá dos próprios investidores, e não do BC", afirma.

Enquanto isso, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, afirma que há espaço para uma queda a níveis abaixo de R$ 3,30, mas que isto seria apenas provisório. " A partir de 01 de setembro os swaps irão vencer, na faixa de US$ 9 bilhões por mês. Há também a expectativa por um corte da Selic e a alta dos juros pelo Fed", lembra ele, ressaltando que se a moeda for até R$ 3,20, isto não irá se sustentar, levando o dólar a fechar o ano entre R$ 3,50 e R$ 3,60.

Já a equipe de produtos estruturados da XP Investimentos vai além e enxerga o dólar testando os R$ 3,00 caso o processo de repatriação de recursos no exterior comece a andar. Isso porque a dificuldade de projetar qual será o impacto de fluxo para o Brasil ainda é muito difícil de prever, por isso mesmo este evento ainda não está fazendo preço no mercado, explicam os analistas da XP.

Fim das intervenções: pontos positivos...
Apesar de não ser possível prever até onde a moeda irá cair, é unanimidade que, sem o BC, o mercado deverá manter o dólar mais próximo dos R$ 3,00. Segundo Galhardo, o primeiro efeito seria um alívio na pressão inflacionária, que poderia começar a caminhar para a meta. Isso ocorreria porque a queda do dólar reduz o preço de diversos produtos que são importados ou que tem parte de seu custo atrelado a importação de produtos, o que reflete diretamente na inflação final.

Com a inflação menor, o Copom (Comitê de Política Monetária) teria espaço para iniciar a tão esperada redução da taxa básica de juros, a Selic. Com isso, lembram os analistas da XP, o mercado começaria a ver uma entrada de fluxo já que a economia estaria dando os primeiros sinais de uma recuperação real.

Há ainda um terceiro fator positivo, mas neste caso é mais restrito. A equipe da XP lembra que o impacto na Petrobras (PETR3; PETR4) de um dólar mais baixo seria extremamente positivo, já que a companhia tem hoje uma grande dívida em dólar. Segundo a própria companhia,  72,3% de sua dívida total foi contraída em dólar, o equivalente a R$ 325,436 bilhões. Com isso, a companhia poderia ter seu caixa aliviado o que, por ser uma estatal, também traz um impacto positivo no humor do mercado com o governo.

... e pontos negativos
O grande impacto de um dólar mais baixo é na balança comercial brasileira, pressionada pela perda de competitividade das empresas nacionais contra concorrentes estrangeiras. Para Galhardo, esse risco deve deixar o governo atento, podendo até mesmo voltar com as intervenções para evitar que a moeda recue mais do que devia. "É preciso lembrar que a economia doméstica não mudou nada, e a única coisa boa até agora é o superávit da balança comercial", lembra.

Até o final de maio, o Brasil apresenta um superávit comercial de US$ 19,7 bilhões.

O diretor da Treviso explica ainda que a única "salvação" para o governo seria se a economia realmente começasse a dar sinais de uma recuperação mais consistente. "Se o governo anunciar outras medidas e isto refletir na economia, ajudando nos negócios, então a queda do dólar não seria tão negativo para as empresas, e o BC poderia continuar sem intervir", explica.

Em geral, os analistas acreditam que o governo teria outras formas de "contornar" este problema com novas medidas, mas isso demandaria muito tempo e que o Congresso colaborasse na aprovação destes ajustes. "Apenas com o que temos hoje, se o dólar realmente cair mais, os efeitos na balança comercial já serão sentidos nos próximos meses, será inevitável", conclui Galhardo.