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Analistas não conseguem ignorar riscos para Petrobras mesmo com "CEO dos sonhos"

16/06/2016 14h07

SÃO PAULO - "Produtiva e encorajadora", segundo o Santander. "Dirigindo na mesma estrada", de acordo com o Credit Suisse. "Fascinante, mentalidade ideal", aponta o BTG Pactual. Na última sexta-feira, o novo CEO (Chief Executive Officer) da Petrobras (PETR3;PETR4), Pedro Parente, participou de encontro com diversos analistas que cobrem as ações da companhia. Além do novo CEO, a diretora de Exploração e Produção Solange Guedes, o diretor de refino e gás natural Jorge Ramos e o diretor financeiro Ivan Monteiro estavam presentes.

Em relatório, a maior parte dos analistas destacou a boa impressão que o novo presidente da estatal passou, ressaltando que ele trouxe uma "mensagem clara" de que a gestão trabalhará no sentido de se recuperar financeiramente, com pouca interferência política, como destaca o Haitong. 

Durante o encontro, o CEO voltou a afirmar que a política de preços do diesel e da gasolina visa maximizar os resultados da empresa e não será vinculada a qualquer política macroeconômica. Ele também destacou que não há "dogma" na política de preços. Já a diretora de exploração e produção reiterou que a produção nacional deve ficar em 2,145 milhões de barris por dia em 2016, 7% acima da estimativa de 2,01 milhões de bpd da Haitong. Já Monteiro afirmou que a empresa vai continuar a estender a duração da dívida nos mercados internacionais e que a demanda recente para títulos da Petrobras tem impressionado a gestão. Jorge Ramos, por sua vez, mencionou que os preços domésticos são o resultado de muitas variáveis e não apenas dos preços internacionais, como a capacidade de refino doméstica.

O Credit Suisse destaca que a nova gestão quer entregar quatro medidas principais: (1) reforçar e estender suas parcerias em diferentes segmentos de negócio, usando como modelo o segmento de Exploração e Produção; (2) a consolidação do profissionalismo das ações da diretoria, incluindo-as nas decisões de alocação de capital; (3) fazer o ajuste de preço de combustível ser uma atividade técnica e recorrente (apesar de não terem sido claros se será uma formula automativa ou outro tipo de política); e (4) a cultura de gestão da empresa. 

Assim, reforçam os analistas Wesley Bernabé e Viviane da Cruz Silva, do BB Investimentos, a governança corporativa será uma das prioridades do novo CEO, assim como o processo de desalavancagem, este último também destacado pelo BTG Pactual e pela Santander Corretora. 

"A desalavancagem continua a ser o objetivo principal, sem ter que contar com a ajuda do governo para atingir esse objetivo. Em outras palavras, a gestão expressa a crença de que pode atingir o seu objetivo de desalavancagem cortando opex (custo de operação), reduzindo capex (investimento em bens capital), aumentando desinvestimentos e contando com uma abordagem racional para precificar seus principais produtos como gasolina e diesel", avaliam os analistas Christian Audi e Gustavo Allevato, da Santander Corretora. Assim, os analistas reforçam que a gestão procura implementar uma mentalidade focada em retornos, buscando implementar regras claras dentro da empresa, de modo a facilitar o movimento em direção a essa mentalidade. 

Desta forma, a maior parte dos analistas reforçam a impressão, com base na reunião, de que está se dando liberdade e apoio para exercer as mudanças tão esperadas para a companhia. 

Mas o que isso muda na companhia?
Apesar da boa impressão que Pedro Parente passou na reunião com os analistas, muitos deles ainda estão "esperando para ver" as mudanças da companhia ou apontam que ela já estava no caminho proposto pelo atual CEO desde o seu antecessor, Aldemir Bendine, conforme destaca o Credit. "Nessa linha, em termos  de valor, não enxergamos em valorização atrativa a esses níveis", afirma. 

Já segundo os analistas do BB-BI, embora os mesmos riscos permaneçam, na nossa opinião, a empresa será agora capaz de prosseguir no sentido de focar no "core business", depois de esforços ao longo dos últimos quinze meses para cessar a dívida crescente, demonstrações financeiras auditadas e a revisão do plano estratégico de longo prazo.

Conforme aponta o Credit, a mensagem da gestão da companhia foi positiva, mas boa parte dos anúncios recentes já estavam no radar, sendo que nenhum deles era algo que não estava no caminho para ser implementado. "Desta forma, nós achamos que os próximos meses não serão disruptivos; contudo, haverá maior probabilidade de realizar mudanças estruturais além das previstas anteriormente". 

Assim, apesar do ânimo com o evento, os analistas seguem cautela: o Credit tem recomendação underperform (desempenho abaixo da média) para os ADRs da companhia, com preço-alvo de US$ 2,00, enquanto o Santander e o Haitong mantém recomendação neutra para os ativos. "De acordo com  a gestão, a revisão do plano de negócios poderá ser divulgada dentro dos próximos 120 dias e a execução do plano de desinvestimento deve continuar como um dos principais riscos da tese de investimento da empresa, além de volatilidade internacional dos preços do petróleo. No lado positivo, o real forte produziria impacto positivo nos níveis de dívida bruta. Em resumo, nós mantemos a recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado)", ressalta o BB-BI. 

Os analistas do Bank of America Merrill Lynch Frank McGann e Vicente Falaga Neto também seguem com recomendação neutra para os papéis, apesar de ver potencial de valorização com a melhora do cenário político e econômico para o Brasil. "Nós acreditamos que a ação já está precificando uma melhoria significativa dos riscos macroeconômico. Destacamos também preocupações sobre outros riscos-chave, tais como os processos e investigações em curso nos EUA e no Brasil, o que leva a uma visibilidade baixa para os papéis", afirmam os analistas.