Gigante Viking: surpresa na Eurocopa, Islândia tem muito a ensinar à economia global
SÃO PAULO - Para a maior parte do mundo, a Islândia só surgiu agora que está surpreendendo na Eurocopa de futebol após não só se classificar para as oitavas de final, como também eliminar a Inglaterra da competição. Porém, o pequeno país de 330 mil habitantes ao norte da Europa não é surpresa nenhuma quando o assunto é economia, e eles já deram grandes lições para outros "gigantes" europeus após a crise de 2008.
Pode até parecer desonesto querer comparar a economia islandesa de outras grandes economias. Mas para um país que chegou a pedir falência, viu seus bancos quebrarem e sua moeda desvalorizar 80%, conseguir dar sinais de recuperação em menos de três anos pode ser considerado um feito de dar inveja aos vizinhos.
A economia da Islândia é modesta. Com um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 16,7 bilhões, o país é apenas o 110º na lista de maiores economias do FMI (Fundo Monetário Internacional). Mas o "pequeno gigante" está na 29ª colocação no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, na frente de países como Espanha (33º), Chile (35º), Itália (43º), México (57º) e Brasil (75º).
O país nórdico dependente em grande parte da pesca e da indústria relacionada a esta atividade, que respondem por quase 70% das exportações. Outras fontes importantes de exportação são alumínio, ferro-silício, equipamento para pesca e processamento de produtos marítimos e lã. O comércio exterior desempenha um papel importante na economia da Islândia, sendo que as exportações equivalem a um terço do PIB. A maior parte das exportações é para os Estados Unidos, e também para o Japão.
Antes de 2008, a Islândia era um país próspero, com baixas taxas de desemprego e inflação e uma economia que funcionava plenamente. Porém, com a crise do subprime tudo mudou radicalmente, levando o governo até a pedir falência em um cenário de quebra dos três maiores bancos do país e uma onde de protestos nunca vista. Mas a fórmula encontrada para a recuperação vai contra tudo que as pessoas pensam ser o "normal".
O governo não salvou os bancos - inclusive privatizou as três maiores instituições e deixou elas quebrarem -, manteve os benefícios sociais da população, implementou um controle de capitais e deu um calote bilionário em investidores internacionais. Além do mais, o que poderia ser a salvação lógica do país, a entrada para a União Europeia foi rejeitada pela maioria da população.
Neste mesmo período, a coroa islandesa teve queda de 80%, com uma recessão de quase 7% em um cenário onde o desemprego duplicou no país e atingiu quase 12%, ao passo que a inflação decolou para 20%. A dívida da Islândia chegou a representar 900% do PIB nos anos que se seguiram. A bolsa de valores de Reykjavik (capital do país) suspendeu completamente os negócios com ações e títulos entre os dias 9 e 13 de outubro de 2008.
Porém, no mercado financeiro, nada adiantou segurar as operações da Bolsa por três dias. Quando o mercado reabriu, os negócios tiveram queda de 76,2%. Foi a maior queda da história do índice OMX Iceland 15, o que passou o país da condição de uma economia de sucesso à situação de um estado falido.
Mas nem tudo estava perdido. O governo concedeu perdões à proprietários com dívidas superiores a 110% do valor da sua casa e reduziu a taxa de juros, especialmente para pessoas quem ganhasse menos ou tivesse filhos. E a recuperação começou a aparecer apenas três anos após o país falir. Em 2011, a Islândia cresceu 2,6%, seguido de um crescimento de 2,3% no ano seguinte.
A taxa de desemprego começou a reduzir, e hoje oscila entre 4% e 6%, ao passo que a inflação reduziu para os atuais 4%. A Islândia conseguiu pagar os empréstimos do FMI antes de tempo esperado e recuperou o grau de investimento pelas três principais agência de rating (Fitch, S&P e Moody's).
O presidente do país, Ólafur Ragnar Grimsson, atribuiu parte dessa recuperação ao fato de não ter levado em consideração os conselhos dos órgãos internacionais, em particular a Comissão Europeia, para que aplicasse medidas de austeridade. Grimsson foi bastante crítico à UE em 2014, quando estavam em destaque os problemas da Grécia, e recomendou que o bloco econômico tirasse suas conclusões sobre a crise e a recuperação da Islândia, pedindo a manutenção do equilíbrio entre "a democracia" e os "interesses econômicos".
Grimsson afirma que, hoje, o turismo e as exportações de pescados, sobretudo de bacalhau, são as bases do país. A indústria turística há três anos cresce a um ritmo entre 15% e 20%, o que a princípio ocorreu por conta da desvalorização da moeda, seguido pelo aumento das propagandas turísticas. Atualmente, por ano, cerca de um milhão de turistas visitam a Islândia, vindos sobretudo da Europa e dos Estados Unidos.
Se hoje a seleção de futebol do país mostra uma história de superação na Eurocopa ao derrubar gigantes do esporte, na economia a Islândia é um grande exemplo de poder de recuperação contras as adversidades. Será que o "milagre" econômico vai se repetir nos campos?
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