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Indicador inusitado: venda de cofres no Japão traz péssimo sinal para a economia global

21/07/2016 11h19

SÃO PAULO - Quando a economia vai bem e o salário é o bastante para viver confortavelmente e ainda sobra, a maioria das pessoas se torna mais tolerante a risco na hora de investir. O mercado financeiro passa a girar com um volume maior, a economia cresce, as empresas ficam mais otimistas para realizar novos projetos etc.

Por outro lado, se o momento é de crise, e o medo do desemprego se torna uma presença constante na cabeça do trabalhador, as pessoas buscam proteger o seu patrimônio, colocando o dinheiro no lugar mais seguro possível. Na maioria dos casos, isso significa um aumento nos investimentos em títulos públicos, já que a última coisa que se imagina que vai quebrar é o governo de um país. Mas e quando esses títulos pagam uma taxa negativa e o investidor, em vez de preservar a sua riqueza, vê essas aplicações "comerem" uma parte do seu dinheiro todo ano? 

Esse problema, impensável para países com taxas de juros tão altas quanto a do Brasil (atualmente 14,25% ao ano), é uma realidade no Japão. Lá, a taxa básica de juros é de -0,1% ao ano, em uma medida drástica e radical do BoJ (Bank of Japan, o banco central japonês), para estimular as pessoas a pararem de poupar e começarem a gastar dinheiro para impulsionar o consumo e, consequentemente, a economia. 

Embora, muitos façam exatamente o que o BoJ quer, alguns japoneses continuam cautelosos com a economia e, em vez de gastar, estão poupando o dinheiro da forma mais antiga que existe: colocando tudo no cofre. 

Isso fica claro ao analisarmos o número de vendas de cofres no país, que tem disparado desde o fim de 2015, como mostra o gráfico abaixo.

Segundo o head da Valor gestora de recursos, William Castro Alves, esse dado mostra um pouco de uma questão cultural, que é a menor propensão do japonês a consumir. "O investidor prefere deixar o dinheiro parado a consumir ou ganhar negativo no banco. Isso também tem reflexos no preço do ouro. O ouro vem sumindo no mercado japonês", afirma Alves. 

Para ele, isso mostra também uma  total aversão a risco, que é o sentimento de que nenhuma das medidas que o governo do Japão vem fazendo insistentemente será o bastante para salvar a economia do país, que enfrenta uma severa crise há mais de uma década. E essa aversão a risco não tem apenas razões internas.  " Desde o início de 2016, vem sendo falado que os 8 anos fatídicos pós-2008 mostram uma fraqueza nos mercados. As bolsas lá fora têm sinal de fraqueza e uma série de eventos gera receio acerca do crescimento global", afirma.

Ou seja, o mercado tem bons motivos para ficar preocupado se os japoneses continuarem comprando cofres. Não é de forma alguma um sinal de pânico, mas acende uma luz amarela para os mais otimistas.