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Até que ponto as manifestações de "Fora Temer" podem impactar a Bolsa?

05/09/2016 15h24

SÃO PAULO - O impeachment era considerado pelos investidores um fator chave para o Brasil. Mesmo com o mercado precificando nos últimos meses a saída definitiva de Dilma Rousseff - o que levou o Ibovespa a subir quase 60% desde fevereiro -, há uma grande expectativa de que agora com a confirmação deste novo governo de Michel Temer a Bolsa tenha espaço para subir ainda mais, principalmente se forem aprovadas as medidas econômicas no Congresso.

Mas agora existem outros temores para os investidores. Ainda durante o julgamento final de Dilma uma série de protestos tomou forma pelo país e no último domingo (4) cerca de 100 mil pessoas (segundo os organizadores) foram para a Avenida Paulista. Mas até que ponto isso tudo irá afetar o mercado e o humor dos investidores daqui para frente? Será que só a aprovação de medidas será suficiente para acalmar os ânimos?

Para Daniel Weeks, economista da Garde Asset, este é um risco, mas que não pesa agora no mercado. Segundo ele, o governo viu de forma errada esta questão dos protestos ao falar em "apenas 40 pessoas" (frase de Temer no sábado), mas se estas manifestações se mantiverem no nível atual não deve gerar nenhum problema para Temer.

O maior temor, segundo o economista, é que isto aumente e afete as discussões no Congresso, podendo impactar votações de medidas importantes. Porém, ele ressalta que as manifestações estão apenas no radar dos investidores, mas ainda não estão impactando o humor. "Ninguém virou a chave para pessimista por causa disso, mas é mais um fator de cautela", ressalta.

No último sábado, o presidente Temer disse que os protestos contra seu governo eram "inexpressivos" e realizados por "grupos mínimos". Cr iticando atos de violência, ele se referiu a manifestantes com uma pergunta: "As 40 pessoas que quebram carro?". Nesta segunda-feira (5), o  ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, seguiu a mesma linha e afirmou que o número de pessoas que protestaram contra o governo é "substancial", mas representa uma parcela minoritária da população.  "Já tivemos manifestações muito maiores, já tivemos manifestação de 1 milhão de pessoas", disse.

Volta de Dilma

Outra questão que tem aumentando a tensão política é a questão da divisão da votação do impeachment, que levou a uma série de recursos no STF pelo partidos pedindo a anulação da segunda votação. Para alguns, incluindo a advogada e autora do pedido de impeachment, Janaína Paschoal, o resultado pode ser o retorno de Dilma à presidência.

A advogada acredita que a provocação à corte pode levar à uma decisão de anular toda a votação, e não apenas a votação que permitiu que Dilma ocupasse funções públicas. “Se o impeachment for anulado, ainda que se marque novo julgamento, Dilma voltará imediatamente para o poder, pois terão passado os 180 dias”, afirmou Janaína em seu Twitter.

João Braga, gestor da XP Gestão, não vê neste tema um fator de grande risco para a Bolsa neste momento. Ele lembra que neste fim de semana diversos veículos de imprensa afirmaram que os ministros do STF já indicaram que estes recursos não terão nenhum resultado. Daniel Weeks também concorda e ressalta que os ministros mostraram a intenção de não interferir muito no processo de impeachment.

De acordo com o Estadão, citando três ministros que aceitaram conversar sobre o assunto reservadamente, a corte deve decidir que os senadores eram os “juízes naturais” do impeachment e, por isso, sua decisão é soberana e tem de prevalecer. A outra opção, de rever a decisão, levaria a instabilidade política e institucional mais prejudicial ao país, disseram os magistrados ao jornal.

Em geral, os analistas acreditam que o mercado segue cauteloso principalmente por conta das medidas econômicas que o governo precisa conseguir aprovar no Congresso. "Conforme estas medidas forem aprovadas, acredito que a Bolsa terá muito espaço para subir, ainda não precificamos este novo governo", afirma Braga. Já Weeks também lembrou o impacto externo nos negócios, principalmente por conta da mudança de projeções do mercado em relação à alta de juros nos Estados Unidos.

"Este ruído político contínuo parece estar pesando um pouco sobre os ativos brasileiros, no entanto, é muito cedo para dizer que as reformas econômicas necessárias não serão aprovadas", resumiu Mauricio Oreng, estrategista sênior do Rabobank, para a Bloomberg. Para ele, o atual risco "é decorrente dos dados de emprego dos EUA abaixo do esperado, e com o avanço do petróleo", que acabam tendo maior impacto nas moedas.