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Três grandes bancos e um alerta: afinal, a Bovespa voltou a ficar cara?

09/09/2016 13h10

SÃO PAULO - Antes uma pechincha, o Brasil está ficando caro. Pelo menos é o que observaram nas últimas semanas três grandes brancos, que apontam que o melhor pode ter ficado para trás após a disparada do Ibovespa em 2016. Se no ano, a alta acumulada é de 37%, os ganhos foram de 61% da mínima de 2016 em 26 de janeiro para a máxima em setembro. Neste meio tempo, diversos bancos passaram a apostar alto no País, vendo fortes mudanças, como pode ser visto aqui. Porém, esse tempo parece ter ficado para trás. 

Em relatório da última quinta-feira, o HSBC rebaixou a recomendação para as ações brasileiras, apesar de seguir otimista com o País. O banco ressalta que o Brasil, "que já foi barato", registrou valorização de 66% em dólares este ano. " O ambiente brasileiro continua a ser bastante favorável, mas o mercado teve considerável alta de modo que a valorização de capital já não é mais tão atraente como era anteriormente".

Os estrategistas do banco destacam que a administração Temer continua com foco no ajuste fiscal e a presidente Dilma Rousseff foi cassada, o que reduziu a incerteza política. Além disso, o  custo de capital caiu - e  tem espaço para cair ainda mais, ao mesmo tempo em que o Banco Central está no limiar de uma flexibilização de sua política monetária. Além disso, o  ciclo econômico se estabilizou - com a contração do PIB parecendo ter chegado ao seu fundo e a  confiança na indústria aumentou consideravelmente, ressaltam eles. 

Porém, há muitas coisas a se considerar: "dada a necessidade de trazer a política fiscal sob controle, a recuperação total deve levar muitos  anos. Os lucros das empresas ainda não seguiram fortemente o ciclo macroeconômico - as revisões de lucros  sugerem que o ambiente permanece difícil. Não estamos surpresos com isso e esperamos  melhoria. Porém, dado o quão longe o mercado foi, esta é uma razão para cautela, em nossa opinião", dizem os estrategistas.

O HSBC também ressalta que os riscos, olhando pela abordagem top-down (análise olhando primeiramente o cenário macroeconômico para depois escolher as ações de um determinado setor) não são insignificantes. " Enquanto permanecemos bastante construtivos na estabilização macro-econômico brasileira, muito disse já aparece  refletido nas avaliações de mercado. Uma fonte adicional de risco está relacionado à  a moeda - a nossa equipe moeda espera que o real caia 10% ao longo dos próximos 12 meses".

Desta forma, o banco destacou sua preferência pela África do Sul, apontando que o país  é favorecido em relação ao Brasil na alocação global de mercados emergentes em função do risco político, múltiplos e preocupações de colocação de fundos.  "Os i nvestidores 'relaxaram' sobre o risco político do Brasil, enquanto a percepção de risco 'elevada' cria oportunidades na África do Sul", afirma. 

Um mês antes, o    Itaú BBA havia alertado que o Brasil não estava mais tão atrativo, ao reduzir a recomendação de overweight para equalweight, afirmando  que o rali parecia adiantado. 

"Nos próximos meses, vemos uma queda adicional do risco soberano, bem como uma continuidade da queda do real, impulsionado pelo fluxo de notícias e os fluxos de capital adicionais. Em nossa opinião, no entanto, este próximo ciclo pode estar apoiado em um excesso de otimismo sobre a execução da reforma tributária e por medidas que se desviam substancialmente em relação aos fundamentos. Muito já está precificado no CDS brasileiro, o progresso fiscal ainda precisa se materializar e os desafios políticos do país são grandes", afirmam os estrategistas do banco.

Trabalho notável, mas...
Segundo os estrategistas do Itaú BBA, a atual equipe econômica do Brasil tem feito um trabalho notável de restaurar a confiança do mercado na economia do país e estabelecer as bases para a aprovação de reformas estruturais que possam reverter a deterioração das contas públicas.

Porém, grande parte da mudança, no entanto, parece já estar no preço uma vez que o Brasil se depara em um período de eleições complicado nos próximos seis meses que definirá o tom para a reviravolta nas finanças do país. 

"Nossa nova recomendação equalweight é dirigida a investidores tanto para investidores que estão muito expostos quanto para aqueles que estão pouco expostos ao Brasil.  Isso porque os investidores correm o risco de deixar o 'dinheiro na mesa' caso a maré otimista continue. Já do ponto de vista da América Latina, no entanto, as perspectivas de risco-retorno com o Brasil overweight perderam apelo aos níveis atuais do mercado e, por isso, o rebaixamento. Por outro lado, a nossa nova recomendação equalweight para as ações brasileiras deve ser interpretada como um call para que os investidores que estão underweight se exponham mais no Brasil", destacam.

Por outro lado, há quem ainda esteja com exposição acima da média do mercado em Brasil, como é o caso do Credit Suisse, que ressalta que o valuation das ações brasileiras segue razoável após a disparada. Porém, ressalta que diminuiu a exposição no País, em função da alta sensibilidade aos preços de commodities e pela percepção de que provavelmente a maior parte do rali tenha ficado para trás.