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Para El País, Lula está mais perto do abismo e Guardian vê queda dramática; confira como o mundo viu a denúncia

15/09/2016 11h06

SÃO PAULO - A denúncia apresentada pelo MPF (Ministério Público Federal) contra Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira (15) teve forte repercussão na imprensa internacional, que destacou tanto a situação cada vez mais complicada do ex-presidente quanto a apresentação do procurador Deltan Dallagnol.

O jornal britânico "The Guardian" destacou que "a queda de Lula e a do partido de esquerda que ele fundou nos anos 1980, tem sido dramática", apontando que a acusação ocorreu semanas depois do impeachment de Dilma Rousseff. 

Já o espanhol El País ressaltou que Lula está "um passo mais perto do abismo" depois da denúncia. Para a publicação, os promotores lançaram contra ele  "a acusação mais grave imaginável no atual panorama político brasileiro: ser o 'comandante máximo' do esquema de corrupção da Lava Jato".

O americano New York Times apontou que a denúncia foi um duro golpe contra Lula, "complicando suas ambições de retornar à Presidência".   O jornal também resumiu o passado recente da história de Lula: "Há poucos anos, Lula era um trabalhador aposentado que nunca finalizou o Ensino Fundamental, se tornou uma das figuras políticas mais poderosas do Brasil. Seu Partido dos Trabalhadores ocupou a presidência por 13 anos, atravessando um período de crescimento econômico em que milhões foram tirados da linha da pobreza".

A publicação americana destacou ainda que a acusação dos investigadores não aponta que o ex-presidente teria recebido toda a propina sozinho e que ele foi responsabilizado também pelos valores ilegais recebidos por ex-diretores da estatal. De acordo com o NYT, a propina de R$ 3,7 milhões atribuída ao ex-presidente destoa do montante que outros políticos foram acusados de ter desviado e lembra dos casos do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Por sua vez, a Bloomberg destaca que, "m ais de cinco anos após deixar o poder, Lula continua sendo uma grande figura política no Brasil e é o candidato preferido do Partido dos Trabalhadores para a eleição de 2018″. A agência ressalta que  o anúncio é a culminação de dois anos de investigação da Lava Jato.

O "Le Monde",  por sua vez, aponta que um dos efeitos destas acusações será dividir ainda mais "uma sociedade brasileira já rasgada pela polêmica destituição de Dilma Rousseff". "Aos que consideram Lula como um 'bandido', opõe-se uma parte dos brasileiros que veem nessas acusações uma manobra para calar a esquerda", diz a publicação. A publicação francesa ainda aponta que  a voz do jovem promotor Deltan Dallagnol, coordenador da operação Lava Jato, sequer tremeu ao pronunciar as acusações contra o ex-presidente, apontando ainda que as chances do juiz Sérgio Moro acatar a denúncia são altas,  onsiderando que Moro tem trabalhado em perfeita sintonia com a equipe de Dallagnol. 

De acordo com o jornal francês, "p oucos dias após a destituição da presidente Dilma Rousseff, as acusações da Procuradoria assumem ares de uma condenação à morte de Lula e do PT", destacando hashtags publicados nas redes sociais em que mencionam Lula como uma "vergonha nacional".

Vale ainda destacar quem apresenta contestações sobre a denúncia. O jornal americano Chicago Tribune apontou que os  promotores que apresentaram denúncia contra Lula fizeram uma "litania" de acusações, mas foram econômicos ao apresentar as provas. De acordo com a publicação, isso pode colocar em xeque o futuro da Lava Jato. Segundo a publicação se por um lado  as denúncias já eram esperadas, a linguagem utilizada pelos promotores foi "impressionante", completou. 

"O fosso escancarado entre as acusações verbais e as denúncias (formais) levantaram questões sobre o futuro da investigação", diz a publicação. Se por um lado as "acusações drásticas" podem ajudar os promotores a manter o caso em sua jurisdição, por outro, implicam "riscos" de que a investigação seja vista como politizada.

O jornal The Washington Post diz que a denúncia do MPF, que envolve também sua esposa Marisa Letícia, e mais seis pessoas, coloca um sério risco para Lula de enfrentar um mandado de prisão de Sergio Moro, o juiz que está à frente da investigação. "Se isso acontecer, seria uma queda extraordinária para o ex-presidente e seu partido. Durante 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, a economia do Brasil se expandiu, e ele montou um boom global das commodities". O jornal diz ainda que mais da metade dos 200 milhões de cidadãos brasileiros "se juntou a uma nova classe média baixa".

A rede de televisão ABC News, publicou em seu site que o chefe da força tarefa da investigação, Deltan Dallagnol, chamou Lula de "comandante máximo" do escândalo que agita a maior nação da América Latina. Em artigo assinado pela agência Associated Press, a ABC News informou que Lula, que deixou a presidência da República com aprovação muito elevada da população brasileira, "usou uma rede de financiamento de campanha ilegais e propinas de apoio político no Congresso".

A ABC News também publicou o lado da defesa de Lula. Segundo a rede de televisão, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, criticou Dallagnol, dizendo que, ao fazer a denúncia, mostrou incompatibilidade para realizar seu trabalho. "Seu comportamento político é incompatível com o papel de um promotor federal", disse Martins. A rede de televisão afirma ainda que, apesar de uma longa lista de acusações contra Lula, o MPF se refere a apenas duas denúncias reais: lavagem de dinheiro e corrupção.

(Com Agência Brasil)