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US$ 19 tri de liquidez depois e economias desenvolvidas continuam patinando; o que deu errado?

30/09/2016 11h22

SÃO PAULO - Um dos grandes motivos para o rali da Bolsa este ano é a enorme quantidade de liquidez oferecida pelos bancos centrais dos países desenvolvidos. As seis principais autoridades monetárias do mundo - Federal Reserve (EUA), BCE (Europa), BoE (Inglaterra), PBoC (China), SNB (Suíça) e BoJ (Japão) - despejaram trilhões de dólares na economia global desde 2008, o que é ótimo para os mercados, já que mais dinheiro nas mãos dos grandes bancos e dos investidores significa mais recurso a ser alocado no mercado financeiro. Quando o capital fica mais escasso, o investidor costuma tomar decisões de alocação mais cautelosas, fugindo de investimentos mais arriscados como bolsa de valores. 

Até aí tudo bem, porém a prioridade dos BCs ao despejar essa avalanche de dinheiro nos bancos por meio da compra de títulos não é tornar os grandes players do mercado mais riscos, o alegado objetivo principal é estimular a economia. Ou seja, a ideia é que os bancos emprestem esse dinheiro deixado nos seus caixas pelos bancos centrais e permitam que as famílias e empresas façam mais investimentos produtivos e até mesmo consumam mais (o afrouxamento monetário permite taxas de juros mais baixas, o que facilita principalmente a compra de bens mais caros como imóveis, já que a maior parte das aquisições deste tipo são feitas por meio de financiamentos).

O problema então, é justamente que esse caminhão de dinheiro não tem sido o suficiente para fazer as economisas desenvolvidas voltarem a crescer nos patamares pré-crise. Segundo o diretor técnico da Wagner Investimentos, José Faria Jr., a projeção do Federal Reserve de crescimento de 1,8% no longo prazo para a economia dos EUA, é muito fraco para a quantidade de estímulo que já foi injetada no país. 

"Eu acho que essa questão das economias estarem patinando em parte pode ser explicada pela pressão das taxas de juros negativas", avalia Jr. Para ele, os bancos da zona do euro não estão conseguindo ganhar dinheiro emprestando a longo prazo porque com as taxas de juros tão baixas acaba não sendo rentável fazer esse tipo de operação. Na sua avaliação, a proposta do banco central japonês de deixar de perseguir a meta de inflação para se atentar mais à curva de juros do mercado é interessante, pois permite à autoridade monetária emprestar no longo prazo e ajudar os bancos do país. 

Na sua opinião, contudo, algo ainda mais interessante acontece nos EUA, onde o desalento econômico já chega aos níveis da gestão do ex-presidente Jimmy Carter no fim da década de 1970. "O progresso tecnológico pode, em certo ponto, significar um aumento tão grande de produtividade, que as empresas não se animam a contratar mais funcionários", explica. De acordo com ele, a "Quarta Revolução Industrial" que vivemos dificulta a criação de empregos, o que prejudica o crescimento da economia, já que a produtividade aumenta, mas não há um aumento salarial para fechar essa equação do lado do consumo, e isso deve levar muito tempo para mudar.  

"Se a principal economia vai crescer 1,8%, podemos projetar que um crescimento global como o da última década não vai existir mais. Pelo menos não em um horizonte que possamos enxergar", projeta Faria Jr.