Um político como Trump é bem conhecido dos latino-americanos, diz Monica de Bolle
SÃO PAULO - O resultado das eleições dos EUA, com Donald Trump vencedor, surpreendeu o mercado e boa parte dos estatísticos, que previa eleição de Hillary Clinton. O cenário é de temor pós-pleito, em geral devido ao discurso protecionista e incertezas sobre muitas das posições do agora presidente eleito.
Porém, segundo aponta a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, para os latinos-americanos, um político como Trump é bem conhecido.
"Trump é p opulista e certamente aumentará o déficit e a dívida pública, induzirá uma desvalorização do dólar e poderá vir a trazer a inflação, algo que o Federal Reserve e os economistas vêm tentando fazer há tempos nesse país", avalia ela, traçando um paralelo com as perspectivas do governo do republicano com governos da América Latina.
Já com relação ao Brasil e a relação comercial com os EUA, Monica aponta que a eleição de Trump tem poucos efeitos diretos, "diante de nosso próprio isolamento e da irrelevância do País na política externa americana".
Neste sentido, a economista aponta que o cenário com Hillary Clinton não teria sido muito diferente, já que os dois candidatos tinham agendas fortemente marcadas pelo protecionismo.
Há, entretanto, possíveis efeitos indiretos, sendo o mais imediato o aumento da incerteza, que gera turbulência nos mercados. "Quão turbulentos podem ser os cenários à frente dependerá do que, de fato, será a condução do governo Trump na área econômica e no comércio internacional. Caso ele siga à risca suas promessas de campanha, o comércio sofrerá profundo abalo, com retaliações e quadro desalentador para a economia mundial", afirma a economista.
Por outro lado, caso o republicano não siga o que prometeu, permanecerá dúvida sobre suas intenções futuras, o que também pode desarticular a economia mundial, ressalta a economista.
Ela ainda aponta que os novos riscos geopolíticos - uma vez que Trump fez duras declarações a respeito do Oriente Médio - e comerciais terão impacto negativo mais profundo do que se imagina hoje. Neste sentido, para o Brasil, o quadro de incerteza global dificulta bastante a recuperação da economia.
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