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Risco desprezado pelo mercado? Fundo Verde zera metade de suas posições em ações

09/12/2016 11h15

SÃO PAULO - O rali dos mercados acionários após a vitória de Donald Trump, em novembro, indica que os investidores “escolheram” olhar apenas o lado bom do futuro presidente dos Estados Unidos, escondendo debaixo do tapete os riscos que ele representa. A avaliação é do Fundo Verde, um dos maiores e mais rentáveis do País, que não considera que o mercado está remunerando o risco  de maneira adequada e, por isso, se desfez da metade de seus investimentos globais em ações.

Em sua carta de novembro, a equipe de gestão do fundo, comandada por Luis Stuhlberger, destaca que a atual combinação de elevadas taxas de juros, puxadas pela disparada dos yields dos Treasuries norte-americanos, combinadas com os mercados acionários em alta, significam “uma enorme compressão" do prêmio de risco de ações. Desde que o bilionário foi eleito, as bolsas norte-americanas têm quebrado sucessivos recordes históricos de alta, com a Dow Jones superando os 19.600 pontos e o S&P500 passando da marca dos 2200 pontos.

O Fundo Verde, o maior multimercados do Brasil, aponta que essa disparada mostra os investidores estão mirando apenas o lado "Good Trump", “se encantaram” com a agenda econômica do republicano, levando em consideração apenas os aspectos de corte de impostos, investimentos em infraestrutura e no possível afrouxamento regulatório, que poderia significar um melhor ambiente de negócios. Por outro lado, os mercados parecem “esquecer” os riscos de conflitos comerciais e geopolíticos que o "Bad Trump" pode causar, observa o relatório.

“Temos convicção que uma das principais razões para a sustentabilidade das margens recordes de lucro nos Estados Unidos é a globalização das cadeias produtivas. A reversão disso não é estruturalmente positivo, pelo contrário”, alerta o texto dos gestores, que administram R$ 30 bilhões em ativos.

O Fundo Verde aponta ainda que as indicações do futuro presidente dos EUA para compor o Fed devem favorecer políticas monetárias mais apertadas, o que representaria o fim da era de relaxamento quantitativo e injeções bilionárias de estímulos todos os meses por parte da autoridade monetária. O resultado prático disso será uma valorização ainda maior do dólar ante moedas emergentes. 

Foi exatamente a posição comprada em dólar contra moedas asiáticas, como o renminbi e o dólar de Cingapura, que gerou ganhos ao fundo em novembro. Por outro lado, os investimentos em renda fixa e em ações brasileiras geraram perdas. A equipe de Stuhlberger avalia que o mercado acionário doméstico só não piorou muito porque a agenda de reformas do ajuste fiscal "segue intocada", apesar da persistente turbulência política.

"Mas a  lua de mel terminou, e a dura realidade de baixo crescimento,  alto desemprego, e longo processo de desalavancagem se impõe. A nossa  principal convicção continua a ser que as taxas de juro reais estão  em patamar errado", avalia o Verde, que, diante deste cenário, optou por alongar levemente su as posições em juros. O fundo rendeu 1,03% em novembro e acumula ganhos de 11,70% em 2016, enquanto o CDI avançou 1,04% e 12,74%, respectivamente.