Fraudes como a do PanAmericano colocam investidores em risco
Fraudes contábeis como a do banco PanAmericano, que vieram a público no mês passado, têm colocado os analistas de mercado em situação delicada.
Como indicar uma determinada ação sem poder confiar no balanço divulgado pela empresa? Situação que fica ainda mais delicada quando resultados fraudados são aprovados por auditorias independentes.
DIFERENTES ESCOLAS DE ANÁLISE DE TENDÊNCIA DO MERCADO
FUNDAMENTALISTA – A decisão de compra ou venda de ações é tomada a partir da análise do ambiente macroeconômico e de índices elaborados a partir de informações de empresas, como balanços.
GRAFISTAS OU TÉCNICOS – Operam através da análise de gráficos. Acreditam que alguns padrões tendem a se repetir, portanto tomam suas decisões de operação com base no comportamento da ação em pregões anteriores. Não analisam balanços.
No começo do mês, por exemplo, a corretora Planner retirou as ações PanAmericano (BPNM4) de sua carteira recomendada depois que os papéis despencaram 40% em novembro.
Entre os analistas de tendência de mercado, existem duas escolas: a fundamentalista (na qual a decisão de compra ou venda de ações é tomada a partir da análise do cenário macroeconômico e de análise das empresas, como o balanço) e os grafistas ou técnicos (que decidem a partir da análise de gráficos sem estudar os dados das empresas).
O analista-chefe da corretora Walpires e fundador do site Seu Consultor Financeiro, Leandro Martins, que tem formação fundamentalista, diz que está cada vez levando mais em conta a análise grafista.
“Com essas fraudes, eu tenho cada vez menos confiança nos fundamentos. Os analistas ficam nas mãos dos auditores e, sabendo dessas fraudes, não dá pra confiar”, afirma.
Como explica o fundamentalista Daniley Ferreira Rodrigues, sócio-diretor da Método Investimentos, o mais comum é realizar uma análise do cenário macroeconômico primeiro para só depois decidir quais empresas podem se beneficiar desse ambiente.
Para Rodrigues, o PanAmericano estava no foco do investidor neste ano, já que o cenário apontava para o crescimento do crédito entre os bancos de menor porte.
“Há várias opções nesse setor de bancos de pequeno porte. Como investidor de fora, era difícil saber que o banco tinha algum problema. Aí você confia no balanço, confia nas auditorias”, afirma.
Questionado sobre os grafistas, Rodrigues diz que uma análise técnica também pode falhar. “Por exemplo, você pode ter a ação da Petrobras indicando compra no gráfico e todos os analistas técnicos indicando a compra. Amanhã explode uma plataforma de petróleo dela, e a ação vai abrir com uma superqueda que o analista técnico não pegou. É difícil você defender uma escola ou outra. Acho que as duas têm prós e contras”, argumenta.
Apesar dos problemas recentes com o PanAmericano, os especialistas consultados pelo UOL Economia dizem não acreditar que o fundamentalismo esteja ameaçado.
Para o educador financeiro Mauro Calil, a análise de balanços e a checagem das auditorias seguem sendo fundamentais para os profissionais de mercado.
“Duvido que o investidor pessoa física olhe o trabalhado da auditoria. Agora, o analista tem de olhar. Não digo que 100% faça isso, mas o bom analista deveria fazer”, afirma.
“Analisando a história, sempre houve casos assim [como o do PanAmericano]. Não foi o primeiro nem será o último”, diz.
Para Marco Saravelle, analista da Coinvalores, fraudes em empresas fazem “parte do capitalismo” e são movidas pela “ganância” de algumas pessoas.
“Todos os investimentos têm riscos, e há riscos que você não consegue mensurar nem prever”, afirma.
E o que pode fazer o pequeno investidor nesse cenário? A recomendação dos analistas é para sempre diversificar os investimentos e não apostar tudo em um único papel.
“Aconselho o investidor a procurar o trabalho de uma boa corretora. Ela deve analisar o perfil do investidor e oferecer a ele a melhor opção de investimento”, diz Saravelle.
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