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Parques tecnológicos disputam título de 'Vale do Silício brasileiro'

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

03/08/2012 06h00

Referência em inovação tecnológica no mundo todo e sede de empresas como Google, Facebook, Intel, IBM e Apple, o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), tem inspirado o modelo dos parques tecnológicos brasileiros.

Alguns deles, como o Porto Digital, no Recife (PE), o Parque Tecnológico do Rio, no Rio de Janeiro (RJ), o Tecnopuc, em Porto Alegre (RS), o Sapiens Parque, em Florianópolis (SC), e o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP) já disputam o título de “Vale do Silício brasileiro”.

Um parque tecnológico se caracteriza pela presença de instituições de ensino – geralmente universidades públicas –, incubadoras de negócios, centros de pesquisa, laboratórios e grandes empresas, referências em sua área de atuação, as chamadas empresas-âncoras.


Segundo a presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), Francilene Garcia, por serem ambientes de inovação e o berço para muitos negócios, a comparação dos parques tecnológicos com o Vale do Silício é natural.

“Aqui, no Brasil, temos ambientes inovadores de sucesso, que seguem o mesmo modelo [do Vale do Silício], com a aplicação de facilidades e o apoio de politicas públicas locais”, diz.

Incubadoras e aceleradoras são portas de entrada

A entrada das grandes empresas nos parques tecnológicos, normalmente, é facilitada, pois elas são uma espécie de chamariz para a região. Já as de micro e pequeno portes têm de percorrer outros caminhos.

A forma mais comum é o ingresso por meio das incubadoras ou aceleradoras de negócios. Ao término do período de incubação ou aceleração, a permanência da empresa dentro do parque é mais fácil.

As universidades administradoras podem fazer concursos entre os alunos e premiar a melhor ideia de negócio com o direito se instalar no parque. Aqueles que são administrados por órgãos públicos, o pedido de entrada também pode ser feito na prefeitura.

Segundo ela, é vantajoso para uma empresa nascente de inovação estar inserida nesse contexto. “É um ambiente onde há uma confluência de empresas, investidores, órgãos governamentais e instituições de ciência e tecnologia, trazendo visibilidade à empresa que nele se desenvolve”, afirma a presidente da Anprotec.

Recife tem o maior parque tecnológico do país

Com mais de 200 empresas instaladas, 6.500 profissionais e faturamento anual de R$ 1 bilhão, o parque tecnológico Porto Digital, no Recife (PE), é o maior do país e forte candidato a ser o “Vale do Silício brasileiro”.

O Porto Digital atua nas áreas de software, games, multimídia, cine-vídeo-animação, música, design, fotografia, propaganda e publicidade. Do total de empresas abrigadas, 88% são de micro e pequeno porte. O restante é formado por médias e grandes empresas, como IBM e Microsoft.

Segundo o diretor-presidente do parque tecnológico, Francisco Saboya, a sinergia obtida pela proximidade de empresas e instituições é o que mais lhe inspira no Vale do Silício. “Aqui, você vai tomar um café e, casualmente, pode encontrar um parceiro, fornecedor ou investidor”, declara.

Capital gaúcha quer ser um “Vale do Silício”

O parque tecnológico Tecnopuc, em Porto Alegre (RS), é outro grande centro de inovação. Administrado pela PUC-RS (Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul), conta com mais de 80 empresas e 5.500 profissionais.

Cerca de 70% das empresas instaladas são de pequeno e médio portes, enquanto 30% são grandes, como a Dell, Microsoft e a HP. A atuação se dá nas áreas de tecnologia da informação, comunicação, eletroeletrônica, energia, meio ambiente, biotecnologia e indústria criativa.

Para o diretor do Tecnopuc, Roberto Moschetta, a relação entre universidade, empresas e o governo cria um ambiente propício para os negócios. “As interações que as empresas fazem, até informalmente, é uma das chaves do sucesso do Vale do Silício. Umas contratam serviços das outras”, diz.

Nível de investimento ainda é baixo

Na opinião do professor de redes de computadores da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista) Almir Meira Alves, iniciativas como o Tecnopuc e o Porto Digital são importantes, mas ainda não têm o mesmo tamanho e nível de investimentos como na Califórnia.

Segundo Alves, no Vale do Silício, as empresas e o governo aplicam quantidades enormes de dinheiro. Além disso, os universitários são incentivados desde o primeiro ano do curso a criarem seus negócios, cenários que ainda não acontecem no Brasil.

“Falta essa cultura empreendedora para nós. O sonho da maioria dos universitários brasileiros é trabalhar em uma grande empresa e não formar uma”, afirma.