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Franquia de cordão umbilical sai a partir de R$ 8 mil

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

23/08/2013 06h00Atualizada em 21/07/2015 19h03

A armazenagem de células-tronco, retiradas do sangue do cordão umbilical durante o parto, virou oportunidade de negócio para alguns empreendedores. A rede mexicana BCU (Banco de Cordão Umbilical) oferece opção de franquia na área com investimento inicial que vai de R$ 8.000 a R$ 20 mil.

O serviço consiste na coleta do material genético do bebê durante o parto para futura utilização em caso de necessidade. A armazenagem das células-tronco permite o seu uso em tratamentos de algumas doenças graves, como leucemia e linfoma.

O franqueado atua na parte de comercialização do serviço (para médicos e outros clientes), agendamento para a retirada do material na maternidade e o transporte até a matriz, em São Paulo, onde é armazenado.

Para abrir uma franquia da empresa não é necessário ser médico, mas é recomendado ter um profissional da área –enfermeiro ou biomédico–  trabalhando no negócio, segundo Alexandre Trevisan, médico e sócio-diretor do BCU Brasil.

Essas células-tronco podem ser usadas para o tratamento de doenças que exigem transplante de medula óssea, como leucemia e linfoma, diz Araci Massami Sakashita, coordenadora médica do Banco de Sangue do Hospital Israelita Albert Einstein.

“É comprovado que elas conseguem reconstituir a função da medula óssea”, afirma.

De acordo com Trevisan, a retirada do sangue do cordão umbilical é feita pelo obstetra durante o parto. “O franqueado pode ter um enfermeiro ou um biomédico no local para acompanhar o processo, se o hospital permitir. Mas isso não é obrigatório”, declara.

Depois de retirado, o sangue é acondicionado e levado para a matriz da franquia, em São Paulo, por um parceiro credenciado e autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fazer o transporte de material biológico. Lá, as células-tronco são separadas do sangue e armazenadas.

“O franqueado é responsável pela venda do serviço, então, tem de ter vocação comercial. Todo o resto fica a cargo da franqueadora. Como não há manipulação de material biológico na franquia, não há necessidade de licenças específicas para elas. A matriz, sim, é devidamente regulamentada pela Anvisa”, afirma Trevisan.

A rede, que atua no Brasil desde 2009, possui 30 unidades no país e atua também na Argentina, Colômbia, Estados Unidos e no país de origem, México.

Há duas opções de franquia BCU. Para cidades com menos de 500 mil habitantes, o investimento inicial é de R$ 8.000, incluindo taxa de franquia e capital de giro, e não exige ponto comercial exclusivo. Dessa forma, pode funcionar em consultórios médicos ou laboratórios, por exemplo.

Já um escritório exclusivo BCU tem investimento inicial de R$ 20 mil (taxa de franquia e capital de giro).

Segundo Trevisan, nos dois modelos de negócio, o franqueado fatura cerca de R$ 1.500 a cada coleta realizada e R$ 30 da taxa anual de R$ 600 paga por cada cliente. Se precisar do material, o cliente não paga pela retirada nem pelo transporte.

Preço do serviço é alto e limita clientes

A coleta de células-tronco do sangue do cordão umbilical custa cerca de R$ 3.000. Também é necessário pagar a taxa anual de R$ 600 para armazenagem do material. O valor alto, segundo especialistas, reduz os clientes em potencial. 
 
"O serviço é caro e não é um item de primeira necessidade, por isso deve atrair apenas o público das classes A e B”, diz Ricardo Camargo, diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising).
 
Camargo afirma que a franquia é a única de biotecnologia filiada à ABF a atuar no Brasil e considera o negócio inovador.
 
"O potencial desse mercado é grande. Na medida em que o número de pais interessados no armazenamento crescer e a quantidade de bancos disponíveis no Brasil aumentar, os preços devem cair e o serviço atrairá mais pessoas."

Uso das células do cordão umbilical pode se diversificar

Além do tratamento de doenças que exigem transplante de medula óssea, outras atribuições estão sendo pesquisadas para as células-tronco do cordão umbilical, diz a coordenadora médica do Banco de Sangue do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Há pesquisas que investigam o uso dessas células no tratamento de diabetes e sua capacidade de regenerar tecidos. No futuro, elas podem ter outras aplicações”, declara.

O material genético pode ser armazenado e utilizado em até 15 anos, segundo a médica.

Em bancos privados, como o BCU, o material genético é armazenado para uso do próprio paciente, se necessário. “É como um seguro de carro. As pessoas contratam, mas esperam nunca precisar usar”, diz Sakashita.

Existem também os bancos públicos. Hospitais determinados pelo Ministério da Saúde fazem a coleta e as células podem ser usadas por qualquer pessoa, desde que haja compatibilidade.

De acordo com a médica, a chance de as células serem úteis em algum tratamento é maior nos bancos públicos.

“Se a pessoa tiver predisposição genética para determinada doença, as células delas podem não servir para o próprio tratamento, pois carregam o mesmo material genético que ocasionou a doença.”

O uso de células do cordão umbilical da própria pessoa é desaconselhado, por exemplo, em casos de leucemia.

Material não fere aspectos éticos

Sakashita diz que o uso das células do cordão umbilical não envolve questões éticas, como ocorre com as células-tronco embrionárias. Segundo a especialista, as embrionárias podem ser transformadas em qualquer outro tipo de célula, já as do cordão umbilical são consideradas células adultas.

Os religiosos são os principais críticos, pois consideram que os embriões são vidas em formação, e manipulá-los ou sacrificá-los constitui assassinato.

“Para coleta das células-tronco do cordão umbilical, o bebê nasce normalmente. As células são coletadas de algo que antes era descartado.”