Número de empresas que fecham é maior do que as que abrem na Argentina
Pela primeira vez na década kirchnerista, a quantidade de empresas teve uma redução na Argentina. “O ciclo de expansão terminou”, dizem os especialistas.
Embora a tendência tenha começado a insinuar-se em 2009, como resultado da crise internacional, em 2012 e pela primeira vez na década do ciclo kirchnerista foram registrados mais fechamentos que aberturas de empresas.
Segundo o Observatório do Emprego e Dinâmica Empresarial, uma estatística elaborada pelo Ministério do Trabalho publicada pela consultoria do economista Orlando Ferreres, em 2012 quebraram 56.108 empresas e surgiram 55.394, o que resulta em um saldo negativo de 714.
Ao mesmo tempo, de 2003 até a data, o parque instalado de empresas cresceu 50% ao passar de 402.815 a 602.989 neste intervalo.
Embora com nuances, economistas e especialistas em demografia empresarial não se mostraram surpreendidos pela informação. A criação de empresas “está muito ligada ao ciclo econômico”, resumiu o economista Dante Sica, diretor da consultoria abeceb, em sintonia com a avaliação da economista Marina Dal Poggetto, da consultoria Bein:
“É a mesma dinâmica que se observa na conjuntura, com menor criação de emprego e baixo crescimento”. Neste cenário, os especialistas acreditam que a tendência para o curto e o médio prazos continuará sendo desfavorável, mas eles descartam um cenário dramático.
Todas as considerações são fiéis ao relatório da pasta do trabalho, elaborado com base em dados de diferentes órgãos públicos, entre eles a AFIP (Administração Federal de Ingressos Públicos) e a ANSeS (Administração Nacional de Segurança Social, de aposentadorias e pensões).
Durante o governo de Néstor Kirchner, entre 2003 e 2007, exibe os melhores balanços demográficos empresariais. Ou seja, foi o ciclo com maior ritmo empreendedor e menos fechamentos. Nesta linha, 2004 pode ser considerado o melhor ano ao ter apresentado um saldo favorável de 59.242 novas empresas, o que representa um crescimento líquido de 14,7% em relação ao ano anterior.
Os economistas descobriram na demografia empresarial um termômetro para medir o ritmo da economia e sua saúde. As boas expectativas favorecem a criação de empresas e, além disso, permitem sua consolidação.
A destruição de empresas, nesses contextos, existe, mas de forma mais atenuada. Dante Sica recorda que após a saída da convertibilidade, quando o peso era atrelado ao dólar, e a crise de 2002 o país cresceu de forma sustentável, como “parte da recuperação da atividade e com as oportunidades de negócio muito abertas”.
Um período que contrasta com a última metade da década de 90. Sobre isso, Hugo Kantis, pesquisador da UNGS (Universidade Nacional General Sarmiento), diz que durante a última recessão, ou seja, entre 1998 e 2002, “o total de empresas caiu de 383.000 a 337.000”.
Assim, nesse intervalo, a taxa de mortalidade foi de 3%, chegando em 2002 a um pico de 4,8%. Após a crise e até 2008, o parque empresarial passou daquelas 337 mil a 453 mil, o que representou um crescimento de 34,4%.
Aqueles anos, com o PIB subindo a taxas chinesas, foram os melhores em matéria de criação líquida de empresas. Em 2003, por exemplo, se somaram ao total 26.052; em 2004, 59.242; em 2005, 37.235; em 2006, 34.235; em 2007, 26.926; e em 2008, 22.139.
Desde este ano e como consequência da crise internacional, a subida continuou, mas de forma muito mais moderada: em 2009 foram 4.659; em 2010, 6.346; e em 2011, 9.522. O ciclo de expansão começou a se reverter.
“A partir de 2008, aumentaram as regulações e a pressão tributária e o ambiente de negócios ficou estranho”, resume Fausto Spotorno, do estudo de Orlando Ferreres.
“As perspectivas não são as melhores e isso irá se aprofundando”, disse. Dal Poggetto é menos taxativo e prevê “uma dinâmica neutra”, ou seja, com um nível mais equilibrado entre aberturas e fechamentos.
Ela, no entanto, ressalta uma maior dificuldade para os empreendedores, produto das distorções da economia, sobretudo a inflação, em relação aos que têm um emprego formal. “Hoje está melhor um assalariado que alguém que trabalha por conta própria”, definiu Dal Poggetto.
Sobre esse ponto, Silvia de Torres Carbonell, do IAE, faz a distinção entre empreendedores por “oportunidade” e por “necessidade”. Não é a mesma coisa, diz, um desempregado que abre um comércio e aquele que se arrisca em busca de uma boa taxa de rentabilidade. Colocadas assim as coisas, a maior criação de empresas nem sempre é uma boa notícia.
“O problema não é que morram empresas, e sim que nasçam poucas”, completa o economista Dante Sica. A baixa natalidade de empresas no país, para o diretor da abeceb, tem a ver com a falta de apoio e estruturas de fomento ao sistema empreendedor e com uma economia com “mais restrições e mais limitações ao financiamento”.
E recomenda prestar uma atenção especial nas empresas jovens, de entre 1 e 3 anos - mais que nas novas. “Em todos os países, a maior taxa de mortalidade se dá nos primeiros anos de vida”, disse.
Sobre esse ponto, começou a verificar-se a mortalidade de empresas jovens em 2009, em uma tendência que parece se aprofundar. Em 2008, segundo a estatística do Ministério do Trabalho argentino, havia 154.165 empresas de até 3 anos. No ano passado, contavam apenas 120.260.
As luzes amarelas já estão acesas.
(Texto originalmente publicado no site do Clarín em português)
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