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'A vocês, contribuintes, I'm sorry, não devo nada', diz Eike sobre o BNDES

Maria Carolina Abe

Do UOL, em São Paulo

05/06/2015 23h02Atualizada em 06/06/2015 00h26

O ex-bilionário Eike Batista afirmou, na noite desta sexta-feira (5), que quitou suas dívidas com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nesta semana. 

"Eu estou aqui porque na segunda-feira eu paguei a última dívida que eu tinha com o BNDES", disse o empresário, em entrevista à jornalista Mariana Godoy, na RedeTV!. "Tem muita gente mal informada fica repetindo que eu devo R$ 10,2 bi ao BNDES. Parem com isso, eu não devo nada ao BNDES. A vocês contribuintes, I’m sorry, eu não devo nada", disse.

Segundo ele, o banco público tinha risco zero ao emprestar dinheiro às empresas do grupo X, pois os projetos tinham sido auditados por bancos privados, que tinham o patrimônio dele como aval. "O BNDES foi um repassador de um dinheiro que foi assegurado por todos os bancos privados", disse.

"Eike Batista zerou as dívidas. Eu agora tenho algum patrimônio para recomeçar", disse. Perguntado sobre o tamanho desse patrimônio, limitou-se a responder: "O suficiente".

Os empréstimos do BNDES às empresas de Eike foram alvo de questionamento após a quebra do império do ex-bilionário. Em abril, o presidente do banco, Luciano Coutinho, afirmou que o BNDES não perdeu 1 centavo com o negócio. "Não havíamos feito investimento ou crédito e não fomos afetados. Na nossa situação, graças às garantias que o BNDES dispunha, não houve nenhuma perda", afirmou.

Julgamento

Eike está sendo julgado por crimes contra o mercado financeiro. Ele é acusado de manipulação do mercado e uso de informação privilegiada ao negociar ações da sua petroleira, a OGX (hoje OGPar), o que teria causado prejuízo a investidores.

O julgamento teve sua primeira audiência em novembro de 2014 e ainda não há data para sua retomada.

O julgamento deve decretar a sentença na primeira instância. Se considerado culpado, Eike pode ser condenado a até 13 anos de prisão. Ele ainda poderá recorrer a instâncias superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). 

Desde março, o juiz do caso é Vitor Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio. Ele substituiu Flavio Roberto de Souza, afastado do cargo após ser flagrado ao volante do Porsche Cayenne, que tinha sido apreendido do ex-bilionário em uma operação policial.

De bilionário a classe média

Eike já foi a pessoa mais rica do Brasil e o sétimo mais rico do mundo, segundo o ranking de bilionários da revista "Forbes". 

O conjunto de empresas de energia, commodities e logística de Eike entrou em colapso no ano passado, forçando seus empreendimentos de petróleo, estaleiros e principais empresas de mineração a pedir recuperação judicial em meio a uma dívida cada vez maior, uma queda nas receitas e uma crise de confiança dos investidores.

Em setembro do ano passado, após as denúncias, ele disse à "Folha de S.Paulo" que tinha um patrimônio líquido negativo de US$ 1 bilhão e que "voltar a classe média é um baque gigantesco"

'I'll be back'

Em março deste ano, Eike foi entrevistado pelo jornal "Valor Econômico": disse que não guarda mágoa de ninguém, admitiu erros e afirmou que voltará. "I'll be back", afirmou algumas vezes ao longo de cinco horas de conversa, referindo-se à frase mundialmente famosa associada a Arnold Schwarzenegger, em "O Exterminador do Futuro".

Segundo um assessor do empresário ouvido pela agência de notícias Bloomberg, ele sonha em voltar ao mercado com negócios bastante distintos, como clonagem de animais, produção de um Viagra genérico que se dissolve embaixo da língua e exportação de biomassa de cana-de-açúcar como combustível de usinas elétricas no Reino Unido.