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Agência vê mais risco de calote e tira nota de bom pagador do Brasil

Stan Honda/AFP
Imagem: Stan Honda/AFP

Do UOL, em São Paulo

09/09/2015 19h00Atualizada em 09/09/2015 21h33

A agência de avaliação de risco Standard & Poor's (S&P) cortou, nesta quarta-feira (9), a nota do Brasil de "BBB-" para "BB+". Com isso, o país perdeu o chamado "grau de investimento", ou seja, deixou de ser considerado um bom pagador, um lugar recomendável para os investidores aplicarem seu dinheiro.

Além de retirar do Brasil o grau de investimento, a S&P sinalizou que a situação pode piorar ainda mais, ao manter a perspectiva negativa para a nota brasileira.

"Os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam a crescer, pesando sobre a habilidade do governo e a disposição de enviar um orçamento de 2016 ao Congresso consistente com uma significativa política corretiva sinalizada durante a primeira parte do segundo mandato da presidente Dilma", segundo a S&P.

A S&P foi a primeira das três principais agências de classificação de risco a conceder ao Brasil o selo de bom pagador, em abril de 2008, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, é a primeira a colocar o Brasil de volta ao grau especulativo.

O país ainda mantém o grau de investimento de acordo com as outras duas principais agências: Fitch e Moody's.

O que acontece agora?

A decisão da S&P deve elevar os custos de financiamento para o governo e para as empresas locais.

Também pode reduzir o fluxo de entrada de dólares no país, deixando a moeda ainda mais cara. O dólar já acumula alta de mais de 40% ante o real neste ano.

Orçamento de 2016 com rombo de R$ 30 bi

A decisão de hoje é um grande revés para o governo brasileiro, que enfrenta uma crise econômica e política e vinha buscando meios de se manter entre os países reconhecidos como bons pagadores para não perder investimentos.

Uma fonte do Ministério da Fazenda disse à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato, que o governo não esperava um rebaixamento neste momento. Segundo a fonte, é difícil avaliar agora quais serão as implicações da decisão da S&P sobre o ajuste fiscal.

O rebaixamento acontece dez dias depois de o governo apresentar ao Congresso Nacional uma proposta de orçamento para 2016 com um rombo de R$ 30,5 bilhões --deficit inédito desde que a atual metodologia orçamentária foi adotada, em 1995.

Para a S&P, isso reflete divergências internas sobre a composição e a magnitude das medidas necessárias para melhorar as contas públicas. "Percebemos agora menos convicção dentro de gabinete da presidente sobre a política fiscal", disse a S&P.

Após receber muitas críticas, o governo recuou e disse que vai enxugar custos, gastar melhor os recursos públicos e discutir novas fontes de receitas para obter um orçamento equilibrado e não ficar no vermelho. Entre as medidas em estudo para aumentar as receitas estão a alta do Imposto de Renda.

Avaliação de agências indica risco de calote aos investidores 

Um governo consegue dinheiro vendendo títulos no mercado. Os investidores compram papéis com a promessa de receberem o dinheiro de volta no futuro com juros. Quando um governo tem avaliação ruim, considera-se que há risco de dar um calote e não pagar esses investidores. 

Se houver desconfiança sobre essa devolução, fica difícil conseguir vender esses títulos, e o país tem de pagar mais juros aos investidores para compensar o risco maior. O país com mais confiança são os EUA.

O chamado grau de investimento indica aos investidores que uma economia tem baixo risco de dar calote, e que as aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros nesse país terão risco próximo a zero.

 

Entenda como as agência fazem o cálculo da nota

O rating, ou classificação de risco, refere-se ao mecanismo de classificação da qualidade de crédito de uma empresa ou um país.

Ele busca medir a probabilidade de calote de obrigações financeiras. O rating é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião independente a respeito do risco de crédito do objeto analisado.

Do ponto de vista econômico, é bastante vantajoso, pois uma vez feito, pode ser utilizado para vários objetivos e por diversas instituições. Com a globalização, o rating se apresenta como uma linguagem universal que aborda o grau de risco de qualquer título de dívida.

Agências de risco falharam na crise

As agências de classificação de risco, que dão notas para países, empresas e negócios, determinando sua suposta credibilidade financeira, foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009.

Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira.

O rating, ou classificação de risco, refere-se ao mecanismo de classificação da qualidade de crédito de uma empresa, um país, um título ou uma operação financeira.

Ele busca mensurar a probabilidade de calote de obrigações financeiras, ou seja, o não-pagamento, incluindo-se atrasos e ou falta efetiva do pagamento. O rating é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião supostamente independente a respeito do risco de crédito do objeto analisado.

(Com Reuters)

Entenda o que é o ajuste fiscal do governo em um minuto