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Você sabia que inflação muito baixa pode ser tão ruim quanto a alta?

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Imagem: iStock

Sophia Camargo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/02/2016 06h00

Falar que inflação baixa é ruim pode parecer uma ironia em um país que luta para conter o avanço dos preços como o Brasil.

Mas o Japão quer aumentar sua inflação para 2% ao ano. Por que isso acontece?

O motivo é que a inflação baixa demais é um problema tão grande quanto inflação alta. E, se a inflação muito pequena vira deflação, então tudo piora.

Deflação deixa economia fraca

"A deflação é um problema ainda mais sério do que a inflação", afirma o professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV Clemens Nunes.

A deflação crônica é um período de queda contínua nos preços e expectativa de continuidade dessa queda. Se uma pessoa acha que os preços vão estar mais baixos amanhã, ela não compra hoje. O consumo se retrai, as empresas param de produzir, de contratar, começa a haver queda na produção, desemprego, o salário diminui.

Com funcionam juros negativos?

"É preciso tomar medidas muito drásticas para interromper esse processo", diz o professor.

Uma dessas medidas tomadas pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, foi remunerar a uma taxa negativa de juros o dinheiro dos bancos que fica parado no Banco Central japonês. Taxas negativas de juros têm sido adotadas por países como uma resposta à desaceleração da economia mundial.

Essa medida significa, que, na prática, o Banco Central japonês vai cobrar das instituições para guardar o dinheiro delas, visando estimulá-las a emprestarem mais dinheiro às pessoas. Na teoria, isso incentivaria o crédito e o consumo. 

Japonês poupa; brasileiro gasta

Mas a medida esbarra em uma barreira cultural: diferentemente dos brasileiros, os japoneses são um povo fortemente poupador. "Você pode levar o cavalo até à fonte, mas não pode forçá-lo a beber água", diz o professor.

"Há um problema demográfico no Japão, com muitas pessoas mais velhas, que não querem mais consumir tanto, nem precisam disso. Os mais jovens são os que consomem mais, tradicionalmente, pois precisam comprar carros, casas, sustentar os filhos."

Existe inflação ideal?

Nunes afirma que o número ideal varia de país para país, mas o consenso é que alguma inflação é necessária.

A inflação não pode ser muito elevada, para não virar uma hiperinflação, nem ficar próxima de zero, para não correr o risco de cair na deflação.

A hiperinflação ocorre quando os índices ficam acima de 50% ao mês.

As consequências negativas da inflação alta é que ela faz com que as pessoas tenham uma perda de renda real, pois o dinheiro que recebe hoje compra menos coisas amanhã.

Além disso, ela dificulta a tomada de decisão das famílias, pois todos ficam com medo de assumir compromissos e não conseguirem ter renda suficiente para pagar.

No Brasil, a meta da inflação é de 4,5% ao ano, mas com tolerância de dois pontos percentuais, podendo oscilar entre 2,5% e 6,5%. Em 2015, a inflação estourou o teto da meta e é a maior desde 2002.

O que é inflação? Entenda

TV Folha