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Corte de nota mostra que só impeachment não melhora economia, diz professor

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Imagem: iStock/TeamOktopus

Sophia Camargo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/05/2016 21h19

O Brasil acaba de sofrer mais um rebaixamento de nota, dessa vez pela agência de classificação de risco Fitch. Agora, o país está duas notas abaixo do chamado grau de investimento, ou seja, do "selo de bom pagador". Significa que o país não é bem visto como lugar para receber investimentos do exterior e há risco de calote.

O professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Eesp-FGV) Clemens Nunes afirma que o novo rebaixamento traz “uma certa sobriedade ao entusiasmo do mercado financeiro”, demonstrado desde a abertura do processo de impeachment.

Para ele, os problemas são graves e só o processo de impedimento, por si mesmo, dá um alívio, mas não é o bastante.

“Estávamos de fato caminhando rapidamente para o precipício, e essa caminhada foi desacelerada. O mercado percebeu, e o risco-país caiu, o real está se valorizando. Mas o corte (da nota) sinaliza que, do ponto de vista concreto, a situação é muito complicada. Temos problemas fiscais e estruturais que são de difícil solução.”

Para ele, o processo de impeachment cria um ambiente "em que se acredita que se pode sair facilmente dos problemas que temos que resolver. Mas esse [eventual] governo Temer não teria capacidade para resolver. Ele é capaz de fazer uma transição. Mas só um novo governo seria capaz de resolver definitivamente."

O principal problema, segundo o professor, é o aumento da relação dívida pública/PIB. “Se continuar como está, deve chegar a 80% em 2017”, diz.

“Atualmente, segundo dados do FMI, a relação dívida pública/PIB no Brasil é de 66,23%. O problema é que a dívida pública aumenta quanto mais forem as taxas de juros e menor o crescimento do país”, afirma.

Calote x hiperinflação

Para o professor, uma dívida pública dessa magnitude pode acabar tornando a dívida impagável. Para solucionar o problema, as alternativas seriam drásticas: ou o país decreta calote ou emite moeda para pagar a dívida, causando hiperinflação.

Como a dívida pública é doméstica, e os maiores credores do governo são os bancos, se for decretado calote, os bancos também não terão dinheiro para pagar ninguém. A alternativa não é melhor: imprimir moeda para pagar a conta significa aumentar a inflação.

E como consertar a situação?

Para o professor, a única maneira de consertar a situação será o governo fazer seus gastos se adequarem às receitas.  “Isso significa fazer escolhas difíceis do ponto de vista da sociedade.”

“Ou aumenta a receita, o que significa aumento de impostos, algo que a sociedade já demonstrou que não aceita mais, ou terá de cortar as despesas. Dificilmente haverá um consenso em relação ao que deve ser feito, pois ninguém quer que corte o seu gasto, só o do outro.”

Juros, inflação, desemprego e PIB

O professor afirma que a inflação está dando sinais de queda e deve terminar o ano por volta de 7%, medida pelo IPCA.

Isso traria algum alívio ao governo, que poderia diminuir a taxa de juros básica da economia, a Selic, para até 13,5% ao fim do ano, acredita.

Essa melhora não deve se refletir no PIB e desemprego, porém.

Ele afirma que o país deve ter PIB negativo em 2016, de -3,8%.

E a taxa de desemprego deve continuar alta, terminando o ano em 12% da Pnad. 

"O emprego é o último que se recupera. É preciso que primeiro caia a inflação, para depois haver corte de juros e o PIB começar a subir. Prevejo uma piora do desemprego até meados de 2017."

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