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Empresas buscam 'carne verde', para não maltratar boi nem desmatar Amazônia

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Imagem: Shutterstock

Thâmara Kaoru

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/10/2016 06h00Atualizada em 07/04/2017 19h15

A carne produzida no Pantanal ou na Amazônia não precisa ser, necessariamente, um problema ambiental. Nessas áreas, começa a ganhar espaço a produção da chamada "carne verde" ou sustentável, agora com o apoio de grandes redes, como Carrefour, Walmart e McDonald's.

O McDonald's, por exemplo, anunciou que vai comprar carne proveniente da pecuária sustentável da floresta Amazônica. O Grupo Carrefour Brasil lançou um sistema para monitorar se seus fornecedores de carne bovina cumprem critérios de sustentabilidade. O Walmart, por sua vez, começou a vender em 20 lojas de Brasília e São Paulo a carne sustentável Rebanho Xingu, produzida em São Felix do Xingu, no Pará.

O que é a carne verde?

A "carne verde" vem de bois e vacas criados de uma forma diferente do convencional, que envolve proteção ao ambiente e preocupação com o bem-estar do animal, desde o nascimento do novilho até o abate. Em geral, os animais ficam soltos e se alimentam em áreas de pastagens nativas. Na pecuária convencional, os animais ficam confinados e se alimentam a base de grãos.

Para ser considerada sustentável, a produção precisa seguir três critérios. segundo a pesquisadora da Embrapa Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Sandra Santos:

  • ambiental: garantia de que não haverá mais desmatamentos e que as áreas já devastadas serão reaproveitadas e recuperadas, como na Amazônia e Pantanal;
  • social: apresentar oportunidades aos pecuaristas da região, dos pequenos aos grandes;
  • econômico: dar a esses produtores a opção de melhorar seu negócio e aumentar sua renda; em vez de precisarem investir e ter novas áreas para produzir mais, eles podem reaproveitar o terreno que já possuem; também conseguem abater o animal em menos tempo.

Muda o sabor?

bife - Telmo Ximenes - Telmo Ximenes
Imagem: Telmo Ximenes

Com forte presença no mercado de frangos orgânicos, a empresa Korin é uma das que produzem e vendem carne bovina sustentável. A carne usada é das fêmeas, as vacas, e a alimentação dos animais vem de pastos nativos do Pantanal, sem agrotóxicos ou adição de ureia para acelerar a engorda, diz o diretor-superintendente da companhia, Reginaldo Morikawa.

Segundo ele, isso muda o sabor da carne: a carne sustentável tem um paladar de caça e um sangue mais leve. Na carne tradicional predomina o gosto de milho, e a maciez é prejudicada, diz o executivo.

Preço é mais alto?

Essa preocupação puxa o preço para cima, sim, segundo Morikawa, da Korin. Quando se compara a carnes vendidas nos supermercados sem ter a marca especificada, a diferença no preço chega a 90%, afirma. Comparada a cortes selecionados, de marcas consideradas premium, o produto é cerca de 30% mais caro.

Carne da marca Korin - Divulgação - Divulgação
Além de frangos orgânicos, empresa Korin vende carne bovina sustentável
Imagem: Divulgação

No caso do Walmart, a ideia é que a carne sustentável custe o mesmo que a convencional, diz o diretor de Sustentabilidade, Luiz Herrisson. "Se o produto for mais caro, vai ser difícil ter aceitação e boas vendas, principalmente em um momento de crise econômica. Tem que custar o mesmo que o outro, ser competitivo."

Para Leonardo Lima, diretor de sustentabilidade da Arcos Dorados, que administra o McDonald's, não haverá repasses ao consumidor pelo uso da pecuária sustentável. "Não estamos prevendo gastos maiores e não pretendemos repassar ao consumidor."

McDonald's: 'tendência de mercado'

O McDonald’s anunciou que vai comprar, por ano, 250 toneladas de carne proveniente da pecuária sustentável da floresta Amazônica.

O primeiro lote será do município de Alta Floresta, no norte do Mato Grosso. Nesse processo, o animal precisa ser bem tratado e as áreas de produção só podem ter sido devastadas antes de 2008. Quem monitora é o ICV (Instituto Centro de Vida). A JBS faz a compra e o processamento da carne para o McDonald's.

O investimento ainda é pequeno se comparado às 30 mil toneladas de carne compradas anualmente pela rede. Segundo o diretor de Sustentabilidade, a rede de fast food pensa em expansão, mas ainda não é possível prever quando isso acontecerá, pois depende da adesão de novos produtores. "É uma tendência do mercado como um todo. É uma prática de agora para refletir no futuro."

Francisco Beduschi Neto, coordenador Iniciativa de Pecuária Sustentável do ICV, diz que existe mercado no Brasil e no exterior para a carne verificada. "Ao produzir uma solução dessa, é possível melhorar a renda do produtor, que não precisará desmatar mais para aumentar sua produção, conservar o meio ambiente e atender às demandas do mercado", diz.

Walmart: monitoramento via satélite

Carne Rebanho Xingu, da Marfrig, vendida no Walmart - Divulgação - Divulgação
Carne sustentável produzida em São Felix do Xingu (PA) é vendida em lojas do Walmart
Imagem: Divulgação

A carne sustentável vendida em algumas lojas do Walmart é produzida no Pará pela Marfrig, em parceira com a ONG "The Nature Conservancy".

Com o uso de satélites, o Walmart diz que consegue monitorar 100% da produção para evitar desmatamento, uso de terras indígenas ou áreas de conservação e emprego de trabalho escravo, além de garantir o bem-estar animal e trabalho para os pequenos produtores, segundo o diretor de Sustentabilidade da rede. A expectativa, afirma, é que o monitoramento seja estendido para outras regiões do país até o final de 2017.

Carrefour: fiscalização dos fornecedores

O Grupo Carrefour Brasil também lançou um sistema de monitoramento em parceria com os 22 fornecedores de carne bovina. A ideia é usar os dados para checar se as fazendas têm alguma prática de produção que envolva áreas de desmatamento ou embargadas, unidades de conservação, terras indígenas ou mesmo uso de trabalho escravo.