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Fizeram colmeia com torneira para não esmagar abelhas e arrecadaram milhões

Colaboração para o UOL, em Curitiba

08/02/2018 04h00

Eles não queriam machucar ou esmagar as abelhas ao recolher o mel produzido por elas. Acabaram inventando uma colmeia com torneira que retira o produto de um modo mais fácil e sem agredir os insetos. Além disso, viraram um caso de sucesso mundial de "crowdfunding" (vaquinha virtual), arrecadando milhões de dólares para o negócio.

Em fevereiro de 2015, os australianos Stuart e Cedar Anderson (pai e filho), proprietários da startup Flow, criaram uma campanha de crowdfunding para arrecadar US$ 70 mil (R$ 226 mil). Para surpresa dos dois, a quantia foi alcançada em cinco minutos.

Até o encerramento da campanha, em abril do mesmo ano, a empresa arrecadou US$ 13,3 milhões (R$ 43 milhões) -ou 190 vezes o esperado. O case é considerado um dos mais bem-sucedidas do mundo.

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"Mundo está preocupado com morte das abelhas"

Para Stuart, que conversou com a reportagem do UOL por Skype, o resultado se deve a dois fatores. “Além de termos nos preparado para usar o crowdfunding, procurando entender bem como funciona, fizemos isso no momento em que o mundo está preocupado com a morte das abelhas”, conta.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a população de abelhas está morrendo drasticamente, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. O fenômeno é conhecido como “desordem de colapso das colônias”. Perda do habitat, uso de agrotóxicos e más práticas agrícolas seriam os principais fatores.

Tirar mel sempre foi o hobby da família Anderson. O fato de as abelhas ficarem machucadas ou esmagadas durante a extração foi o motivo para criarem um novo tipo de colmeia. Ele e o filho levaram dez anos para desenvolver o projeto.

Alavanca gira e libera o mel pela torneira

A colmeia é feita de araucária e cedro. Elas têm uma alavanca que, ao ser girada, libera o mel por meio da torneira conectada à estrutura. São três tipos, com tamanhos diferentes, que custam de US$ 499 (R$ 1.611) a US$ 699 (R$ 2.227).

A start-up também comercializa partes separadas da colmeia, a exemplo de ninhos para criar abelhas. Os preços variam de US$ 40 (R$ 129) a US$ 469 (R$ 1.514). Também vende roupas e kits para apicultores. Os produtos custam de US$ 15 (R$ 48) a US$ 150 (R$ 484).

Empresa tem 6 centros de distribuição no mundo

Desde 2015, a empresa vendeu 50 mil produtos para 130 países, incluindo o Brasil. O frete para cá, no entanto, é caro: US$ 340 (R$ 1.097).

Stuart diz que está buscando uma forma de diminuir o preço do envio. A empresa tem seis centros de distribuição em diversos países. O mais perto do Brasil fica nos Estados Unidos.

Hoje, a start-up conta com 35 funcionários em três fábricas – duas localizadas em Brisbane e uma em Portland (ambas as cidades na Austrália). Stuart não revelou faturamento ou lucro, mas afirma que a empresa “vêm crescendo de forma saudável, levando em consideração que somos uma empresa nova”.

Pedidos têm de ser atendidos para não afetar imagem

Para Erlon Labatut de Oliveira, professor do Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul, da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), a empresa conseguiu tirar todo proveito do crowdfunding. “Ter receita e venda antes de produzir é a grande sacada dessa ferramenta, e a empresa foi certeira”, relata.

Ele diz, no entanto, que start-ups que usam o método devem ficar atentas à repercussão. “No caso de a campanha ser bem-sucedida, a empresa tem que estar preparada para o grande volume de pedidos. Caso não consiga atender, isso pode manchar a imagem”, afirma.

Negócios de impacto ambiental chamam atenção

A publicitária Lívia Hollerbach é cofundadora da Pipe Social, grupo que trabalha com o desenvolvimento de negócios de impacto ambiental e social. De acordo com ela, a Flow conseguiu colocar várias demandas atuais em um mesmo produto, e isso atraiu os consumidores. “Eles criaram um item que colabora para acabar com a extinção das abelhas e está conectado com uma cadeia de negócios mais sustentável”, diz.

Para Livia, o mercado de negócios de impacto já está estabelecido no mundo e tende a crescer ainda mais em países emergentes, como o Brasil. Por aqui, no entanto, ainda existem três grandes desafios. “Encontrar um meio de buscar mais facilmente capital inicial para os projetos, explorar melhor o que a tecnologia oferece e desenvolver ferramentas que mensurem o impacto do trabalho desenvolvido”, fala.

Onde encontrar:

Flow - www.honeyflow.com/

(Reportagem: Lucas Gabriel Marins; edição: Armando Pereira Filho)