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Guardia trabalhou com PSDB, foi elogiado por Palocci e fez privatizações

Divulgação/Ministério da Fazenda
Imagem: Divulgação/Ministério da Fazenda

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

06/04/2018 15h28

Eduardo Guardia, apontado como novo ministro da Fazenda no lugar de Henrique Meirelles, exerce a função de secretário-executivo do ministério do governo de Michel Temer (MDB) desde junho de 2016. Ela já ocupou diversos cargos na administração pública ao longo de sua carreira. Os principais postos anteriores foram em gestões do PSDB. 

Seu trabalho nos governos foi marcado pela participação em processos de privatização de estatais, principalmente do banco Banespa, de São Paulo, e em acordos para a tomada de empréstimos com o FMI (Fundo Monetário Internacional), ambos os eventos no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Mais tarde, chegou a ser elogiado pelo futuro ministro da Fazenda do governo Lula, o petista Antônio Palocci. Na primeira gestão de Geraldo Alckmin (2003-2006), Guardia atuou como secretário da Fazenda do estado de São Paulo em uma época de guerra fiscal entre os estados.

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Linha dura e homem do "não"

De perfil técnico, Guardia enfrentava resistência do Congresso por ser considerado linha-dura e sem jogo de cintura política. Participou das negociações para a aprovação do Refis (programa de refinanciamento de dívidas tributárias de empresas) no ano passado e, por tentar evitar condições excessivamente favoráveis aos devedores, foi visto como o homem que diz “não”.

Também teve papel significativo no socorro para os estados em dificuldade financeira e foi decisivo para barrar uma ajuda de R$ 600 milhões para o Rio Grande do Norte.

No posto mais importante da equipe econômica, Guardia terá pela frente a definição da meta de rombo nas contas públicas em 2019, as privatizações, principalmente da Eletrobras, a reforma tributária e o desafio de solucionar o problema da quebra da ‘regra de ouro’, como é chamada a regra orçamentária que proíbe o uso de recursos de empréstimos para bancar despesas do dia a dia.

Privatização do Banespa

Formado em economia pela PUC-SP, com mestrado pela Unicamp e doutorado pela USP, Guardia ocupou cargos no governo do estado de São Paulo nas gestões de Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1994), do MDB, e do tucano Mário Covas (1995-2001).

Chegou ao ministério da Fazenda em 1998, no final do primeiro mandato de FHC. Como secretário-adjunto de Política Econômica da pasta e, depois, secretário-adjunto do Tesouro, atuou no longo processo de privatização do banco Banespa. Em grave crise, o banco estatal paulista havia passado para as mãos da União e, após diversas batalhas judiciais, foi vendido para o espanhol Santander em 2000.

Na época, FHC, que já havia privatizado estatais como a Vale e a Telebrás, também tentou vender outras, como as distribuidoras de energia Eletronorte, Furnas e Chesf, da Eletrobras, medida defendida publicamente por Guardia para reduzir a dívida pública do governo. A tentativa fracassou, mas ressurgiu no governo Temer, que planeja privatizar a Eletrobras.

Acordos com o FMI

Ainda na gestão FHC, Guardia participou das negociações para o Brasil receber empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional), integrando a delegação brasileira que se sentava à mesa para as conversas com o órgão, ao lado do então diretor e hoje presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Quando o último acordo foi negociado, em 2002, Guardia já havia sido promovido a secretário do Tesouro Nacional.

Críticos diziam que os empréstimos submetiam o país às interferências do FMI na política econômica. Para eles, as medidas de corte de gastos exigidas pelo órgão freavam o crescimento e geravam desemprego.

Palocci: "Competente e preparado"

Já de saída do governo, em 2002, por ocasião da eleição do novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, Guardia foi elogiado pelo indicado para ministro da Fazenda petista, Antônio Palocci, que o descreveu como “uma pessoa de muita competência e preparado para o cargo que exerce”.

Apesar das credenciais dadas por Palocci e de rumores de que seria convidado a permanecer no cargo, acabou substituído por Joaquim Levy que, anos mais tarde, em 2015, seria ministro da Fazenda da ex-presidente Dilma Rousseff.

Logo foi convidado para fazer parte da equipe do recém-eleito governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em São Paulo, junto com outros nomes saídos do governo federal. Questionado na ocasião sobre os convites, vistos como guarida do governador aos “desempregados de FHC”, Alckmin negou e afirmou que se tratava de pessoas qualificadas. “É gente top”, disse.

Guerra fiscal entre estados

Guardia comandou a secretaria da Fazenda do estado entre 2003 e 2006, tendo atuado no período em que foi travada uma guerra fiscal entre os estados. Em 2005, por exemplo, o governo paulista reduziu o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado de diversos produtos, do pão francês à energia elétrica, para atrair empresas. Outros estados também adotavam esse tipo de política fiscal, e o então secretário afirmou, na época, que as reduções em SP eram “medidas defensivas”.

Empresas privadas e Bolsa 

Deixou o governo paulista em 2006 para trabalhar na iniciativa privada, primeiro como diretor financeiro e de relações com investidores na GP, empresa de investimentos criada no início dos anos 90 por Jorge Paulo Lemann, fundador da AmBev e hoje a pessoa mais rica do Brasil. Quando Guardia chegou à GP, porém, Lemann já não controlava a companhia. Depois, em 2007, o novo ministro da Fazenda se tornou sócio da consultoria Pragma Gestão de Patrimônio.

Em 2010, foi para a B3, a Bolsa de Valores brasileira, (antiga BMF&Bovespa). Lá, Guardia ocupou os cargos de diretor financeiro, corporativo e de relações com investidores e de diretor-executivo de produtos e manteve contato com o ex-presidente do Banco Central de FHC Armínio Fraga, que foi presidente do conselho de administração da Bolsa. Guardia saiu em junho de 2016, ao aceitar o convite do presidente Temer para ser secretário de Política Econômica.