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Pão francês, remédios, gasolina: saiba como a alta do dólar afeta seu bolso

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

17/05/2018 04h00

Quem costuma viajar para o exterior ou comprar produtos importados já sabe: quando o dólar sobe, como vem acontecendo, o gasto com essas despesas sobe junto.

Mas quem pretende ficar no Brasil e abrir mão de importados como azeite, bacalhau e vinho não está livre dos efeitos da alta do dólar. Ele pode deixar mais caros vários produtos usados pelo brasileiro no dia a dia, do pãozinho francês aos remédios. 

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O dólar comercial começou o ano valendo R$ 3,314, subiu mais de 10% desde então e nesta quarta-feira (16) fechou vendido a R$ 3,678, maior valor em mais de dois anos.

Pão pode ficar 20% mais caro e macarrão, 12%

Um dos principais efeitos dessa disparada do dólar é o aumento no preço do trigo, usado na produção de pão francês, pão de forma, bolos, biscoitos, macarrão e outros alimentos fabricados com farinha de trigo.

O Brasil consome 10 milhões de toneladas de trigo por ano, de acordo com Cláudio Zanão, presidente-executivo da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados). Metade desse trigo é produzida aqui e a outra metade é importada, principalmente da Argentina.

Como o trigo é considerado uma commodity (matéria-prima), sua cotação é definida no mercado internacional, em dólar. Se o dólar sobe, o preço do trigo também sobe, o que encarece a sua importação.

Além disso, a safra argentina foi prejudicada por uma forte seca no começo do ano, o que diminuiu a oferta e aumentou o preço da matéria-prima vinda do país vizinho em mais de 50% nos últimos três meses.

Para suprir sua necessidade, o Brasil acionou outros dois fornecedores: Estados Unidos e Canadá. O problema é que, além de o transporte desses países para cá ser mais caro, o Brasil cobra deles tarifas de importação das quais a Argentina é isenta, por integrar o Mercosul.

Devido à convergência de fatores negativos (alta do dólar e seca na Argentina), entidades do setor negociam um acordo com o governo para tentar reduzir temporariamente o imposto de importação e segurar os preços.

Mesmo assim, Zanão estima que o preço do pão francês deve subir 20%, em média, até o fim de junho, e o macarrão, cerca de 12%. "O varejo não gosta de aumentar preço, mas o aumento do trigo já chegou a um ponto em que fica difícil não repassar para o consumidor."

Café, suco de laranja e frutas

Outros alimentos que também têm cotação no mercado internacional podem subir no Brasil devido à alta do dólar.

"Café, soja, suco de laranja e algumas frutas sempre serão influenciados pela taxa de câmbio", diz Diego Humberto de Oliveira, técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Não é possível cravar que haverá aumento, porém, porque outros fatores também afetam o preço. "Para o café, por exemplo, existe a expectativa de uma safra boa, o que pode compensar o dólar alto."

Há alimentos que não são cotados em dólar, mas que também podem ficar mais caros. Muitas matérias-primas usadas em produtos necessários à agricultura brasileira são importadas --é o caso dos fertilizantes.

Produto de limpeza, creme e desodorante

A importação de artigos químicos também é fundamental para fabricar produtos de limpeza, higiene pessoal e beleza, como cremes e desodorantes, de acordo com Thiago Berka, economista da Apas (Associação Paulista de Supermercados).

"Historicamente, com a cotação do dólar a partir de R$ 3,60, os supermercados já não conseguem reduzir suas margens de lucro para segurar os preços e acabam repassando o aumento ao consumidor", diz.

Segundo ele, para a alta do dólar chegar às prateleiras dos supermercados, seja nas etiquetas de alimentos ou de produtos de limpeza e higiene, o dólar precisa ficar pelo menos 15 dias no patamar acima de R$ 3,60. Antes desse prazo, as lojas ainda têm estoques para vender, comprados quando o dólar estava mais baixo.

Remédios podem encarecer

A disparada do dólar também pode afetar os preços nas farmácias, de acordo com Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

"Boa parte dos medicamentos é importada ou produzida aqui com componentes vindos de fora", diz. "A transmissão da alta do dólar para o preço final vai depender de fatores como o volume de produtos que as farmácias já têm estocado."

Gasolina deve subir ainda mais

Dietze também destaca os preços dos combustíveis derivados do petróleo, como a gasolina e o diesel. Esses preços já estão em alta devido ao aumento da cotação do petróleo no mercado internacional. Além disso, por terem seus preços definidos em dólar, são afetados pela valorização da moeda.

"A gasolina deve continuar subindo e isso impacta toda a cadeia produtiva porque, no Brasil, o transporte é principalmente terrestre", afirma.

Eletrônicos e eletrodomésticos

O avanço da moeda norte-americana pode encarecer, ainda, produtos eletrônicos e eletrodomésticos, como geladeira, fogão e televisão. Muitos dos componentes usados na fabricação desses itens são importados.