Etanol tem melhor vantagem em três anos, mas só compensa em cinco estados
Com petróleo mais caro, de um lado, e safra boa de cana-de-açúcar, de outro, a vantagem de abastecer o carro com etanol em vez da gasolina cresceu e é a maior em três anos: desde 2015 o litro do álcool não ficava tão barato em relação ao da gasolina. A expectativa é que a troca continue compensando até por volta de setembro, quando se encerra o período de safra.
Mas, como as usinas de açúcar e álcool estão concentradas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, abastecer com etanol é uma opção que só está compensando em cinco estados, considerados os preços médios das últimas semanas: São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Em todos os demais e no Distrito Federal, a gasolina ainda sai mais em conta.
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Etanol vale a pena quando custa até 70% da gasolina
Há uma conta simples para saber, na bomba, se o etanol está compensando mais do que a gasolina: a convenção é que o preço do álcool deve ser de até 70% o da gasolina, quer dizer, deve ser pelo menos 30% mais barato, já que o litro dele é menos eficiente e rende menos quilômetros. Para isso, basta multiplicar o preço do litro da gasolina por 0,7: se o litro do etanol estiver abaixo do resultado da conta, é mais vantajoso; se estiver acima, não compensa.
Atualmente, o preço médio do litro da gasolina no país está em R$ 4,50, segundo levantamento semanal feito pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que acompanha os preços praticados em mais de 5.000 postos do país. Isso significa que, para o etanol valer a pena, ele teria que custar menos do que R$ 3,15 por litro (R$ 4,50 x 0,70).
Na média nacional, o litro do etanol está custando R$ 2,88, segundo a ANP. É 64% do preço da gasolina, ou um desconto de 36% em relação a ela. Todo ano, entre maio e setembro, aproximadamente, o etanol tende a ganhar uma ligeira vantagem em relação à gasolina e a compensar nos estados onde é mais forte, acompanhando os meses de safra. Desde 2015, porém, essa diferença não era tão grande.
Para se ter uma ideia, no ano passado, o melhor momento para o álcool foi na semana de 23 de setembro, quando o litro do etanol (R$ 2,63) ficou 32,4% mais barato que o da gasolina (R$ 3,89). Em 2015, esse desconto chegou a 37,5%, na semana de 8 de agosto (com etanol a R$ 2,06 e a gasolina a R$ 3,30). Veja a evolução no gráfico abaixo:
Álcool vai continuar vantajoso?
É difícil prever o comportamento futuro dos preços, mas o etanol tende a ter ainda alguns meses de folga pela frente. "Estamos justamente na época da safra da cana, que iniciou em maio e vai até setembro e costuma ser favorável ao consumo de etanol", disse Moacir Yabuki, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), entidade que acompanha a evolução dos preços em São Paulo.
A pesquisadora especializada em etanol Ivelise Rasera, do Cepea, centro de estudos econômicos da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo), afirmou que há uma conjunção de fatores a favor do álcool.
"Boa parte da perda competitiva da gasolina tem a ver com os reajustes que a Petrobras tem feito e que acompanham o preço do petróleo no exterior, que está alto em relação aos outros anos", disse Ivelise.
Desde 10 de abril, a Petrobras já aumentou em 21,8% o preço da gasolina vendida em suas refinarias --o preço médio atual do litro vendido pela petroleira é R$ 2,03. Desde o ano passado, a Petrobras faz ajustes quase diários no preço de seus combustíveis acompanhando tanto a cotação do dólar quanto do barril de petróleo no mercado internacional, e os dois dispararam.
O dólar acumula alta de 17% em 2018, enquanto o petróleo, atualmente na casa dos US$ 77, chegou a US$ 44 no ano passado e, em 2016, caiu abaixo dos US$ 30. Desde 2014 os preços do barril não eram tão altos.
Há expectativas no mercado de que a cotação do petróleo não deve mais ultrapassar esse limite daqui em diante e que pode até ceder um pouco, o que significa um alívio, na ponta, também no preço de seus derivados, como a gasolina. Mas o consenso é que essa redução não será muito forte.
O álcool, por sua vez, desfruta safra e produção abundantes no país, o que ajuda a baixar os preços. "Neste ano, o clima está favorável, com poucas chuvas, fazendo com que os volumes de produção sejam recordes", disse Ivelise.
Segunda a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o total de cana moída na safra deste ano, até 15 de junho, já era 17% maior que no mesmo período no ano passado, e as vendas de etanol pelas usinas, apenas na primeira quinzena de junho, cresceram 48% em relação às mesmas semanas em 2017 e somaram 1,4 bilhão de litros, volume recorde para o setor.
Etanol só vale a pena em estados produtores
Apesar de, na média nacional, o preço do etanol estar compensando em relação ao da gasolina, a opção por abastecer com álcool, na prática, só está compensando em um grupo muito pequeno de estados, concentrados nas regiões onde ficam as usinas e as plantações de cana. A diferença acontece porque, pela metodologia da ANP, São Paulo tem um peso de mais de 40% na média final e acaba distorcendo o valor.
No estado paulista, o litro do etanol (R$ 2,70) está representando 63,2% do da gasolina (R$ 4,27), o que dá a vantagem para o biocombustível. O local onde, atualmente, mais está valendo trocar a gasolina pelo etanol é o Mato Grosso, com uma proporção de 57,7% entre o preço dos dois combustíveis. É seguido por Goiás (60,8%), São Paulo (63,2%), Minas Gerais (63,4%) e Paraná (67,7%).
Rio Grande do Sul (86,6%) e Roraima (89,6%) são os estados onde abastecer com etanol dará os maiores prejuízos.
"Dificilmente o etanol vale a pena no Norte ou no Nordeste, em qualquer momento do ano", disse Ivelise, da Esalq. "As usinas de etanol estão concentradas no centro-sul do país. As distâncias para os outros estados são muito grandes, e o frete acaba encarecendo o preço final."
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