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Mundo endividado e emergentes em apuros: de onde pode vir a próxima crise?

Getty Images
Imagem: Getty Images

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

15/09/2018 04h00

A próxima crise mundial pode estar perto de acontecer, de acordo com alguns economistas.

"Crises financeiras internacionais tendem a ocorrer a cada dez anos. Elas se alternam, ora em países desenvolvidos ora em emergentes, e a crise de 2008 foi dos mercados desenvolvidos", afirmou Tamim Bayoumi, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) e autor de um livro recém-lançado sobre a crise, “Unfinished Business” (Negócios Inacabados, em tradução livre).

Algumas nações emergentes, como a Argentina e a Turquia, já estão enfrentando problemas. Bastante dependentes de capital estrangeiro, essas economias sofrem porque, diante da perspectiva de aumento dos juros nos EUA e em nações europeias, investidores estão preferindo colocar seu dinheiro lá.

Esse movimento tem levado as moedas de países emergentes a despencar. Para tentar estancar a sangria, oferecendo um retorno maior aos investidores que deixarem seu dinheiro por lá, os bancos centrais estão subindo sucessivamente as taxas de juros. Na Argentina, a taxa já chega a 60% ao ano

Ainda que em menor escala, esse efeito também é sentido no Brasil, afetando a cotação do real. Só neste ano, a moeda já se desvalorizou mais de 25% em relação ao dólar.

Por aqui, porém, questões internas também têm forte impacto no mercado de câmbio. Turbulenta, a campanha eleitoral deste ano gera incertezas sobre o futuro político do país e deixa investidores cautelosos. 

Crise na China abalaria o mundo

De toda forma, uma crise nos emergentes seria grave, mas não levaria a uma crise como a de 2008, segundo Fernando Botelho, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo).

“A China, pelo tamanho da sua economia, preocupa mais. O endividamento de famílias e do setor privado tem crescido muito por lá, e, se as empresas quebrarem, pode ocorrer uma crise bancária”, afirmou. O economista disse acreditar, porém, que o governo tem reservas e poupança muito altas, suficientes para socorrer setores que eventualmente entrem em colapso.

A situação do país asiático também preocupa porque a expectativa é de desaceleração da sua economia, agravada pela guerra comercial com os Estados Unidos. Crescendo menos, a tendência é que a China reduza as suas importações, em um cenário ruim para países exportadores de matérias-primas, como o Brasil. 

Mundo está mais endividado que há dez anos

Esteja o estopim na China ou em outro país, o certo é que a próxima crise estará ligada à dívida, segundo análise de Bayoumi. "Todas as crises são baseadas em endividamento, seja do setor privado, como os bancos na crise de 2008, seja do setor público. A dívida se move para lá e para cá, indo a diferentes partes do mundo”, declarou.

Jean-Claude Trichet, ex-presidente do Banco Central Europeu, disse que o endividamento excessivo tornou o sistema financeiro mundial tão vulnerável quanto em 2008.

"O nível de débito excessivo nas economias avançadas foi um fator-chave no gatilho da crise financeira global em 2007 e 2008. O crescimento no débito nos países avançados se desacelerou, mas essa desaceleração foi contrabalançada por uma aceleração do débito nos países emergentes", disse à agência AFP.

De fato, o mundo está mais endividado hoje do que há dez anos. Enquanto em 2008 a dívida total do mundo, considerando famílias, empresas e governos, era de US$ 178 trilhões, ou 291% do PIB global, hoje ela chega a US$ 249 trilhões, ou 318% do PIB global, de acordo com o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês).