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Brasileiro leva 1 hora para produzir o que americano faz em 15 minutos

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/03/2019 04h00

O trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um norte-americano consegue realizar em 15 minutos e um alemão ou coreano em 20 minutos. Isso significa que a produtividade do Brasil é baixa, mas não quer dizer que o brasileiro seja preguiçoso ou inapto. Há atrasos na formação e na infraestrutura das empresas, o que afeta os resultados, dizem especialistas.

Em termos de riqueza, o Brasil produz em uma hora o equivalente a US$ 16,75, valor que corresponde apenas a 25% do que é produzido nos EUA (US$ 67). Comparado a outros países, como Noruega (US$ 75), Luxemburgo (US$ 73) e Suíça (US$ 70), o desempenho do país é ainda pior. As informações são do professor José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP.

Estes dados equivalem à relação entre o total produzido na economia (PIB) e o número total de horas trabalhadas, metodologia mais comum para medir a produtividade de um país, de acordo Pastore.

Precisa melhorar educação e equipamentos

"A produtividade média do brasileiro é de apenas um quarto da do trabalhador americano e de um terço da do alemão ou do coreano. Perdemos muito mercado [lá fora] porque a baixa produtividade dá como resultado baixa competitividade", disse Pastore.

Isso não quer dizer que o brasileiro seja um trabalhador pior do que os outros. É preciso melhorar as condições, como educação dos funcionários e equipamentos nas empresas.

Renan Pieri, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirmou que, além das correções estruturais necessárias para melhorar a produtividade, o Brasil precisa trilhar dois caminhos:

  • Melhorar a educação em todos os níveis (inclusive técnico) com investimentos
  • Investir na modernização do capital físico (máquinas e equipamentos das empresas)

Educação voltada às empresas

"Esses dois aspectos têm a ver com o Estado, que precisa gerar um ambiente econômico que permita, por sua vez, o aumento dos investimentos, tanto público como privado", declarou Pieri. Na opinião dele, o trabalhador precisa chegar às empresas com conhecimento consolidado, e não "tão sem base" como chega hoje.

"Precisamos de um programa que aproxime a demanda das empresas da oferta das escolas, sejam do ensino superior, do ensino médio ou do ensino técnico."

Segundo Pastore, a eficiência do trabalho no Brasil está praticamente estagnada desde a década de 1980, salvo raras exceções. "Estamos parados, enquanto outros países estão melhorando. A distância tem aumentado."

Por que o Brasil está abaixo de outros países?

Pieri disse que o acesso a certos recursos no Brasil, como capitais humano, físico e financeiro, entre outros, é insuficiente e desfavorável se comparado ao de outros países. Entre os fatores que conspiram contra a produtividade, ele enumera:

  • Baixa qualificação e capacidade dos trabalhadores (capital humano)
  • Tecnologia atrasada e mal administrada nas empresas (capital físico)
  • Investimento caro e abaixo do necessário (capital financeiro)
  • Infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos insuficientes e sucateados)
  • Burocracia complicada
  • Ambiente de negócios perverso

"Melhoramos nossa escolaridade média nos últimos 25 anos, mas foi insuficiente para aumentar a qualidade do capital humano e, assim, atender às necessidades das empresas", disse o professor da FGV.

Para Pastore, o alastramento do trabalho informal também agrava o quadro de baixa produtividade no país. "Afinal, temos cerca de 40 milhões de pessoas nessa situação hoje. Isso significa que não é apenas o trabalhador que tem baixa qualidade, é o seu emprego que é de baixa qualidade", afirmou.

Setores nos quais a eficiência melhorou

  • Agricultura (devido à incorporação maciça de inovações tecnológicas)
  • Financeiro (devido ao salto dado com base às tecnologias do mundo digital)
  • Indústria automotiva e Embraer (devido à robotização e racionalização do trabalho)

Uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgada na semana passada mostra que a produtividade do trabalho na indústria de transformação no ano passado aumentou 0,9%, em relação a 2017, quando já havia crescido 4,5%, em comparação a 2016. Trata-se do quarto ano consecutivo de crescimento do indicador, mas ainda insuficiente para ganhar competitividade.

O setor industrial brasileiro ainda é 23% mais caro que o norte-americano, segundo estudos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) citados pelo professor Pastore.

Renda per capita dobraria com melhor produtividade

Um relatório do Banco Mundial sobre produtividade, lançado em 2018, aponta que a renda per capita brasileira é aproximadamente 20% da renda per capita dos EUA. Se o Brasil tivesse a mesma produtividade que a norte-americana, a renda do país seria mais de 50% da dos EUA, mesmo sem investimento adicional em máquinas ou capital humano. Ou seja, a renda per capita atual mais do que dobraria somente com melhorais na produtividade.

Jorge Arbache, economista e estudioso do assunto, mostrou que em 1980 a produtividade do trabalhador brasileiro era 670% maior do que a do trabalhador chinês e 70% menor do que a americana.

Em 2013, o Brasil perdia nos dois casos: a do trabalhador brasileiro era 80% inferior à americana e 18% menor à chinesa. No período, a eficiência dos chineses cresceu 895%. Já a dos brasileiros, meros 6%.

E os números que conspiram contra o Brasil não param por aí. Pieri afirmou que a relação PIB/trabalhador em 1994 no Brasil era de R$ 25 mil. Em 2016, já considerada a inflação no período, passou para R$ 30 mil. Isto é, em 22 anos aumentou apenas 20%. "Nesse mesmo intervalo, a relação PIB/trabalhador nos EUA cresceu 48%", disse o professor da FGV.

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