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IBGE sob ataque: veja ocasiões em que Bolsonaro e Guedes criticaram o órgão

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

04/04/2019 11h00

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro nesta semana por causa dos dados sobre desemprego no Brasil, divulgados na sexta-feira. Segundo o IBGE, o desemprego no país foi de 12,4%, em média, no trimestre encerrado em fevereiro, com 13,1 milhões de desempregados. Isso representa alta em relação ao trimestre anterior e estabilidade em relação ao ano passado, nas duas métricas.

Não é a primeira vez que o governo tece críticas ao órgão responsável pelas estatísticas oficiais do país. Tanto Bolsonaro como o ministro da Economia, Paulo Guedes, já haviam questionado o trabalho do IBGE em outras ocasiões. Veja alguns exemplos abaixo.

Bolsonaro na Record

Em entrevista à rede Record nesta semana, Bolsonaro afirmou que a taxa de desemprego do IBGE "é uma coisa que não mede a realidade" e que "parecem índices feitos para enganar a população".

Ele afirmou que quem recebe Bolsa Família ou auxílio-reclusão é tido pelo IBGE como desempregado. Essa afirmação não é verdadeira, segundo checagem da agência Lupa.

O presidente também afirmou que "Quando há uma pequena melhora na questão do emprego no Brasil, essas pessoas que não estavam procurando emprego procuram, e, quando procuram e não acham, aumenta a taxa de desemprego". A declaração foi considerada exagerada pela checagem da agência.

O IBGE afirmou que segue todas as normas internacionais de medição estabelecidas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho). "O IBGE mantém um diálogo permanente com os diversos segmentos da sociedade brasileira na busca de um aprimoramento de suas pesquisas. O Instituto está aberto a sugestões e se coloca à disposição do governo e dos cidadãos para esclarecimentos a respeito do seu trabalho", disse, em nota.

Bolsonaro no Twitter

No dia em que o IBGE divulgou sua última pesquisa de desemprego, na sexta-feira (29), o presidente usou o Twitter para afirmar que o mês de fevereiro teve maior contratação quando comparado com os meses de fevereiro de cinco anos anteriores. Novamente, fez críticas à imprensa sobre a divulgação dos dados.

Guedes em evento do próprio IBGE

No final de fevereiro, o ministro Paulo Guedes defendeu o enxugamento do questionário do Censo Demográfico de 2020, o que poderia comprometer as comparações com as pesquisas anteriores --a última edição foi publicada em 2010.

"O censo é importante, e vamos tentar avançar, e vou pedir à gestão [do IBGE] que faça um sacrifício e venda seu prédio em vez de ficar com vista para o mar. Não pode faltar dinheiro para Censo e sobrar prédio", afirmou Guedes durante a posse da nova presidente do IBGE, Susana Guerra.

Guedes recomenda que IBGE venda prédios para bancar censo

Band Notí­cias

Bolsonaro na Band

Antes de assumir o cargo, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Band, Bolsonaro disse que a pesquisa de desemprego do IBGE seria uma "farsa" porque supostamente considera empregadas as pessoas que não estão ocupadas.

"Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil, porque isso daí é uma farsa. Quem, por exemplo, recebe Bolsa Família é tido como empregado. Quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Nós temos que ter realmente uma taxa, não de desempregados, mas uma taxa de empregados no Brasil", disse Bolsonaro.

O instituto se manifestou sobre a fala do presidente eleito em nota. "A Pnad Contínua levanta informações cruciais sobre os trabalhadores do país, inclusive aqueles sem vínculo de trabalho formal. Trata-se de uma das pesquisas mais avançadas do mundo, que segue as recomendações dos organismos de cooperação internacional, em especial a Organização Internacional do Trabalho (OIT)", diz o texto.

Sobre o Bolsa-Família, o IBGE afirmou que beneficiários "são retratados especificamente por uma edição anual da Pnad Contínua, que investiga os rendimentos provenientes de todas as fontes. Em 2017, este universo abrangia cerca de 9,5 milhões de domicílios do país. Os beneficiários que vivem nestes domicílios podem encontrar-se em diferentes condições, em relação ao mercado de trabalho: alguns deles podem estar desempregados, outros trabalhando apenas para consumo próprio, outros fora da força de trabalho e outros, ainda, desalentados".

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Rafael Diez de Medina, chefe de Estatísticas e diretor do Departamento de Estatísticas da OIT, disse à época que a declaração de Bolsonaro era "perigosa", pois criticava "de uma maneira agressiva uma definição internacional". "Uma das premissas é a independência das estatísticas e autonomia com o objetivo de evitar a interferência política nessa elaboração. E isso implica seguir os padrões internacionais", disse o chefe da OIT.