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Pequenas indústrias criticam governo e falam em apagar luz e ir embora

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Sindicato das pequenas indústrias reclama que Bolsonaro não tomou medidas para baixar juros e impostos, cortar burocracia e parcelar dívidas
  • Dirigente diz que espera o melhor, mas se reformas não forem aprovadas, país "deve entrar numa recessão jamais vista nas últimas duas décadas"
  • Sem reformas, expansão do PIB das micro e pequenas indústrias neste ano pode ficar próximo de zero
  • Pesquisa do Datafolha aponta que 40% das MPIs têm menos trabalhadores do que um ano atrás

O sindicato que representa a micro e pequena indústria (MPI), responsável por 26% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial do Brasil, critica o fato de o governo Bolsonaro não ter conseguido até agora avanços que ajudariam sua atividade, como juros e impostos mais baixos, redução da burocracia e parcelamento de dívidas.

Além disso, avalia que o país corre sério risco econômico. Se as reformas da Previdência e tributária não forem aprovadas nos próximos 90 dias será "melhor apagar as luzes e ir embora do país", disse Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicado da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) e da Assimpi (Associação Nacional dos Simpi).

Ele afirmou não acreditar nesse cenário catastrófico, mas não descarta que aconteça. "Não acredito nesse cenário. Mas se o Congresso não aprovar as reformas, ou até mesmo aquele crédito suplementar de cerca de R$ 150 bilhões que o governo precisa para fechar suas contas, vamos entrar numa recessão jamais vista nas últimas duas décadas."

Reformas não são tábua de salvação, mas essenciais

Couri disse que as duas reformas, a da Previdência e a tributária, não são e não serão a tábua de salvação do futuro do país, mas hoje são mais do que essenciais para a retomada do crescimento econômico.

"A economia está ruim, está parada. Se essas reformas não forem aprovadas, a expectativa de expansão de 1,5% para o PIB de nosso setor este ano, por exemplo, irá por água abaixo. E nosso crescimento poderá ser próximo de zero", disse ele.

Governo não fez avanços, diz dirigente

Couri criticou o fato de o governo Bolsonaro não ter conseguido até agora avanços numa agenda microeconômica que permita desatar nós que estão impedindo a expansão da indústria nacional, que precisa competir em igualdade de condições com o exterior.

A exemplo de outros setores da economia, Couri citou os desafios a serem vencidos:

  • Juros mais baixos e competitivos
  • Acesso a crédito a níveis internacionais e de longo prazo
  • Redução da carga tributária (hoje em 32% do PIB)
  • Redução da burocracia
  • Segurança jurídica e regras claras
  • Fomento à produção
  • Simplificação tributária (o Brasil é um dos sete piores países para o pagamento de impostos. Na América Latina e Caribe, o país só é melhor que a Bolívia e a Venezuela, segundo o Banco Mundial)

Indústria quer parcelamento de dívidas

O presidente do Simpi e do Assimpi disse ainda que os empresários esperam que o governo aprove a proposta de parcelamento de dívidas com a União, que hoje somam R$ 2,2 trilhões, segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Quase 45% desse montante seriam irrecuperáveis.

Do total dessa dívida ativa, segundo dados divulgados ao final de março pela PGNF, 71% se referem a débitos tributários, 22% previdenciários, 6% não tributários (como multas) e 1% são referentes ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Os grandes devedores, considerados aqueles com débitos acima de R$ 15 milhões, chegam a quase 29 mil, mas representam somente 1% do total de quem deve à União. Apesar de serem em menor número, eles são responsáveis por 62% da dívida ativa com a União e com o FGTS, no valor total de R$ 1,37 trilhão.

"A proposta é para que as micro e pequenas indústrias possam pagar 0,5% de seu faturamento anual até quitar as suas dívidas. Ela já está em mãos do governo, mas até agora não recebemos nenhuma resposta, embora acredite que seja de interesse do próprio governo", afirmou Couri.

De acordo com ele, a origem dessa situação complicada para as empresas do segmento é a crise econômica que se arrasta desde 2014.

Menos empregos nas indústrias

Embora não tenha citado número de pessoas que perderam o emprego no setor nos primeiros meses deste ano, Couri declarou que uma recente pesquisa (abril) encomendada pelo Simpi ao Datafolha apontou que 40% das MPIs têm menos trabalhadores do que um ano atrás. Apenas 9% delas contrataram e 51% mantiveram a folha de pagamento igual ao início de 2018.

A pesquisa mostra ainda que a percepção dos empresários que acreditam que a crise econômica do país no momento ainda é forte, que afeta muito os negócios e não dá para prever quando a recuperação virá aumentou de 32%, em fevereiro, para 41%.

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